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Por foco anti-impeachment, PCdoB minimiza polêmica com PT no Maranhão

Para presidenta da sigla, Luciana Santos, compromisso é por defesa de um projeto de democracia e contra o retrocesso no país. Por isso, segundo ela, alianças municipais não estão relacionadas com a questão

Luís Macedo/Agência Câmara

Mesmo sem apoio do PT em candidatura à prefeitura de Olinda (PE), Lucina não quer “agenda de retrocessos”

Brasília – Enquanto articulações para conseguir votos contrários e favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff esquentam os bastidores do Congresso, deputados e senadores do PCdoB e do PT passaram a manhã de hoje (23) tentando evitar falar em melindres entre as duas siglas e reforçaram a posição de que estão juntos contra o afastamento de Dilma – cuja fase final começa quinta-feira (25). Mais uma vez, o epicentro da suposta crise é o Maranhão, estado conhecido por peculiaridades políticas e onde sempre houve confusão na hora de serem firmadas alianças pelo PT. Principalmente em épocas de eleições municipais ou estaduais.

Muitos, como o governador Flávio Dino (PCdoB), que costuma se manifestar por redes sociais e é afeito a entrevistas, evitaram declarações. O intuito é mostrar que, ao menos a princípio, a prioridade é a votação do impeachment. O que for acertado ficará para ser discutido posteriormente.

“Todo mundo sabe que a situação do Maranhão sempre foi complicada na hora dos arranjos locais e sabe também o peso da participação do governador Flávio Dino em todo esse processo de defesa da democracia e contra o golpe que está armado no país. A tentativa de isolar o PCdoB do PT é mais uma das armadilhas tramada pelo pessoal do PMDB nas vésperas dessa votação”, disse um assessor direto de Dino.

O que suscitou a confusão foi notícia veiculada hoje no jornal Folha de S.Paulo de que, em troca de mudarem seus votos, dois senadores maranhenses, João Alberto (PMDB) e Roberto Rocha (PSB), teriam recebido propostas do PT de trocar de apoio ou deixar de apoiar alianças em cinco cidades do estado. E este acordo teria sido reduzido para duas destas cidades, Codó, e Timon, a pedido de Flávio Dino, que teria conseguido evitar a perda do apoio do PT nas alianças firmadas na capital do estado, São Luís, e nos municípios de Imperatriz e Balsas.

Dino, que conforme informações desencontradas – confirmadas por alguns deputados maranhenses, mas negadas por outros da mesma bancada –, teria conseguido evitar o pior, sempre teve estreitos laços com o Palácio do Planalto nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Dentre os senadores citados, Roberto Rocha negou tudo e disse que ainda não sabe como votará. João Alberto não foi encontrado pelos jornalistas e sua assessoria não retorna os pedidos de entrevista.

‘Não está em jogo’

No início da tarde, a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), presidente nacional do partido, afirmou que não tinha conversado com a executiva nacional do PT sobre o tema até aquele momento e que a sigla, obviamente, quer uma abertura para conversar e discutir sobre alianças feitas com o PT no país, como sempre ocorre. Mas ela deixou claro: “Não é isto que está em jogo agora”.

Luciana disse que o apoio do PCdoB a Dilma independe das alianças a serem feitas nos municípios e estados e em momento algum vai interferir em relação a qualquer posição do partido. “Nós defendemos um projeto de política, um princípio. Queremos que nossa relação política e os programas que foram observados até agora possam continuar caminhando pelo futuro do país, e isso só se dará por meio de um posicionamento contrário ao impeachment”, afirmou.

Candidata à prefeitura de Olinda (PE), em aliança que não tem o apoio do PT, Luciana disse que o PCdoB não quer “essa agenda ultraliberal, de retrocessos e retirada de direitos que ameaça o Brasil com o governo golpista de Michel Temer”. “E por tudo isso, a defesa da presidenta Dilma e nosso trabalho contra o impeachment são assuntos sobre os quais não abrimos mão.”

No caso específico do Maranhão, não é de hoje que o estado é considerado complicado em termos de arranjos político partidários, em função dos conflitos entre as forças adversárias lá existentes. No estado, nos últimos 15 anos, o PT chegou a ter integrantes históricos que fizeram greve de fome em protesto contra o apoio dado pela legenda à Família Sarney, do PMDB. Houve parlamentares petistas que migraram para outras siglas por conta das alianças nacionais.

Muitas divisões

O Maranhão, além disso, foi responsável por divisões internas por conta do apoio dos petistas, em 2014, ao candidato e hoje governador Flávio Dino, enquanto o candidato apoiado oficialmente pelo PT era o peemedebista Edison Lobão Filho, filho do então ministro de Minas e Energia Edison Lobão, hoje senador.

Dino, que sempre apoiou os governos de Lula e Dilma, presidiu a Embratur até deixar o cargo para se candidatar a governador e possui uma rivalidade de décadas com os Sarney, conseguiu quebrar um pouco dessa hegemonia da família patriarcal que se manteve no poder durante tanto tempo. Mas se sabe que, até hoje, a situação observada nos municípios maranhenses é de alianças diferentes dos arranjos feitos no âmbito nacional.

Em razão de toda essa polêmica, o governador do Maranhão, que costuma vir muito a Brasília e já acompanhou algumas das primeiras votações do impeachment, ainda não disse oficialmente se virá esta semana. Ele tem na sua agenda, programada para a quinta-feira, a inauguração de um hospital de alta complexidade no estado.

Mas quem o conhece sabe que faz parte do seu perfil sair de um local e se deslocar de imediato para outro, para cumprir todas as agendas. E o seu silêncio corrobora a posição dos integrantes do PCdoB de trabalhar contra o impeachment até o final.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), considerada uma das principais vozes da sigla em defesa da presidenta afastada, evitou mencionar a situação do PCdoB no Maranhão, mas se manifestou no Senado demonstrando ver de forma positiva a ida de Dilma ao Congresso para apresentar sua própria defesa. Segundo ela, será a chance de a presidenta “ficar cara a cara com os senadores que a acusam”.

Vanessa defendeu o compromisso assumido pela presidenta afastada de convocar um plebiscito para a realização de novas eleições, no caso de voltar ao cargo. “Trata-se de um processo de impeachment que não tem conteúdo, não existe crime e isso já está provado. Quando for dito pela própria presidenta no Senado, certamente terá um peso grande perante muitos colegas”, afirmou.

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