eleições 2016

Crescimento na reta final era esperado, diz ex-secretário de Haddad

Para Simão Pedro, que foi titular da pasta de Serviços, está ficando mais claro para a população o vazio do Russomanno e a traição da Marta por se aliar aos que 'vêm com agenda neoliberal pesadíssima'

Ricardo Stuckert

Haddad e Lula fizeram campanha juntos no centro de São Paulo nesta sexta-feira: fôlego no primeiro turno

São Paulo – O sentimento de virada na campanha de Fernando Haddad (PT) para a reeleição em São Paulo deve crescer neste sábado (1º), véspera do primeiro turno das eleições municipais. A previsão é do candidato a vereador Simão Pedro (PT), que nesta gestão respondeu pela Secretaria Municipal de Serviços. “O crescimento já era esperado”, disse. “Foi uma campanha pequena, começou atrasada, com dificuldades que todo mundo tinha de colocar gente na rua e agora, nesta semana, se intensificou”, afirmou.

De acordo com Simão Pedro, está “ficando mais claro para a população o vazio do Russomanno (Celso Russomanno, PRB) e a traição da Marta (Marta Suplicy, PMDB, que deixou o PT e disputa a prefeitura pelo partido do presidente Michel Temer) por se aliar aos golpistas, que agora vêm com uma agenda neoliberal pesadíssima, principalmente para cima dos direitos trabalhistas. Isso ficou muito nítido e está ficando cada vez mais claro para a população”, disse. Segundo as pesquisas de intenção de voto, Haddad, Russomanno e Marta estão tecnicamente empatados, mas Russomanno e Marta têm tendência de queda, enquanto Haddad segue curva ascendente.

“O que está em jogo agora é a questão da cidade. E nossa militância apesar de toda a crise vai para a rua”, afirmou. “Eu acho que isso está pesando favoravelmente ao crescimento do Haddad. Agora, do meu ponto de vista, o PT precisa ainda fazer ainda uma profunda revisão, reflexão e dialogar com o povo sobre os erros que cometeu.”

Indagado se há pesquisas do próprio partido para monitorar o desempenho de seus candidatos, Simão Pedro diz que a campanha foi feita com poucos recursos, de acordo com a nova legislação que impede a doação de empresas para campanhas, entre outras alterações. Essas pesquisas, tecnicamente chamadas de trackings, que em eleições anteriores eram feitas diariamente para os candidatos mais estratégicos, agora são feitas com limitações.

“Fizemos uma (pesquisa) nesta semana, mas trabalhando com voluntariado, e o tracking bate com avaliações dos institutos de pesquisa, que mostram o crescimento do Haddad, a queda do Russomanno, queda da Marta e crescimento do Doria”, afirma. “E na reta final, neste sábado, a gente deve passar o Russomanno para ir ao segundo turno. A turma está muito animada, é o sentimento de virada, de ir para cima.”

Erundina

A candidatura da ex-prefeita Luiza Erundina (Psol) à prefeitura de São Paulo desperta ódio e paixão entre representantes do campo progressista. De um lado, Erundina é acusada de dividir a esquerda em um momento no qual seria essencial a união de forças; de outro, é vista como a mais autêntica representante da esquerda frente à crise que acomete o PT com o impeachment de Dilma Rousseff.

Frente ainda ao fato de que a eleição em São Paulo é um termômetro de tendências políticas que podem se cristalizar para a disputa presidencial de 2018, o debate sobre a união da esquerda, que vem se colocando com mais intensidade desde que surgiu o processo de impeachment, parece difícil de se concretizar.

Contrário à candidatura de Erundina, o blogueiro Eduardo Guimarães, candidato a vereador pelo PCdoB, acha que mesmo diante da crise que se instalou no PT seria necessário manter a união, em respeito à militância e à necessidade do campo progressista manter-se articulado para disputar eleições. Guimarães entende que sua própria candidatura reflete o momento de resistência aos golpistas que se instalaram em Brasília sob a tutela de Michel Temer. “Tem gente achando que vai lucrar com isso e quer ver uma terra arrasada para a esquerda, para que eles ressurjam das cinzas”, afirmou.

“Não é justo jogar nas costas do Psol e nas costas da candidatura da Erundina a responsabilidade por uma possível não chegada do Haddad ao segundo turno. Não é justo cobrar essa responsabilidade. Isso deveria ter sido pesado antes. A posição da nossa campanha é: a nossa candidata é a Erundina e nós vamos com essa candidatura até o fim”, afirma o candidato a vereador pelo Psol Douglas Belchior. “E não acreditamos nessas pesquisas que colocam a Erundina tão abaixo dos demais”, criticou.

Belchior diz que ao mesmo tempo seu partido respeita o voto no Haddad, principalmente em relação ao voto útil que está prosperando no campo progressista, e pode reduzir a margem de votos de Erundina, já que ter duas candidaturas ligadas ao governo golpista no segundo turno, entre Marta Suplicy, João Doria Júnior e Celso Russomanno seria um desalento para boa parte da população da cidade, que tradicionalmente apoia candidaturas populares. “Estamos lutando para colocar uma candidatura de esquerda no segundo turno. Se não for a nossa candidatura, nós vamos discutir no momento oportuno”, disse Belchior, sinalizando que a partir do resultado do pleito de domingo (2) toda a correlação de forças pode mudar.

Berço do antipetismo

O desempenho de Haddad desafia a tese dos que apostam que o PT está prestes a morrer e defendem que no país predomine a ideologia do pensamento único, de caráter neoliberal. “Aqui há um fenômeno muito complicado que você tem uma parte da população de baixa renda cooptada por esse antipetismo que se pretendia galopante”, afirma Eduardo Guimarães. “É bem difícil lutar contra isso. Eu acho que a esquerda paulistana está até fazendo um bom trabalho e vai conseguir mitigar esse processo.”

Para ele, a candidatura do ex-senador Eduardo Suplicy à Câmara Municipal pode também evitar uma queda maior, “porque provavelmente ele vai ter uma bela votação, apesar do antipetismo, até porque o Suplicy tem uma boa penetração nos setores de fora do PT, inclusive mais elitizados”.

“E agora às vésperas de uma campanha muito difícil aqui em São Paulo, onde seria preciso fazer uma união muito grande da esquerda para poder enfrentar uma direita vitaminada pelos meios de comunicação, pelas pesquisas, pelo dinheiro, o que faz a esquerda? Se divide de uma forma inacreditável”, criticou o blogueiro.

Golpismo

Em São Paulo, assim como em outras cidades, seria de se esperar que o debate em torno da disputa política fosse marcado por uma polarização entre forças golpistas e não golpistas. Mas sem Haddad e sem Erundina essa perspectiva corre o risco de não acontecer e somente o golpismo se fazer representado no segundo turno. “As forças golpistas estão muito fortalecidas com as vitórias que tiveram no próprio golpe e a articulação do governo (de Michel Temer) e esses partidos todos em Brasília”, afirmou Douglas Belchior.

Cenário semelhante ocorre no Rio de Janeiro, onde Jandira Feghali (PCdoB) aparece atrás de Marcelo Freixo (Psol), na disputa com o candidato de do PMDB, Pedro Paulo, para passar ao segundo turno e enfrentar Marcelo Crivella (PRB). Jandira chegou a ser pressionada a abrir mão em favor de impulsionar Freixo, mas ambos, assim como Alessandro Molon (Rede), permaneceram na disputa.

“E ainda estamos correndo o sério risco de ter o absurdo de a sociedade brasileira, não só nas grandes cidades, mas nas pequenas talvez até mais, chancelar ou endossar pelo sufrágio universal às forças golpistas”, lamentou Belchior. “Acho que essa é a grande questão da disputa municipal no Brasil, e a conjuntura é muito ruim para nós.”