'jogo sujo'

Partido que deu início a processo contra Cunha cria pódio da cumplicidade

Líder do partido na Câmara, Ivan Valente, diz que Maia insiste em vincular a votação da cassação em plenário à aprovação do projeto de renegociação da dívida dos estados com a União

Antônio Cruz/Agência Brasil

Alencar: ‘Se não marcar, não tem como saber. Marca e quem se ausentar (da sessão) estará declarando sua cumplicidade’

Brasília – A promessa de leitura do parecer do Conselho de Ética pela cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ainda não convenceu parlamentares que defendem a perda do mandato do peemedebista. Deputados do Psol – partido que apresentou a representação contra Cunha há quase dez meses – afirmaram hoje (3) que há um “jogo sujo” ocorrendo na Casa. “Seria possível votar esta semana assim como será possível votar na semana que vem, mas se houver vontade política e não vemos vontade política”, disse Chico Alencar (RJ).

Ele lembrou que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), queria condicionar a votação a um quórum mínimo de 400 deputados em plenário. Enquanto isso, o Centrão – bloco que reúne partidos aliados ao governo interino de Michel Temer – poderia “tirar do plenário” 200 dos 513 parlamentares da Casa. “Se não marcar (sessão para votar parecer) não tem como saber. Marca e quem se ausentar estará declarando sua cumplicidade (a Cunha)”, afirmou Chico Alencar.

Maia teve o nome estampado no topo de um painel montado pelo Psol, batizado de “Pódio da Cumplicidade”, com os nomes dos parlamentares que consideram responsáveis por “empurrar com a barriga” a cassação de Cunha. De acordo com o partido, o presidente da Câmara, que recebeu a medalha de ouro, é seguido pelo Executivo e, em terceiro lugar, por líderes partidários “omissos”.

O líder do Psol na Casa, Ivan Valente (SP), afirmou que dez líderes declararam, na última reunião do colegiado, interesse em votar o parecer, mas ainda assim não há data prevista para a apreciação deste texto que pode ficar para depois da votação do impeachment de Dilma Rousseff e das eleições municipais.

“Ontem, embora (Maia) tenha anunciado de forma frouxa que vai ler o parecer na segunda-feira (8), ele não marcou data para colocar em votação. O presidente da Casa está protegendo Eduardo Cunha e está ameaçado por Eduardo Cunha. Ninguém quer votar a cassação de Eduardo Cunha porque ele pode abrir o jogo”, atacou.

De acordo com o regimento interno da Câmara, depois de lido, o relatório que pede a cassação de Cunha entra na pauta após 48 horas, abrindo a possibilidade de votação a partir de quarta-feira (10). No entanto, Valente disse que Maia insiste em vincular a votação da cassação em plenário, que não tranca a pauta, à aprovação do projeto de renegociação da dívida dos estados com a União (PLP 257).

Ao deixar a Câmara no final da manhã de hoje, Maia negou que esteja protegendo Cunha ou protelando a conclusão do processo contra ele. “A democracia é assim: cada um faz a manifestação que achar por bem. A Casa tem uma agenda e prioridade e está cumprindo: quer tirar o Brasil da crise. Alguns querem destruir outros querem construir. Eu quero construir”, disse ao reiterar que está mantida a leitura do relatório sobre Cunha na próxima semana.