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‘Estão completamente sem bússola, batendo cabeça’, diz analista sobre crise no Planalto

Com exceção da agenda impositiva do congelamento de gastos, governo não tem propostas para superar as crises política e econômica

Beto Barata/PR

Coletiva numa tarde de domingo aponta governo sem rumo e sem controle

São Paulo – Para o cientista político Vitor Marchetti, a entrevista coletiva dada pelo presidente Michel Temer, acompanhado pelos presidentes do Senado e da Câmara na tarde de ontem (27), é sintoma da perda de controle da agenda política pelo governo. “Isso é um termômetro importante de como o governo, nesse momento, está correndo atrás de uma situação que imaginava sob controle e que parece ter sido completamente perdida. Estão completamente sem bússola, batendo cabeça.”

Em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (28), Marchetti, que também é professor de Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC (UFABC), aponta as contradições no discurso: “Você não chama uma coletiva de imprensa, no domingo, ao meio-dia, com os presidentes das duas casas para dizer à Nação que não vai aprovar uma medida que estava articulando durante a última semana… A gente teve que engolir Rodrigo Maia (presidente da Câmara) dizendo que nunca tinha discutido anistia ao caixa dois, quando foi amplamente noticiado, todas as movimentações de bastidores apontando nessa direção”.

Carecendo de legitimidade desde a origem, à exceção da agenda recessiva de ajuste econômico representada pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que congela os gastos públicos por 20 anos, o governo parece não ter uma direção, afirma o cientista político. “Estão completamente sem bússola, batendo cabeça.”

Apesar de toda a crise econômica e política, agravada com as denúncias envolvendo o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o presidente Temer, o professor prevê que os pedidos de impeachment tentados pela oposição têm pouca chance de prosperar ainda neste ano, mas aprofunda ainda mais a fragilidade do governo, que se torna refém da vontade do presidente da Câmara, que é quem decide acatar ou não o pedido de afastamento.

Ele também acredita que, apesar de todo o desgaste, a PEC 55 deve ser aprovada, pois atende aos interesses do mercado financeiro que é, segundo ele, o grupo com atuação política mais coesa nesse momento.

Já para o ano que vem, o professor vê mais chances de que o governo sofra interrupção, o que culminaria com uma eleição indireta para presidente. Para isso, ele aponta a necessidade dos setores populares superarem a fragmentação e articularem agenda única.

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