Segundo Turno

Fogo cerrado da esquerda e de parte da mídia faz Crivella cair no Rio

Campanha do Psol divulga vídeos, escritos e declarações que reforçam a ligação do candidato do PRB com o projeto de poder da Igreja Universal. Senador é citado em delação da Lava Jato

reprodução/Facebook

Com possibilidade real de virada, campanha de Freixo mantém Crivella sob fogo cerrado na propaganda eleitoral

Rio de Janeiro – A caminhada aparentemente tranquila que as pesquisas de intenção de voto divulgadas no início do segundo turno indicavam para Marcelo Crivella se transformou nesta última semana de campanha em uma dura corrida de obstáculos para o candidato do PRB à prefeitura do Rio de Janeiro. Com tendência de queda já registrada no mais recente levantamento feito pelo Ibope, em movimento inverso ao do adversário Marcelo Freixo (Psol), o senador sofre com a revelação de episódios negativos e declarações polêmicas do seu passado recente como pastor evangélico e agora vê seu nome envolvido nas delações premiadas da Operação Lava Jato.

Ao vislumbrar uma possibilidade real de virada nesta reta final, a campanha de Freixo mantém Crivella sob fogo cerrado na propaganda eleitoral da televisão e na internet. Além disso, o candidato do PRB é alvo da ofensiva das famílias que controlam os principais veículos de mídia no país e desejam evitar o fortalecimento da Rede Record, presidida pelo Bispo Edir Macedo, tio de Crivella e líder máximo da Igreja Universal do Reino de Deus.

Nenhuma pesquisa realizada após o início desta ofensiva foi ainda divulgada, mas a tendência de queda de Crivella e subida de Freixo já havia sido registrada na pesquisa divulgada pelo Ibope em 20 de setembro, realizada após fatos como o apoio declarado da maior milícia da cidade ao PRB e a divulgação de trechos do livro “Evangelizando a África”, escrito por Crivella nos seus tempos de missionário, no qual ele descreve as religiões de matriz africana como “diabólicas”, a homossexualidade como “conduta maligna” e os crentes em outras religiões como “espíritos imundos”.

Crivella foi à TV “pedir desculpas a quem possa ter ofendido” e disse que as palavras escritas no livro foram “intolerâncias de um jovem missionário”, embora já tivesse 42 anos na ocasião. Mas o efeito da exposição foi percebido pelo levantamento do Ibope. Segundo o instituto, Freixo, com 29% da preferência dos entrevistados, subiu quatro pontos percentuais, enquanto Crivella (46%) caiu cinco, o que aponta uma tendência fora da margem de erro da pesquisa.

Na grande mídia, os principais artífices da ofensiva contra Crivella são o jornal O Globo e a revista Veja. Uma nota publicada pelo colunista Lauro Jardim na edição de ontem (23) do jornal afirma que o senador aparecerá na delação premiada que está sendo negociada entre o Ministério Público e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque.

Segundo a notícia, Duque afirma ter repassado à campanha de Crivella ao Senado em 2010 cerca de R$ 12 milhões oriundos do esquema de corrupção na estatal. Já a revista publicou na sexta-feira (21) uma edição especial somente para o Rio de Janeiro que traz na capa “a foto que Crivella esconde há 26 anos”. Trata-se de uma foto de frente e perfil, segurando a tradicional plaquinha numerada, feita no dia em que o senador foi fichado na 9ª Delegacia de Polícia (Catete), segundo ele mesmo alega, após participar da tentativa de expulsão de um grupo de invasores de um terreno da Igreja Universal.

Crivella, que, apesar da oposição da grande mídia, recebeu na semana passada o apoio formal do PSDB, prometeu para hoje (24) uma coletiva de imprensa na qual explicará o motivo de sua prisão. Aos repórteres que acompanharam suas atividades de campanha no fim de semana, ele disse que “entrou no terreno apenas para colocar os pertences das pessoas em um caminhão” e que “não teve contato físico com quem quer que seja”. A assessoria de imprensa do candidato, curiosamente, apresenta uma versão diferente: Crivella teria entrado no terreno apenas como engenheiro para observar um muro que ameaçava desabar, foi hostilizado pelos invasores e todos levados à delegacia.

Em relação à eventual citação na delação premiada de Renato Duque, Crivella afirmou que, mesmo que isso se confirme, trata-se de informação falsa, pois teria gastado apenas R$ 435 mil na campanha com a confecção de banners e cartazes: “Os investigadores não conseguiram, e nem conseguirão, qualquer documento que confirme isso. Esse repasse jamais aconteceu”, disse.

Presidente Evangélico

A propaganda política de Freixo é outra frente que vem desgastando bastante o capital eleitoral inicial de Crivella. As denúncias na tevê e na internet sobre sua suposta subordinação aos interesses da Igreja Universal tomaram espaço até mesmo das denúncias sobre o apoio das milícias e do PMDB. Para isso, vídeos antigos têm sido a principal arma.

Em um deles, cuja data de gravação não é especificada, Crivella pede “orações aos irmãos que estão na política”, afirma que a igreja “já tem dinheiro e aviões”, mas que ainda chegará o dia em que um evangélico será presidente do Brasil: “Não sei quando será, mas os evangélicos ainda vão eleger um presidente da República que vai trabalhar por nós e nossas igrejas. E nós vamos cumprir a missão que há dois mil anos é o maior desafio da igreja: levar o Evangelho a todas as nações”.

Em outro vídeo, este gravado em 2011, Crivella aparece explicando a um grupo de pastores que a direção da igreja o havia persuadido a ingressar na política: “Com a repercussão na mídia do meu trabalho na Fazenda Canaã, fui enviado para a política. Confesso que naquele instante fiquei triste. Aceitei porque na Igreja Universal você não tem opção. Na Igreja Universal você vai, tem que ir”, disse.

A propaganda do Psol exibe ainda as célebres imagens, gravadas em 1999, do pastor Sérgio Von Helder, também da Universal, chutando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida em um programa de tevê. O objetivo da propaganda é diminuir a vantagem de Crivella no eleitorado católico, e a novidade é a exibição de uma música gravada pelo candidato do PRB em apoio a Von Helder na qual ele canta coisas como “dei um chute na hipocrisia / foi tanta gritaria / do pessoal da idolatria” ou “se ela é mesmo Deus, irá me castigar”. Diante dos ataques sofridos e da tendência de queda nos últimos dias, o castigo que Crivella mais temerá nesta reta final de campanha é mesmo o das urnas.