entrevista

Lindbergh diz que país corre risco de convulsão social em 2017

Senador teme que, mesmo com eleições diretas antes de 2018, o favorito pode ser alguém com discurso aventureiro. Para ele, Lava Jato age como se não fosse possível fazer investigações respeitando a lei

Edilson Rodrigues/ Ag. Senado

Desemprego, perda de renda do trabalhador, ajuste prejudicial aos mais pobres, crise dos municípios e dos Estados: cenário perverso que pode levar país à convulsão social, diz senador Lindbergh Farias

São Paulo – O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) entende que o Brasil corre risco de entrar em uma convulsão social, citando a crise dos municípios e dos Estados, principalmente o Rio de Janeiro, o aumento do desemprego, a perda de rendimento real do trabalhador e um ajuste que prejudica os direitos dos mais pobres.

“Em um quadro como esse, nós precisaríamos de um presidente com legitimidade, e que apresentasse um caminho oposto ao que Temer está propondo. Você propor um plano de austeridade radical como esse é um suicídio, é uma loucura”, afirmou.

Em entrevista para o Jornal GGN, ele afirma que alguns senadores estão com medo de que o governo de Michel Temer vá “desmanchar”, e diz que a delação da Odebrecht deverá atingir nomes fortes do PSDB, como Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin.

Com a perspectiva de uma convulsão social, Lindbergh teme que 2017 possa trazer uma “saída autoritária”. O Congresso, diz, não tem legitimidade para eleger um presidente pela via indireta, e afirma que existem emendas que colocam a possibilidade de eleições diretas caso o presidente da República seja afastado no terceiro ano de mandato.

Entretanto, mesmo com eleições diretas antes de 2018, ele diz que o favorito não deve ser um candidato do PT ou do PSDB, mas sim alguém com um discurso aventureiro e da anti-política, citando as eleições municipais ocorridas em outubro.

Sobre o processo que tramita no Supremo Tribunal Federal que pode impedir Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado, Lindbergh não acredita que o peemedebista será retirado do cargo. “O mandato dele acaba dia primeiro de fevereiro, tem o recesso do Judiciário, então é praticamente impossível eles conseguirem julgar nesse prazo de tempo aquela representação da Rede, que diz que quem responder por denúncia, seja presidente da Câmara ou do Senado, terá de ser afastado”, argumenta.

Sobre a votação no Senado do projeto de abuso de autoridade, marcada para hoje (6), o senador do Rio de Janeiro reafirma que não é possível debater um projeto sobre abuso de autoridade sem incluir o Poder Judiciário e o Ministério Público na lei. “A discussão deveria ser como fazer isso [a lei do abuso de autoridade] sem atrapalhar as investigações”.

“O que está parecendo na Lava Jato é o seguinte: é como se não fosse possível fazer investigações respeitando a lei, respeitando a Constituição”.

Ele cita o caso do executivo da OAS que foi condenado pelo federal juiz Sérgio Moro, ficou nove meses preso e depois foi absolvido, por unanimidade.

Lindbergh também levanta outros casos envolvendo Moro, como uma representação contra o juiz no caso Banestado, que foi para o Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o redator foi o ministro Gilmar Mendes, que repreendeu o magistrado paranaense pela interceptação telefônica de conversas entre advogados. “A mesma coisa que ele fez com Lula, com o escritório do Roberto Teixeira [advogado de defesa do ex-presidente], ele já tinha feito em 2010”, afirma.

Para o senador, o juiz federal faz “uso abusivo da prisão preventiva”, e também entra no papel de “juiz de ataque”, quando o magistrado atua de forma conjunta com o Ministério Público e a Polícia Federal.

Lindbergh defende a necessidade de um pacto pelo crescimento e pela geração de empregos. “Mas eu não vejo com quem me aliar”, afirma, ressaltando que os senadores tucanos acreditaram na tese de que, com a saída de Dilma Rousseff, a confiança dos empresários iria voltar, retomando os investimentos e o crescimento da economia.

“Como se o empresário investisse por confiança. Empresário investe quando tem gente para comprar”, diz. “Infelizmente o debate [sobre o crescimento] é muito frágil”.

O senador relembra que alertou contra o pacote de ajuste fiscal do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, dizendo que o PT deveria ter “parado aquele processo suicida”.

Por último, o senador petista falou na necessidade de pensar em outro caminho para a saída da crise, uma alternativa aos cortes nos investimentos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55.

“A gente do lado de cá [oposição] tem que apresentar propostas concretas. Com aumento de investimentos, políticas anticíclicas, redução da taxa de juros, mas também recuperar a Petrobras e a cadeia de óleo e gás”, afirma. Ele também diz que é preciso levar em conta a demanda e o consumo das famílias, que representa parte considerável do Produto Interno Bruto.

“A gente precisaria de um presidente que tivesse força para fazer a anti-PEC 55”, completa.

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