Eleição RJ

Freixo no ataque e Crivella na esquiva: último debate esquenta reta final no RJ

Candidato do Psol cita eventual submissão do adversário aos interesses da Igreja Universal do Reino de Deus e as alianças com políticos denunciados por corrupção

Reprodução/TV Globo

Freixo a Crivella: ‘Para evitar superfaturamentos não farei aliança com quem você fez, como Jefferson, Garotinho, com ninguém do PMDB’

Rio de Janeiro – Ao final de uma campanha para a prefeitura do Rio de Janeiro marcada por debates relativamente insossos, o candidato do Psol, Marcelo Freixo, foi pintado para a guerra ao último confronto na televisão com Marcelo Crivella, do PRB, realizado na noite de ontem (28) pela Rede Globo. Atrás nas pesquisas, a três dias da votação, Freixo atacou em diversos flancos. Por exemplo, a eventual submissão do adversário aos interesses da Igreja Universal do Reino de Deus, as alianças com políticos denunciados por corrupção e até mesmo a prisão de Crivella após uma tentativa de reintegração de posse de um terreno há 26 anos. A estratégia do candidato do PRB foi usar de habilidade e ironia para se esquivar dos ataques, o que manteve o nível de tensão do debate elevado do início ao fim.

O único momento do debate que quase tirou Crivella do sério aconteceu quando Freixo citou o suposto assédio que a campanha do PRB fez à viúva do pedreiro Amarildo, assassinado pela polícia na comunidade da Rocinha em 2013. Segundo denúncia da própria Beth, que sofre com problemas de alcoolismo, militantes do partido estiveram em sua casa para oferecer bebida e dinheiro em troca da gravação de um depoimento contra Freixo: “Uma tropa sua entrou na casa da Beth e fez ameaças, deu dinheiro. Vale qualquer coisa para ser prefeito, Crivella? Nós temos divergências, mas aquilo me assustou, aquilo é muito grave. Entrar na casa de uma pessoa que tem problemas sérios e oferecer dinheiro para pegar depoimento é um limite que você ultrapassou”, disse Freixo.

O candidato do PRB retrucou: “Freixo, de limite ultrapassado você conhece bem. Na verdade, o filho dela desmentiu tudo. Essa coisa na política ocorre porque você começou a elevar o nível de acusação. O candidato Freixo fez tantas ameaças, fez tantas acusações infundadas na televisão, que a militância fica difícil da gente conter. Acabam fazendo coisas que eu recrimino”, disse Crivella.

“Aquela mulher tem um problema sério de saúde, aquela mulher perdeu o marido, torturado e desaparecido. Eu e muitas pessoas ajudamos aquela família e você colocou uma coisa criminosa na televisão, dizendo que eu peguei dinheiro deles. Quando o Amarildo desapareceu, eu estava do lado daquela família, e você do lado do Sérgio Cabral, você fazia parte daquele governo”, devolveu o candidato do Psol.

Igreja Universal

A relação de Crivella com a Igreja Universal, que pertence ao tio do candidato do PRB, o bispo Edir Macedo, também foi explorada por Freixo: “Você é herdeiro da Igreja Universal e já afirmou que entrou na política por causa da igreja. Qual é o projeto político da Igreja Universal para o Rio de Janeiro?”, indagou.

Crivella lembrou que é senador há 15 anos e negou qualquer relação entre suas atividades políticas e religiosas: “Quero esclarecer que a igreja não tem projeto político nenhum, absolutamente. O pastor cuida da sua igreja, e um deputado ou um senador como eu cuida de assuntos públicos”, disse. Em seguida, dirigiu-se diretamente ao eleitor de uma região da cidade onde lidera com folga nas pesquisas: “Você que está me assistindo na zona oeste não está preocupado com minha religião. Você está preocupado porque não tem saneamento na sua região, com o transporte que está horrível, com as filas nos hospitais. Você está preocupado com a Igreja Universal? Acho que não. Para quem está esperando um exame, não importa se eu sou católico, espírita, umbandista ou evangélico. Só para o Freixo. Não serei instrumento de poder de nenhuma igreja”.

Freixo retrucou: “É evidente que a sua igreja tem um projeto de poder. Basta olhar para o seu partido, onde quase todos os deputados são bispos da sua igreja. Isso claramente caracteriza uma ação de poder. Quando você foi ministro da Pesca, quase todos os seus assessores eram bispos da sua igreja. Há uma relação direta entre a sua crença e a sua forma de fazer política. É grave porque você desconsidera as outras religiões. Você disse que os católicos eram demoníacos, membros de sua igreja chutaram uma santa e você fez música para isso. Vocês odeiam quem é diferente. É um fanatismo político e religioso querendo tomar o poder com um projeto de Presidência da República”.

Alianças

Ao responder a uma pergunta sobre como evitar obras superfaturadas, Freixo criticou as alianças firmadas entre Crivella e alguns políticos envolvidos em denúncias de corrupção: “A primeira medida que eu vou tomar para evitar superfaturamento é não fazer aliança com as pessoas que você fez. Eu não tenho aliança com Rodrigo Bethlem, com Roberto Jefferson, com Garotinho, com ninguém do PMDB. A ideia é que a gente garanta uma prefeitura com total transparência, com eficiência e a participação das pessoas. Hoje, 60% dos contratos da Prefeitura são feitos com dispensa de licitação. Isso ocorre para se agradar a aliados políticos e é muito grave”, disse o candidato do Psol.

Indagado sobre transportes, Freixo manteve a ofensiva e criticou um eventual acordo feito esta semana entre Crivella e o maior dono de linhas de ônibus da cidade: “É preciso tirar o poder dos empresários de ônibus. É importante você dizer o que vai fazer sobre isso. No seu governo tem o Rodrigo Bethlem, que esteve ao seu lado no palanque do comício da Cinelândia. Ele foi pego em uma gravação dizendo que ajudava o Jacob Barata, que facilitava as coisas para o Jacob Barata na Câmara dos Vereadores. Com pessoas como estas, que estarão no seu governo, como você vai enfrentar os empresários de ônibus no Rio de Janeiro?”, disse.

Empobrecimento Ilícito

A citação ao aliado provocou uma das reações carregadas de ironia de Crivella, uma tônica do debate: “Você é um defensor dos direitos humanos e quer que o Bethlem fique preso dentro de casa, Freixo? Ele não pode sair mais? A praça é pública, as pessoas vão”, disse. O candidato do PRB negou o acordo com os empresários de ônibus e, seguindo a estratégia “paz e amor” sugerida pela liderança nas pesquisas, fez comentários elogiosos ao adversário: “No meu governo, tanto quanto no seu, as empresas de ônibus não vão mandar. Iam mandar no PMDB, que nós dois conseguimos tirar do segundo turno. A questão da corrupção é endêmica e nesse aspecto acho que, com qualquer um de nós ganhando a eleição, não importa, o Rio já ganhou”, disse.

Em dado momento, Crivella se dirigiu ao telespectador para provocar o adversário: “Você vê em casa que quando o Freixo trata de propostas, fica encantador”, disse. Ao criticar a postura ofensiva do candidato do Psol no debate, Crivella chegou a sugerir que o partido do adversário “vai escolher o Professor Tarcísio ou o Chico Alencar para ser candidato na próxima eleição”.

Houve um momento em que até Freixo riu, quando Crivella, ao rebater a acusação, já arquivada, de que teria duas empresas em paraísos fiscais, sugeriu, ironicamente, uma nova modalidade de crime: “O Freixo quer ser meu biógrafo, mas o fato é que ele muda toda a história. Se foi arquivado, foi porque não tinha provas. Um defensor dos direitos humanos não pode condenar sem prova, não pode acusar. Eu não tenho nenhum processo contra mim. A única coisa de que você pode me acusar é de empobrecimento ilícito, pois eu doei R$ 20 milhões dos meus direitos autorais para os pobres do sertão”, disse.

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