Paulo Vannuchi

Sistema de Justiça tem promovido, em vez da justiça, a execração da política

Segundo cientista político, setores do Judiciário e do MP criminalizam a política enquanto bandidos usados em delações estão livres para desfrutar os dólares e euros ganhos com a corrupção

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Delator, antes execrado, hoje é transformado em simpático e com direito de usufruir em liberdade os milhões roubados

São Paulo – Para o cientista político Paulo Vannuhci, os ex-governadores do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e Anthony Garotinho devem responder por atos ilícitos que tenham praticado. Mas os abusos e espetáculos em torno de suas prisões, na semana passada, contém graves violações ao direito à defesa e ao acesso à Justiça.

Vannuchi, que faz comentários às segundas e quartas-feiras na Rádio Brasil Atual, observou hoje (21) que setores do Ministério Público e do Judiciário têm adotado como método a parceria com meios de comunicação como forma de obter uma condenação prévia perante a opinião pública. “Porém, qualquer que seja o problema, o tipo de prática nefasta em que os dois estejam metidos, nada justifica esse processo em curso, e desembestado, de espetacularização de prisões, porque um delegado, um juiz aproveita o momento atual em que a democracia sofre danos diariamente no Brasil. E ninguém sabe onde isso vai parar, afirma.

Segundo ele, têm se tornado prática comum acusações e operações permeadas pela seletividade visando a atingir a esquerda e criminalizando a política. Os editoriais dos jornais condenam e o Judiciário acaba virando um homologador da sentença, diz. No entanto, há que se chamar a atenção para o fato de que cada vez que existe uma notícia de envolvimento de José Serra ou de Aécio Neves em irregularidades não há nenhuma repercussão.

O colunista lembra que o noticiário da Operação Lava Jato faz uma “transformação absurda” da figura do delator – que sempre foi execrada, desde o Evangelho, com Judas Iscariotes, até Joaquim Silvério dos Reis – em simpática. “Bandidos, marginais, alguns deles já estão soltos podendo passar o resto da vida usufruindo os milhões de reais, dólares e euros que eles preservaram, e todo o sistema de Justiça fingindo que realiza justiça, quando na verdade o que se pretende é realmente o dano político”, diz.

Ouça.

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