Câmara federal

Passaporte diplomático de deputados federais é usado principalmente para turismo

De 722 viagens feitas com passaporte diplomático desde 1º de janeiro de 2015, 593 foram para esse fim, tendo como principal destino os Estados Unidos

Luiz Macedo/Câmara dos Deputados

Somente 17% viagens com passaporte diplomático tiveram relação com compromissos diplomáticos

São Paulo – A Câmara dos Deputados mantém atualmente 1.190 passaportes diplomáticos emitidos para os 513 deputados federais, seus cônjuges e filhos. Desses, 698 estão em nome dos parentes. Embora o documento tenha por finalidade a utilização para representação oficial do país, garantindo algumas condições diferenciais relativas à segurança e agilidade no embarque, não é esse o principal uso dado pelos parlamentares. Segundo levantamento feito pela RBA junto à 2ª Secretaria da Câmara, por meio da Lei de Acesso à Informação, 82% das viagens foram a turismo.

Segundo os dados fornecidos pela Câmara, no período entre 1º de janeiro de 2015 e 15 de julho de 2016 foram realizadas 722 viagens com passaportes diplomáticos. Dessas, 593 foram a turismo, tendo como principal destino os Estados Unidos, para onde foram realizados 546 deslocamentos (88%). Outros destinos com maior parte de visitas turísticas foram o Canadá (23 viagens), os Emirados Árabes Unidos (18) e Austrália (3).

Outras 121 (17%) viagens com passaporte diplomático tiveram relação com compromissos diplomáticos. O país mais visitado seguiu sendo os Estados Unidos, com 87 viagens. Seguido do Líbano (14), da Zambia (7) e do Canadá (6). Viagens de estudo foram feitas somente aos Estados Unidos. No período foram registradas apenas oito viagens (1%) com essa finalidade.

A RBA pediu à 2ª Secretaria da Câmara as datas das viagens realizadas com passaportes diplomáticos. O órgão informou que não poderia fornecer datas dos deslocamentos porque o sistema que faz a gestão das solicitações de vistos ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) – chamado Pasdep – não utiliza o registro temporal.

O documento diplomático concede alguns benefícios a seus portadores, como fila especial para embarque, dispensa de visto em alguns países e gratuidade na emissão. A emissão a parentes é legal e regulamentada pelo MRE. O Itamaraty informa, porém, que, em caso de viagens de férias a outro país, o passaporte diplomático não concederá “privilégios e imunidades”. O passaporte comum, disponível a todos os cidadãos, custa R$ 257,25.

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mantinha cinco passaportes diplomáticos: dele próprio, de sua esposa, Cláudia Cruz, e dos três filhos, Felipe, Bárbara e Gabriela. Em julho, a Justiça Federal mandou cancelar o passaporte de Felipe, porque ele não se enquadra mais nas condições para ter acesso ao documento: ser menor de 21 anos (ou de 24, se estudante).

O atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), obteve passaportes diplomáticos para a esposa, Patrícia de Vasconcellos Maia, e para os quatro filhos. Situação semelhante à do colega de partido Rodrigo Garcia, secretário da Habitação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que mantém a esposa, Luciana Mara Garcia, e três filhos.

Apesar de suplente, o deputado federal Fernando Torres (PSD-BA) também solicitou cinco passaportes, além do dele: para a esposa, Alessandra Carneiro Roriz Torres, e os quatro filhos. A lista completa de deputados e parentes que mantêm passaportes diplomáticos pode ser acessada no site da Câmara Federal.