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Iluminação de LED amplia sensação de segurança nos bairros da periferia

Medida da prefeitura de São Paulo estimula ocupação de ruas e praças, e melhora a autoestima dos moradores que se sentem mais integrados à vida da cidade

Danilo Ramos/RBA

Iluminação LED nas ruas em Heliópolis trouxe segurança, melhorou o convívio entre vizinhos e levou a população a ocupar mais as ruas

São Paulo – A troca de lâmpadas comuns por luzes de LED na iluminação pública em bairros da periferia da capital paulista tem sido amplamente aprovada pela população. Os moradores de Heliópolis, na região sudeste da capital, e da Brasilândia, no extremo norte da cidade, consideram que a medida trouxe segurança – principalmente às mulheres –, ampliou a ocupação de ruas e praças pelos moradores e melhorou a autoestima das pessoas, já que esse recurso produz um sentimento maior de integração à cidade nos bairros e comunidades beneficiados.

“Heliópolis significa cidade do sol (na origem grega). Eu brinco que agora é cidade do sol de dia e de noite”, diz o arte educador Reginaldo José Gonçalves, de 39 anos, morador há 33 anos no bairro. “Foi colocado LED em tudo: avenida, ruas, vielas e becos. Tinha muito pontos que traziam risco por ficaram totalmente escuros à noite. Isso faz toda a diferença. No primeiro dia, notei uma claridade estranha entrando pela porta. Até assustei, pensei que era fogo”, afirmou.

Danilo Ramos/RBAcrianças
Em noites quentes é comum as crianças ficarem brincando até mais tarde nas ruas em Heliópolis

A diferença é significativa para quem tem a visão acostumada às luzes amarelas que ainda predominam no restante da cidade. Não é difícil identificar o rosto de quem se aproxima ou perceber alguém circulando antes de ingressar em uma viela, por exemplo. A claridade é convidativa, mesmo em um local que as pessoas já ocupam as ruas cotidianamente. “Em noites quentes é comum a criançada ficar brincando até mais tarde, vizinhos conversando, jogando dominó. Ficou um ambiente de cidade do interior”, disse Gonçalves.

A implementação das luminárias de LED no bairro foi concluída em dezembro do ano passado. São 1.300 luminárias instaladas em 224 vias. Segundo a prefeitura, essas lâmpadas consomem 50% menos energia e duram, em média, 12 anos. As anteriores duravam cinco.

Heliópolis tem cerca de 200 mil habitantes e foi o primeiro bairro a receber a nova iluminação. O programa LED nos Bairros, desenvolvido pela atual gestão, já estava em gestação, mas a atuação do Movimento de Mulheres de Heliópolis e Região que determinou o local como piloto da medida. “A demanda surgiu por conta do risco que enfrentamos ao ir à escola, faculdade, trabalho. Eram muitos pontos escuros. E percebemos que essa era uma grande demanda para as mulheres”, disse Priscila Nascimento Esteves, 23 anos, integrante do movimento.

As mulheres fizeram um ato na comunidade, chamado de “lanternaço”. Com velas e cartazes sobre violência e assédio, percorreram os pontos mais críticos de iluminação do bairro, fazendo barulho para chamar atenção dos demais moradores. Depois entregaram ofício à Subprefeitura do Ipiranga, reivindicando a melhoria. Segundo Priscila, a demanda foi repassada à prefeitura e Heliópolis acabou se tornando o primeiro bairro a receber o projeto.

Danilo Ramos/RBApriscila
Priscila e a amiga Fernanda já não se sentem acuadas ao sair ou voltar pra casa à noite

Antes, a chegada em casa da faculdade ou a saída para o trabalho logo cedo eram motivo de tensão e preocupação. “Muitas vezes ficava esperando passar outras pessoas para não caminhar sozinha, por medo de assédio ou de assalto. Minha casa fica perto de um local que era muito escuro. Agora essa preocupação diminuiu, a gente percebe de longe outras pessoas. Não zera porque essa questão do assédio contra a mulher é uma mudança maior”, observa a estudante, para quem o bairro ficou mais bonito. “As pessoas até reparam mais nos grafites, é diferente ver a comunidade.”

Brasilândia

“Imagina: A gente tinha uma praça bonita dessa e não podia usar por medo”, diz a atendente Maria José Souza dos Santos, 33 anos. A praça na Rua Padre Achilles Silvestre era pouco frequentada, por medo. Assim como os muitos escadões que partem da praça para as ruas mais altas do Jardim Paulistano, bairro do distrito da Brasilândia, no extremo norte da capital paulista. Na opinião de Maria José, a melhora da iluminação de LED “é 100%”.

Danilo Ramos/RBAMaria
O caminho casa-trabalho de Maria José deixou de ser motivo de preocupação, na Brasilândia

“Antes eu ficava esperando meu patrão chegar para ir pro trabalho. É uma caminhada curta, mas tinha muito medo de passar pelo escadão e a praça”, afirmou Maria José, que sai de casa às 5h50 para ir trabalhar. “Agora, a gente aproveita melhor. A luz de LED deixou as pessoas mais seguras para fazer caminhada, pras crianças brincarem. O bairro ficou mais vivo.”

A Brasilândia recebeu sete vezes mais pontos de luz de LED, comparando a Heliópolis. Foram 9.400 postes, em 708 ruas. Parte significativa do distrito da Brasilândia foi contemplada. A reportagem da RBA percorreu quase cinco quilômetros de ruas e avenidas iluminadas por este sistema, cujo impacto é semelhante ao ocorrido em Heliópolis.

Vendedor de churrasco próximo ao ponto final das linhas de ônibus do bairro, Damião Silva, 42 anos, avaliou que até a clientela aumentou com a mudança na iluminação. “Antes dava muito assalto aqui. Principalmente contra as mulheres. Agora ficou melhor. As pessoas sentem mais confiança e ficam mais tranquilas mesmo com o avanço das horas”, observa Silva, que fica até meia-noite no local, diariamente.

Danilo Ramos/RBAJuracy
Oliveira contou que a população ficou ‘alucinada’ ao ver a diferença da luz de LED

“No primeiro dia, o povo ficou meio alucinado”, lembra o líder comunitário Juracy Silva Oliveira, 56 anos. “As pessoas perguntavam ‘o que é isso, que luz é essa?’ Melhorou muito. Antes tinha vários buracos negros que favoreciam os assaltos e o abuso contra mulheres. E hoje vemos famílias inteiras aproveitando a rua à noite.”

Além dos bairros visitados pela RBA, a iluminação LED já foi implementada em Pedreira, Jardim Helena, Jardim Ângela, Sapopemba, Lajeado e Raposo Tavares, no corredor Norte-Sul e nas marginais Tietê e Pinheiros. A segunda etapa do programa, ainda em andamento, prevê contemplar os bairros de Cidade Tiradentes, Guaianazes, parte do Jabaquara, Iguatemi, parte do Grajaú, Perus, São Rafael, Capela do Socorro, Jaçanã, Itaim Paulista e Vila Curuçá. O prefeito Fernando Haddad tem dito que a meta é substituir toda a iluminação da cidade por LED até 2019.