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‘Programa de Temer dificilmente seria aprovado nas urnas’, diz Pablo Ortelado

Professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP acredita que o presidente recém-empossado encontrará resistência até em seu próprio partido para impor medidas tão impopulares

Marcos Corrêa/ PR

“A gente esta vivendo um momento de desgaste com a política”, diz Ortellado

São Paulo – O professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP Pablo Ortellado afirmou hoje (31) que as propostas do governo de Michel Temer de congelamento de gastos públicos com saúde e educação pelos próximos 20 anos e reformas previdenciárias e trabalhistas dificilmente seriam aprovadas em uma eleição, por serem muito impopulares. “Ele vai aproveitar que passou sem o aval das urnas para tentar implementá-lo nesses dois anos”, afirmou.

A tarefa, no entanto, não deve ser fácil para o presidente recém-empossado: além de encontrar resistência de parlamentares contrários ao impeachment de Dilma Rousseff ele deve encontrar dificuldades dentro do próprio partido. “O PMDB não tem muita consistência ideológica. Ele vai encontrar resistência porque muitos não vão querer se arriscar nas eleições”, disse. “Corte em saúde e educação é um dos poucos consensos da sociedade brasileira. Medidas que mexam com isso são profundamente impopulares”, disse em alusão à PEC 241, que congela o investimento nas áreas.

O professor considerou o processo de impeachment um “jogo de enganos” e afirmou que o país vive uma “grande ressaca moral”. “Ninguém está conseguindo se mobilizar para nada. As últimas marchas contra e a favor do impeachment foram esvaziadas, assim como as contra as Olimpíadas e contra as reformas de Temer.”

“A gente está vivendo um momento de desgaste com a política. Foi um processo, nos últimos dois anos, de situações muito extremas e injustas: de um lado dizia-se que o PT era uma quadrilha, de outro, que a interrupção do processo democrático era um golpe. Isso polarizou muito e desgastou”, afirmou Ortellado. “Os partidos dessa nova oposição vão se opor a essa agenda programática e quando essa ressaca passar vamos ter mobilização social forte.”

Ortellado defendeu ainda que o impeachment foi motivado por um grande escândalo de corrupção que envolvia diversos políticos e acabou funcionando como um “recall”.

“O grande absurdo não é ter sido considerado crime de responsabilidade. O que me parece mais absurdo é que mesmo que fosse isso não seria motivo para impeachment. O impedimento é um trauma, interrompe um mandato eleitoral de um país de diversos milhões de pessoas. Para fazer isso é preciso ter um motivo muito sério, porque deixa marcas, cria instabilidade política. As pedaladas fiscais não são um motivo extremo. É uma prática adotada recorrentemente por diversos governos.”

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