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Molon: ‘Quem não tiver apoios ao centro no segundo turno não vencerá a eleição’

Candidato da Rede acredita que debate desta noite na TV Globo pode dar um novo rumo para as intenções de voto: 'O quadro está muito embolado'

facebook/alessandro molon

Molon: ‘Sou o candidato da esquerda que tem maior capacidade de dialogar com os outros setores do espectro político e também da sociedade’

Rio de Janeiro – Relator do Marco Civil da Internet e primeiro a pedir a cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o candidato da Rede à prefeitura do Rio de Janeiro, Alessandro Molon, é reconhecido na cidade como um político progressista. Campeão de votos de seu antigo partido, o PT, nas últimas eleições para deputado federal, Molon, no entanto, ainda não decolou nas intenções de voto, talvez vítima da pulverização da esquerda em três candidaturas, já que o PCdoB, com apoio do PT, lançou Jandira Feghali e o Psol lançou Marcelo Freixo.

Apesar das dificuldades, simbolizadas pelo pouquíssimo tempo de propaganda na televisão, Molon aposta que, diante de um quadro onde 40% dos eleitores cariocas, segundo o Ibope, admitem trocar seu voto na última hora, sua candidatura ainda pode crescer. Para isso, aposta em um bom desempenho no último debate, na noite de hoje (29), e também no apoio da líder nacional da Rede, Marina Silva, que nas últimas eleições presidenciais obteve 31% dos votos no Rio.

Sem citar nomes, Molon critica a estreita política de alianças de alguns partidos do campo progressista e afirma que “para governar uma cidade com a complexidade e a pluralidade que tem o Rio, é preciso ir para além da esquerda”. Se eleito, o candidato promete rever toda a distribuição das linhas de ônibus, garantir creche e pré-escola em tempo integral para todas as crianças de zero a seis anos e substituir o atual modelo de Organizações Sociais de Saúde (OSs) que gerencia a rede municipal por uma Fundação de Saúde Pública.

A poucos dias da votação, já dá para avaliar se a estratégia dos partidos de esquerda de lançar três candidaturas foi correta?

O lançamento de três candidaturas foi uma consequência de visões com alguns pontos em comum, mas com diferenças também, por exemplo, em relação à política de alianças. Isso resultou em uma impossibilidade de estarmos juntos. Eu fui a uma reunião com o Freixo e a Jandira e, quando eu cheguei lá, suas duas candidaturas já haviam sido colocadas, e eram candidaturas irremovíveis. Quando eu cheguei lá, a única candidatura que ainda não havia sido lançada era a minha porque eu entendi que deveria ir aberto a uma reunião como essa. Para que a gente eventualmente pudesse fazer alguma coisa juntos, era importante que eu chegasse lá com essa abertura, mas não percebi isso nas outras duas candidaturas. Elas já estavam colocadas e eu percebi que não havia a possibilidade de nenhuma das duas ser retirada, as duas já eram decisões tomadas.

Diante disso, nós apresentamos nosso nome e começamos a buscar também outras forças políticas. Eu tenho para mim que, para vencer uma eleição como é a eleição do Rio de Janeiro e para governar uma cidade com a complexidade e a pluralidade que tem o Rio, é preciso conseguir ir para além de um único setor, é preciso ir para além da esquerda apenas. Tanto para ganhar quanto para governar depois. Então, eu fiz esse movimento de conversar com outras forças políticas também. Apresentamos o nosso nome, as nossas propostas, o nosso programa.

Eu acho que a eleição vai ser decidida no último dia. Até lá estará tudo aberto, o quadro está muito embolado. A gente tem o (Marcelo) Crivella (PRB) lá em cima e o resto está tudo meio misturado. Então, depende da gente. Depende do eleitor que, acho que vai começar a escolher depois do último debate na TV Globo. Este debate terá um peso decisivo para o eleitor. Mais da metade dos eleitores ou não tem candidato ou admite ainda mudar de candidato.

Por que o eleitor carioca de esquerda deve optar por Alessandro Molon? No que sua candidatura se diferencia das outras duas candidaturas de esquerda?

Basicamente em duas coisas. Uma delas é a política de alianças mais ampla, com capacidade de diálogo com outros setores para além da esquerda. Eu tenho posição, eu tenho lado, eu tenho uma visão de mundo, mas eu acho que sou o candidato da esquerda que tem maior capacidade de dialogar com os outros setores do espectro político e também da sociedade. O candidato de esquerda que não tiver condições de ganhar apoios ao centro no segundo turno não vencerá a eleição.

Outro aspecto é uma visão mais atual da iniciativa privada. Eu acho muito importante entender em que medidas o poder público pode fazer parcerias com a inciativa privada sem se demitir de suas funções e sem esvaziar o Estado. Ao contrário, tendo um estado presente, atuante, com uma atuação firme, regulando, cobrando, prestando serviços em várias áreas, mas, ao mesmo tempo, sabendo deixar para a inciativa privada outra áreas onde eventualmente seja importante que a iniciativa privada possa se desenvolver e apresentar seus resultados também.

Contando as campanhas para deputado e vereador, esta é a sétima eleição da qual você participa como candidato. Como está sendo a experiência da campanha sem a doação de empresas?

Olha, é uma grande mudança. Eu sou um defensor ferrenho desta mudança e lutei muito para que essa transformação ocorresse. Lamentavelmente, nós não conseguimos fazê-la no Congresso, por interferência do Eduardo Cunha. Tivemos que contar com essa mudança graças ao Supremo Tribunal Federal, e eu espero que não haja retrocesso nisso. Naturalmente que isso implica uma transformação muito forte da forma de se arrecadar em relação à forma anterior. Isso exige um esforço, mas é um esforço válido, positivo, justamente porque permitir que as empresas continuem doando significa permitir que o poder econômico continue tendo um grande peso sobre as eleições.

Na prática, você acha que a campanha ficou mais igualitária?

Acho que, do ponto de vista financeiro, ela foi menos desigual, apesar do Pedro Paulo (PMDB). Em relação aos outros candidatos, eu acho que a campanha ficou mais equilibrada. A exceção é o candidato do prefeito (Eduardo Paes, PMDB), que arrecadou milhões graças ao poder político do chefe dele. Agora, essa campanha foi muito desigual em termos de tempo de tevê e, portanto, de visibilidade. A televisão, ao contrário do que nós imaginávamos, continua tendo um peso decisivo. Eu imaginava que ela tinha se tornado menos importante, mas não. A televisão continua muito importante, e a internet, as redes sociais, o alcance delas é limitado, você consegue falar apenas para um certo setor da sociedade, mas não para todos.

O pouco tempo de campanha favorece três tipos de candidatura. Um deles são as candidaturas que têm muita máquina, como é o caso do Crivella e do Pedro Paulo. O Crivella tem a Igreja Universal, o Pedro Paulo tem as máquinas municipal, estadual e federal. Também são favorecidos candidatos com muito tempo de tevê, como é caso novamente do Pedro Paulo e de outros candidatos, como a Jandira, o Indio (da Costa, PSD), o (Carlos) Osorio (PSDB) e o próprio Crivella. Outro tipo de candidatura beneficiada é a quem tem muito recall. A campanha curta favorece quem já traz uma força muito grande, seja de recall, seja de tempo de tevê, seja de máquina. Por isso, ela é mais desigual, menos equilibrada e menos aberta para qualquer um crescer.

Você é um crítico dos projetos de mobilidade feitos pela prefeitura nesses últimos anos. Onde a prefeitura errou? Quais são suas propostas para a cidade em termos de mobilidade urbana?

A primeira coisa que eu faria seria rever toda a distribuição das linhas de ônibus. Ninguém conhece o estudo no qual se baseou essa redistribuição de ônibus aqui na cidade. Se foi feita com base em um estudo, esse estudo não foi transparente, não foi divulgado, não foi conhecido por ninguém. Isso, do ponto de vista da opinião pública. Certamente alguém conhece, o prefeito deve conhecer. Eu desconfio que esse estudo tenha sido feito pelas empresas de ônibus, e o foco tenha sido única e exclusivamente aumentar o lucro delas. Então, eu reveria toda essa distribuição de linhas de ônibus, que eu trataria de outra forma, com transparência. Eu abriria a caixa preta das planilhas de custo das empresas de ônibus, faria um estudo transparente para discutir o valor da tarifa justo e redistribuiria os ônibus a partir de um estudo da Coppe/UFRJ, com participação da sociedade através de aplicativos de participação para que as pessoas opinassem e pedissem o transporte aonde elas usam. Faria isso a partir de um estudo de demanda a ser realizado pela Coppe, e não a partir do interesse das empresas.

Eu também apostaria em transporte sobre trilhos, faria uma parceria com o governo do estado para terminar a Linha 2 do metrô que, em vez de terminar no Estácio, teria que passar pela Praça da Cruz Vermelha, na Lapa, pela Carioca, onde já tem uma estação de conexão pronta há 30 anos para receber a Linha 2, e chegar na Praça XV. Eu faria parceria com o governo do estado também para transformar a Super Via em metrô de superfície para atender à zona oeste e a zona norte, com trem novo, ar-condicionado, estação reformada e frequência igual à do metrô, com um carro passando a cada três ou quatro minutos. Isso custaria metade do que custou levar o metrô para a Barra da Tijuca. Acho também que o VLT é uma boa saída, então eu estimularia a expansão do VLT assim que a gente tivesse recursos para isso. A próxima gestão vai ser de caixa apertado, vai ser uma gestão de ajustar as contas, de arrumar a casa. Então, a gente iria mais pelo transporte de massa do que o atual prefeito vai.

Eu apostaria em ciclovias e também em uma cidade mais amigável para os pedestres. As cidades mais modernas do mundo apostam muito no pedestre e na ciclovia, e o Rio de Janeiro é uma cidade que não aposta nem numa coisa nem na outra. Por fim, mobilidade é ter a casa perto do emprego e o emprego perto de casa. Isso significa construir moradia no Centro, onde tem muito emprego e pouca moradia, e levar desenvolvimento econômico para a zona oeste, onde tem muita moradia e pouco emprego.

A sua candidatura prega a transparência nas contas públicas. Como isso vai se traduzir em seu eventual governo?

Segundo o Ministério Público Federal, que fez um ranking, o Rio de Janeiro é a 16ª capital, entre 27, em termos de transparência. Isso não custa dinheiro nenhum, não é uma questão de custo, é uma questão de prioridade. A prefeitura do Rio, graças ao Eduardo Paes, não tem isso como prioridade. Eu vou colocar tudo na internet. Não apenas os contratos, as compras e as licitações, mas todos os dados abertos para que as pessoas possam acessar. Quanto mais transparência, menos corrupção e, quanto menos corrupção, mais dinheiro para comprar remédio, contratar médico, contratar professor e assim por diante. Eu iria por esse caminho, e isso vai ser no primeiro dia de governo. Não vai depender de nada, porque é uma decisão do prefeito. Com um decreto do prefeito, tudo isso se torna aberto, transparente, e aí a gente vai poder conhecer as reais condições das contas da prefeitura, porque no fundo ninguém sabe direito qual é a verdade sobre as contas da prefeitura, já que não há transparência e há muita maquiagem.

O que fazer com o chamado legado olímpico? Quais as tuas propostas para ocupação do espaço urbano revitalizado como, por exemplo, na zona portuária do Rio, cuja reforma, segundo os críticos, não levou em consideração as habitações de interesse social?

Minha proposta é incentivar através de tributos e de regras urbanísticas mais viáveis a construção de moradias. Para várias classes: habitação de interesse social, mas também habitação para a classe média. É importante que o Centro se torne um bairro residencial, e vai ter demanda para várias faixas de renda ali. Uma cidade democrática é uma cidade onde as pessoas estão perto umas das outras, independente das suas classes, elas convivem, elas estão juntas e misturadas, como a gente diz aqui no Rio. A gente quer um centro da cidade que tenha essa diversidade, que tenha casa e apartamento para todo mundo.

A revitalização do porto foi boa, mas foi feita pela metade. Revitalizar significa colocar vida, e colocar vida é colocar gente morando. Precisamos transformar o Centro em um bairro, e isso ele não é hoje. Essa outra metade é a metade que a gente vai fazer quando estiver na prefeitura, com incentivos tributários e facilitação de regras urbanísticas.

Quais são tuas principais propostas para a e educação?

Como professor, eu sei que a educação começa lá na primeira infância. Hoje, a neurociência prova que de zero a dois anos é a fase em que o cérebro está mais aberto para receber informações e desenvolver conexões. Então, eu acredito muito em estimular a inteligência nessa fase da infância para começar a superar e vencer a desigualdade ali onde ela se instala e se estabelece. Minha prioridade vai ser garantir creche e pré-escola em tempo integral para todas as crianças de zero a seis anos. Vou focar na construção de creches públicas e, enquanto elas não estiverem prontas, eu vou conveniar com creches comunitárias e creches privadas porque não é justo perder um dia sequer de qualquer criança dessas. O preço disso, em termos de desigualdade, que a gente paga, é muito alto e vai aparecer lá na frente.

Vou priorizar também a escola em tempo integral de verdade, não esse do Eduardo Paes, que termina às duas da tarde. Eu queria saber qual é a mãe ou o pai que sai do trabalho à uma da tarde para buscar o seu filho às duas na escola. Só no planeta Pedro Paulo. Na vida real isso não existe.

Vou também discutir um novo plano de cargos e salários com os professores, com a participação deles. Não faz sentido aprovar um plano desses com uma Câmara dos Vereadores cercada por grades, policiais e gás de pimenta, como foi aqui. E, dar formação continuada para o professor na prática, ou seja, apoio pedagógico ao professor na própria escola, não tirá-lo para fazer um curso. Isso também é bom, mas formação continuada é mais do que isso, é esse acompanhamento pedagógico do professor para ajudá-lo a enfrentar os problemas do dia-a-dia da escola.

E as principais propostas para a saúde?

Primeiro, substituir esse modelo de OSs por uma fundação de saúde pública com médicos concursados e contratados pela prefeitura para substituir gradativamente as OSs nas Clínicas da Família. Eu não vou fazer isso abruptamente porque seria fazer o pobre pagar o preço da irresponsabilidade do Eduardo Paes. Eu não quero que as pessoas com menos recursos fiquem sem atendimento médico, então vai ser uma substituição progressiva, gradativa, para uma fundação de saúde enquanto a gente audita todos os contratos com OSs. Vamos cobrar a devolução do dinheiro desviado por essas OSs.

Além disso, a gente vai focar em colocar médicos nas emergências de hospital. No hospital público, está faltando médico na emergência. Garantir o acesso a um parto qualificado e humanizado para todas as mães, independente da faixa de renda delas, e garantir a consulta com especialistas e a realização de exames, que é o segundo passo depois da saúde da família. Isso está muito ruim no Rio: a pessoa vai lá, descobre que tem catarata, mas a operação é marcada para um ano depois. Precisa de um exame de imagem, de uma tomografia, e só tem daqui a oito meses. Como é que uma pessoa pode esperar oito meses para fazer um exame? Isso é o que está acontecendo hoje.

Esta é a tua primeira campanha eleitoral fora do PT. Como está sendo esta experiência? Você acredita que a proposta que prega um jeito diferente de fazer política da Rede pode vingar?

Eu acho que a Rede está tentando criar. Não seria honesto dizer que isso já está pronto, que a gente já conseguiu isso. Acho que a gente está tentando criar isso fazendo. Não tem uma receita, não tem um manual, é trocar o pneu com o carro andando. Não é simples, é difícil, mas é uma aposta, uma tentativa que a gente está fazendo de atualizar a política, de superar a crise de representação que a gente encontra hoje no sistema político-partidário. Hoje as pessoas olham para a maioria dos partidos e dizem: não me representa. Isso existe, é uma realidade, e tem que ser enfrentado e superado. Na Rede, a gente está tentando criar isso, esse é nosso esforço.

Segundo as pesquisas, as intenções de voto em tua candidatura ainda estão longe dos votos obtidos por Marina Silva no Rio. Qual a estratégia nesta reta final de campanha para tentar chegar ao mesmo patamar conquistado por Marina?

Em relação à intenção de voto, eu acho que as pessoas vão escolher o seu candidato nos últimos dias, depois do debate da Globo. Eu acho que os candidatos vão ser escolhidos pela população na sexta e no sábado, ninguém sabe direito em quem vai votar. Mais da metade das pessoas ou não tem candidato ou tem mais admite mudar. Então, a eleição está totalmente aberta, acho que pode acontecer qualquer coisa. Tem o Crivella, que está bem na frente, e o resto está todo embolado. Então, a gente vai apostar na consciência do eleitor, continuar participando dos debates. Eu tenho ido a todos os debates que eu posso e conversado com um monte de gente para compensar o pouquíssimo tempo de tevê que eu tenho, dezoito segundos.

Nesses últimos dias antes da eleição, a Marina vem ao Rio para te ajudar na campanha?

A gente está tentando a presença da Marina antes da eleição. Se for possível, no primeiro turno. Se não, com certeza no segundo turno. A presença dela é muito importante, ajuda. Mas, enquanto ela não vem, a gente vai participar de todas as oportunidades que tiver de debate, de entrevista, usar as redes sociais e tudo o que a gente tiver para isso.