Ação e reação

Ação arbitrária da polícia em escola do MST cria onda de solidariedade

Um ato de desagravo na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, será realizado neste sábado (5), às 15h

MST

Com armas em punho e atirando, policiais invadiram escola do MST sem mandado

São Paulo – A violenta ação da Polícia Civil na manhã de hoje (4) na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) despertou uma onda de solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vinda de artistas, sindicatos, movimentos sociais e lideranças políticas.

Por volta das 9h30, com a justificativa de prender Margareth Barbosa de Souza, policiais civis invadiram a escola, sem o devido mandado de prisão, e efetuaram quatro disparos com armas letais – um tiro para o alto e três para o chão. Duas pessoas foram presas por desacato, entre elas, um senhor de 70 anos de idade que sofre de Mal de Parkinson.

A ação ocorreu no âmbito da Operação Castra, deflagrada hoje e que tem como alvos integrantes do MST. A acusação envolve organização criminosa, furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso e cárcere privado, entre outros crimes. Ao todo, foram expedidos 14 mandados de prisão, dez de busca e apreensão e dois de condução coercitiva, quando a pessoa é levada para prestar depoimento, nas cidades de Quedas do Iguaçu, Francisco Beltrão e Laranjeiras do Sul, no Paraná, assim como no Mato Grosso do Sul e em São Paulo, na ENFF, em Guararema.

Segundo Rosana Fernandes, diretora da ENFF, ninguém no local conhece Margareth e tampouco foi possível entender por que a polícia achou que ela estivesse na escola. “Eles agrediram uma mulher grávida, estavam totalmente descontrolados. Foi uma ação que avilta os direitos dos trabalhadores, uma violência absurda”, disse Rosana.

Ao saber da invasão, o deputado estadual Carlos Neder (PT-SP) entrou em contato com o secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Sérgio Turra Sobrane, para denunciar a arbitrariedade da ação e solicitar cópia do mandado de prisão. Mais tarde, a bancada do PT na Assembleia Legislativa decidiu entrar, na próxima segunda-feira (7), com requerimento nas comissões permanentes da Casa para cobrar explicações e convocar o secretário estadual de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, para prestar esclarecimentos.

Pelo Twitter, o frei Leonardo Boff responsabilizou o governador tucano Geraldo Alckmin pela ação da polícia. “Tem cara de bonzinho, mas esconde um coração de pedra. O reacionarismo do atual governo pode provocar reações violentas de grupos que lembram 1968 com ações que não queremos sequer recordar. Vivemos num Estado de exceção. Para os que detém poder vale tudo, não há constituição, nem leis. O poder do direito virou o direito do poder. Faço uma profecia: quem vai decidir que tipo de Brasil queremos serão os jovens e não os corruptos que estão lá em cima. Deles não vem nada”, escreveu Boff.

Além de Leonardo Boff, o ator Wagner Moura e o músico e compositor Lirinha gravaram vídeos de apoio e solidariedade ao MST.

O PT divulgou nota sobre o episódio: “Não pode ser mera coincidência que tal operação seja realizada de forma conjunta e articulada entre três governos estaduais – São Paulo com Geraldo Alckmin, Paraná com Beto Richa e Mato Grosso do Sul com Reinaldo Azambuja – comandados pelo PSDB, que possui um largo histórico de repressão e tentativa de criminalização dos movimentos sociais. O mesmo tipo de abordagem foi empregado recentemente para determinar a prisão de lideranças do MST em Goiás, outro estado governado por um tucano, Marconi Perillo”, diz o texto.

“Tampouco pode ser ignorado o áudio do senador Romero Jucá, divulgado em maio passado, informando a seus interlocutores que o MST estava sendo alvo de monitoramento por parte das Forças Armadas”, diz a nota do partido, que diz exigir das autoridades competentes dos governos estaduais e federal o respeito à legalidade e ao Estado de direito.

Também em nota, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) definiu a ação ilegal como “mais uma ofensiva contra os movimentos sociais e sindical, para criminalizar todos e todas que lutam por justiça social no Brasil”. E foi além, sem deixar de contextualizar o ato de hoje na Escola Nacional Florestan Fernandes com o que tem ocorrido no Brasil recentemente:

“Nos últimos meses, temos assistido, atônitos, a uma série de desmandos de aparatos repressivos, particularmente depois do golpe parlamentar-judiciário-midiático para tomar o poder no País. Repressão a manifestações pacíficas, invasão e prisão ilegal de estudantes menores de idade que ocupam escolas públicas para lutar por educação digna e, agora, esta ação contra o MST demonstra que querem massacrar todos e todas que continuam ousando em lutar e sonhar por direitos trabalhistas e sociais. É uma escalada para intimidar e calar a voz de todos aqueles que se opõem ao desmonte do Estado e das políticas públicas inclusivas e ao retrocesso nos direitos trabalhistas e sociais”, diz a nota da CNM/CUT.

Leia a íntegra da nota do MST

Mais uma vez o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é vítima da criminalização por parte do aparato repressor do Estado Paranaense. A ação violenta batizada de “Castra” aconteceu na nessa sexta-feira (04/11/2016), no Paraná, em Quedas do Iguaçu; Francisco Beltrão e Laranjeiras do Sul; também em São Paulo e Mato Grosso do Sul.

O objetivo da operação é prender e criminalizar as lideranças dos Acampamentos Dom Tomás Balduíno e Herdeiros da Luta pela Terra, militantes assentados da região central do Paraná. Até o momento foram presos seis lideranças e estão a caça de outros trabalhadores, sob diversas acusações, inclusive organização criminosa.

Desde maio de 2014, aproximadamente 3 mil famílias acampadas, ocupam áreas griladas pela empresa Araupel. Essas áreas foram griladas e por isso declaradas pela Justiça Federal terras públicas, pertencentes à União que devem ser destinadas para a Reforma Agrária.

A empresa Araupel que se constitui em um poderoso império econômico e político, utilizando da grilagem de terras públicas, do uso constante da violência contra trabalhadores rurais e posseiros, muitas vezes atua em conluio com o aparato policial civil e militar, e tendo inclusive financiado campanhas políticas de autoridades públicas, tal como o chefe da Casa Civil do Governo Beto Richa, Valdir Rossoni.

Salientamos que essa ação faz parte da continuidade do processo histórico de perseguição e violência que o MST vem sofrendo em vários Estados e no Paraná. No dia 07 de abril de 2016, nas terras griladas pela Araupel, as famílias organizadas no Acampamento Dom Tomas Balduíno foram vítimas de uma emboscada realizada pela Policia Militar e por seguranças contratados pela Araupel. No ataque, onde foram disparados mais de 120 tiros, ocorreu a execução de Vilmar Bordim e Leomar Orback, e inúmeros feridos a bala. Nesse mesmo latifúndio em 1997 pistoleiros da Araupel assassinaram em outra embosca dois trabalhadores Sem Terra. Ambos os casos permanecem impunes.

Denunciamos a escalada da repressão contra a luta pela terra, onde predominam os interesses do agronegócio associado a violência do Estado de Exceção.

Lembramos que sempre atuamos de forma organizada e pacifica para que a Reforma Agrária avance. Reivindicamos que a terra cumpra a sua função social e que seja destinada para o assentamento das 10 mil famílias acampadas no Paraná.

Seguimos lutando pelos nossos direitos e nos somamos aos que lutam por educação, saúde, moradia, e mais direitos e mais democracia.

Lutar, construir Reforma Agrária Popular.

Curitiba, 04 de novembro de 2016.

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