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Defesa de Cláudia Cruz segue ‘indicação’ de Moro e tenta provar que ela não sabia de nada

Juiz aceitou ouvir as testemunhas 'a bem da ampla defesa', mas destacou que elas são 'dispensáveis' para o caso

Marcos Oliveira/ABr

Testemunhas de Cláudia foram ouvidas a respeito das contas secretas do ex-presidente da Câmara

GGN – No mesmo despacho em que devolveu o passaporte de Cláudia Cruz e estipulou o prazo de quatro meses para que sete testemunhas de defesa, em Cingapura e na Suíça, sejam ouvidas a respeito das contas secretas manipuladas por Eduardo Cunha, por meio de acordo de cooperação internacional, Sergio Moro norteou, ainda que indiretamente, a estratégia de defesa da jornalista.

Moro aceitou ouvir as testemunhas “a bem da ampla defesa”, mas destacou que elas são “dispensáveis” para o caso de Cláudia Cruz, pois tratam-se de funcionários de instituições financeiras onde estão os trusts do ex-deputado federal. O juiz salientou, então, o que seria “relevante” para a Justiça brasileira: saber se Cláudia tinha ou não ciência de que os fundos do marido eram abastecidos com recursos desviados de esquemas de corrupção na Petrobras.

Os advogados de Cláudia, coincidentemente, usam essa diretriz para inquirir testemunhas de defesa diante de Moro. É o que se vê no interrogatório de Ester de Souza Lemos, terapeuta de shiatsu da mulher do ex-presidente da Câmara.

No vídeo abaixo, nem o Ministério Público Federal, que acusa Cláudia de usufruir das contas abastecidas por Cunha, nem o juiz Moro fizeram perguntas à testemunhas. Apenas a defesa prestou esse papel, com questões cujo objetivo claro é imprimir nos autos a ideia de que o ex-parlamentar era o único responsável pela gestão financeira da família, enquanto a Cláudia coube, desde que saiu da Globo, a função de cuidar do lar.

Aos 8 minutos e 25 segundos, a defesa pergunta se Ester, que conhece Cláudia Cruz há 19 anos, sabe se a jornalista tem “confiança” em Eduardo Cunha e sabe de detalhes dos negócios do marido.

“A Cláudia, por uma única vez, antes do Eduardo assumir a Câmara, (…) ela virou para mim espontaneamente, depois que alguma coisa foi dita no Jornal Nacional, e verbalizou nesse sentido: ‘Ester, eu, por mais de uma vez, perguntei ao Eduardo se esse dinheiro que ele ganha é lícito, e meu marido me respondeu que todo o dinheiro que ele é muito bom em ganhar  – que ele sabe fazer, porque é um excelente economista e aplicador da Bolsa – tem respaldo da lei.’ E ela virou para mim, concluindo: ‘Ester, se eu não acreditar nisso, não posso estar casada com ele, porque isso me torna uma mulher sem caráter. Então, acredito fielmente no que ele me diz. E ele sempre foi bom sim, um ótimo economista, administrador, aplicador, corre atrás de fazer dinheiro, isso ele sempre fez bem.'”

Depois, questionada se Cláudia costumava comentar sobre a vida política de Cunha, a terapeuta responde que a jornalista era sempre “muito pontual” e fazia comentários genéricos. “Vou dar um exemplo: há muito tempo atrás, muito tempo mesmo, quando a família do Garotinho e a Rosinha tiveram um almoço, a Rosinha levou uma criança que era adotada. Ela fez comentário nesse sentido, de dizer que eles têm tantos filhos e adotaram mais um.”

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