Estratégia

Marcelo Freixo se descola da imagem de radical para tentar vencer eleições no Rio

Candidato do Psol se reúne com empresários e divulga carta pública na qual assume sete compromissos, entre eles, o de manter o diálogo com o setor privado

reprodução/Facebook/Marcelo Freixo

Imagem de Freixo como um radical vem sendo martelada pela propaganda de Crivella na reta final de campanha

Rio de Janeiro – A seis dias da votação que determinará quem será o futuro prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo quer se descolar da imagem de radical e conquistar eleitores indecisos ou que votaram em candidaturas de centro-direita no primeiro turno das eleições. A nova estratégia do candidato do Psol é justificada pelos resultados das últimas pesquisas de intenção de voto, que apontam uma tendência de queda do adversário Marcelo Crivella (PRB) e também um número crescente de eleitores de Pedro Paulo Carvalho (PMDB) e Indio da Costa (PSD) no primeiro turno que afirmam ter decidido votar em Freixo no segundo turno. “Chegou a hora da arrancada final”, resume o candidato.

Na tentativa de atenuar junto à sociedade carioca a imagem de “radical de esquerda” que a propaganda eleitoral de Crivella e alguns setores da mídia querem lhe imputar, Freixo divulgou ontem (24), durante um encontro com empresários, a carta aberta “Compromisso com o Rio – Coragem para Mudar”, documento no qual assume sete compromissos para uma “mudança com coragem, dedicação e responsabilidade” na administração da cidade. Embora qualquer semelhança seja rejeitada pelo candidato do Psol, o documento já está sendo comparado à Carta ao Povo Brasileiro, documento divulgado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para “acalmar o mercado” pouco antes de sua eleição em 2002.

O compromisso número um da lista elaborada pela campanha de Freixo é “montar um secretariado inteiramente formado por técnicos com comprovado conhecimento, integrado, de forma equilibrada, por mulheres e homens”. O candidato afirma também que “nenhum secretário será nomeado por indicação de partido político”. Durante entrevista concedida na noite de ontem ao telejornal RJTV, Freixo adiantou alguns possíveis integrantes do primeiro escalão de seu eventual governo, sem, no entanto, confirmar nenhum nome. Entre os citados, estão a economista Laura Carvalho, da Universidade de São Paulo (USP); a pesquisadora Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); o sociólogo Marcelo Burgos e o ex-secretário de Transportes de São Paulo Lúcio Gregori. Todos os nomes têm o reconhecimento dos movimentos sociais, mas não são diretamente ligados a nenhum partido político.

Os outros seis itens da carta-compromisso de Freixo são: 1) ter como prioridade a redução do custo de vida e a melhoria dos serviços públicos; 2) garantir o equilíbrio do orçamento municipal, aumentando investimentos com a redução de gastos com custeio e cargos comissionados; 3) revisar e tornar públicos todos os contratos da prefeitura; 4) respeitar os contratos em situação regular e investigar os que estiverem sob suspeita; 5) atuar de forma ética e equilibrada junto ao setor privado, garantindo a independência da prefeitura e o crescimento econômico; 6) dialogar com o governo estadual, a União e a Câmara dos Vereadores, priorizando os interesses da população do Rio de Janeiro.

Ao afirmar no documento público seu compromisso com o equilíbrio e a ética junto à iniciativa privada, Freixo pretende refutar a ideia de que fará uma gestão estatizante, crítica que vem recebendo dos adversários desde o primeiro turno das eleições, quando o Psol divulgou seu programa de governo que fala na criação de novas empresas públicas. Outra crítica recorrente – a de que sua gestão ficaria isolada politicamente por fazer oposição ferrenha ao PMDB, que controla os governos estadual e federal – é rebatida com a promessa de diálogo com Estado, União e Parlamento.

Fidel e Maduro

A imagem de um Freixo “radical, com ideias ultrapassadas e práticas violentas” vem sendo martelada na televisão pela propaganda de Crivella nesta reta final de campanha. A principal estratégia do PRB continua sendo associar o Psol e seu candidato ao movimento dos black blocs, responsável por atos de vandalismo durante manifestações de rua no Rio. Freixo é acusado, entre outras coisas, de ter responsabilidade indireta pelo assassinato do cinegrafista Santiago Andrade, morto após ser atingido por um rojão disparado pelos manifestantes Fábio Raposo e Caio Silva de Souza, ambos identificados como black blocs.

Em sua propaganda na televisão, o candidato do PRB também associa o adversário a figuras emblemáticas como o líder cubano Fidel Castro e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, apresentados como “ditadores apoiados pelo Psol”. Na mais recente tentativa de ressaltar o suposto radicalismo de Freixo, a propaganda de Crivella tem apresentado um vídeo de um seminário do PCB, partido de Luciana Boiteux, vice na chapa do Psol, onde o professor Mauro Iasi, que foi candidato a presidente pela legenda em 2014, defende “um bom paredão” e “uma boa espingarda” para os representantes dos partidos de direita.

Não ao PT

Durante a entrevista ao telejornal regional da Rede Globo, quando indagado sobre sua posição em defesa do mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff e sobre o apoio do PT, “partido responsável pelo maior escândalo de corrupção da história do país”, a sua candidatura, Freixo afirmou que, apesar do apoio a Dilma no segundo turno em 2014, o Psol jamais fez parte dos governos petistas, e “sempre votou com independência, muitas vezes contra o governo”.

Instigado sobre se aceitar o apoio do PT significa “complacência com a corrupção”, Freixo negou, mas também descartou a participação do partido aliado em seu eventual governo. “Qualquer generalização é muito injusta. A gente não tem qualquer complacência com o PT. O PT cometeu os seus erros, que não foram poucos, foram muitos. Espero que faça autocrítica. O PT não fará parte do meu governo e nem indicará secretários. Nem o PT, nem nenhum partido”, disse.