Eleições 2016

Haddad dribla ‘parceria’ de João Doria, Marta e Russomanno no último debate

Diante de provocações, durante debate na TV Globo, prefeito de São Paulo e candidato a reeleição fez adversários ouvirem várias vezes que estavam 'mal informados'

Leonardo Benassatto / Futura Press/Folhapress

Doria, Russomanno, Haddad, Erundina, Marta e Major Olímpio: último confronto antes da votação

São Paulo – O último debate antes do primeiro turno da eleição municipal em São Paulo, na sede da Rede Globo, reuniu os candidatos Fernando Haddad (PT), Luiza Erundina (Psol), Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB), João Doria (PSDB) e Major Olímpio (SD). O atual chefe do Executivo paulistano demonstrou segurança e didatismo diante das alfinetadas. Os adversários do prefeito ouviram o eficiente “você está mal informado”, seguido da devida explicação, como resposta a provocações dirigidas ao candidato à reeleição em várias oportunidades.

Russomanno, por exemplo, afirmou defender polos de emprego com impostos “mais baratos” e quis saber por que Haddad não baixou tributos para incentivar a economia do município.

“Você está mal informado”, rebateu o prefeito. Ele lembrou a Russomanno o Programa de Incentivos Fiscais para a Zona Leste. Citou o Passe livre do Estudante, que beneficia 700 mil jovens e tem uma função de subsídio, ajudando no orçamento doméstico na medida em que o aluno economiza nas passagens. Sancionada em dezembro de 2013, a Lei 15.931 estabelece incentivos fiscais para instalação de empresas na zona leste de São Paulo.

Mais adiante, Russomanno falou em saúde e prometeu que tudo o que Haddad não terminou “eu vou terminar”. Repetiu, como vem afirmando na campanha, que a solução para a saúde é a informatização e falou em colocar prontuários em chips. Haddad respondeu: temos (atualmente) 550 mil paulistanos com prontuário eletrônico. Hoje tem a tecnologia de nuvem, que talvez você não conheça. Chip está ultrapassado, a pessoa pode inclusive perder. Russomanno, na tréplica, aparentemente desconcertado, garantiu: “Vou ter o prontuário no chip e vou ter na nuvem.

Major Olímpio repetiu a vinculação entre PT e corrupção e perguntou o que o prefeito vai fazer contra a corrupção. Também ouviu que está mal informado. Haddad citou a Controladoria Geral do Município e afirmou: “Nós desbaratamos a máfia do ISS”, disse, lembrando que existem nomes ligados às gestões dos ex-prefeitos José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD) acusados de participar do esquema.

Erundina foi a candidata que se lembrou de vincular Marta ao presidente Michel Temer e sua pauta de retrocessos em direitos trabalhistas, civis e humanos. Ela quis saber da peemedebista o que tinha a dizer sobre a medida provisória com que “o presidente ilegítimo, seu presidente”, pretende mudar o ensino médio no país.

Após Marta dizer que as iniciativas da MP da educação foram bem recebidas por especialistas, Erundina atacou: Não sei de que especialistas você está falado. Tirar filosofia, sociologia, artes e educação física (do currículo) vai empobrecer a educação. O debate não chegou na Câmara, onde eu milito, nem na sociedade“.

Haddad parece ter percebido a “parceria” entre os três principais adversários e os acusou de demagogos por combater a redução da velocidade em São Paulo. “Doria, Marta e Russomanno fazem demagogia pela caça ao voto, o que coloca em risco a vida das pessoas. É covardia subir a velocidade e matar pessoas para ganhar votos. Temos que impedir que as pessoas usem a velocidade como arma. São Paulo é mais do que a demagogia barata”, disse o prefeito.

Segundo o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, os adversários do atual prefeito não atuaram contra Haddad por acaso. “Doria, Russomanno e Marta estabelecendo parcerias contínuas no debate para criticar Haddad, firmaram um pacto entre eles e não se criticam, centraram fogo na atual gestão. Se alguém tinha dúvida sobre o crescimento das intenções de voto em Haddad, está aí a prova”, comentou Marchetti, em sua página no Facebook.

Além de reforçar inúmeras vezes o bordão “não sou político, sou gestor”, que tem dado certo em sua campanha, o tucano João Dória destacou em vários momentos no debate o caráter repressivo e policialesco que pretende dar ao seu governo, se eleito. “Não vamos mais permitir invasões de propriedades públicas ou privadas. Vamos agir junto com o governo do estado”, afirmou, citando a Polícia Militar. Depois, voltou a falar na polícia como necessária para combater pichações, por exemplo.

Em tabela com Russomanno, o candidato do PSDB foi convidado a falar sobre drogas. “O primeiro que vamos fazer é acabar com o programa De Braços Abertos”, enfatizou Doria. Ele prometeu que o problema das drogas vai ser enfrentado com internação clínica e parcerias entre as polícias estadual, Federal e Guarda Civil Metropolitana.

Erundina chamou a atenção para outra faceta do candidato de Geraldo Alckmin. “É incrível como sua preferência é pela privatização das ações públicas”, disse, dirigindo-se a Doria. “Isso se tornou um mantra”, emendou a ex-prefeita. Ela ainda afirmou ao tucano que ele desenvolve “ação lobista” e usa “recursos públicos para produzir fóruns (privados)”. “O senhor está praticando ação política como lobista.”

Encerramentos

Em suas considerações finais, cada um dos candidatos despediu-se da campanha do primeiro turno reafirmando otimismo em relação às votações de domingo e tentando imprimir uma marca à sua candidatura.

Erundina lembrou que já foi prefeita e saiu bem avaliada e prometeu “inversão de prioridades”, garantindo a participação popular nas questões mais importantes. Também prometeu combater as desigualdades. “No primeiro turno, escolham a melhor proposta, em relação à qual tenham maior confiança. E essa proposta é a do Psol.”

Marta classificou suas propostas como “realistas e transparentes” e ressaltou a disputa entre ela, Russomanno e Haddad pela vaga no segundo turno contra Doria, que lidera as pesquisas. “Haddad é o prefeito que você conhece. Está de costas para a periferia, promete e não entrega. Russomanno tem vários escândalos com trabalhadores”, e citou o caso dos garçons demitidos de um restaurante de Russomanno que brigam por direitos na Justiça.

“Ao longo de toda a minha vida, sempre dei a cara a tapa para defender as pessoas”, afirmou Russomanno, alegando que Marta se esconde em comerciais de televisão com ataques contra ele. Prometeu fazer gestão “olhando nos olhos”, defendendo e cuidando do cidadão/eleitor.

“Sou um gestor, um administrador, um empresário que vai atuar na política para resolver os problemas da cidade de São Paulo”, afirmou Doria, que prometeu “um olhar de eficiência e realização”, principalmente para a população mais humilde que precisa de ajuda na educação, saúde, mobilidade urbana e geração de empregos.

Major Olímpio disse que a decisão do futuro da cidade está na ponta dos dedos do cidadão e ressaltou que as propostas dos demais candidatos são, em sua maioria, “inexequíveis” diante do orçamento. Ele ressaltou ter “currículo, e não ficha corrida” e pediu oportunidade para recuperar a cidade. “Tolerância zero em relação ao ilegais.”

Último a falar, Fernando Haddad afirmou que há dois projetos em disputa “um projeto privatista que quer vender a cidade, dos cemitérios aos corredores de ônibus, das ciclovias ao futuro parque de Interlagos. E outro projeto, que vê a cidade como um bem público”, e ressaltou a necessidade de encurtar as distâncias entre o centro e as periferias, levando equipamentos públicos, como hospitais e escolas, para as áreas mais afastadas. “Você sabe o número que leva os benefícios para a periferia. Esse número é 13.”