Crise política

Denúncias contra PMDB e tucano causam discussões em sessão do Senado

“Enquanto Temer é citado por delatores, Dilma, que nunca foi citada por receber recursos, é quem será julgada amanhã”, dizem senadores do PT e PCdoB, que se dizem “indignados” com últimas denúncias

Agência Senado

Fátima Bezerra: oposicionistas a Dilma a sabotaram durante todo o tempo e se juntaram a Cunha, capitão do golpe

Brasília – Senadores aliados do governo provisório de Michel Temer trocaram farpas com integrantes da base de apoio da presidenta Dilma Rousseff na tarde de hoje (8). As denúncias de executivos da Odebrecht , de que interino teria pedido e recebido R$ 10 milhões para o PMDB, em 2014, proveniente de caixa dois, marcaram a sessão.

Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Fátima Bezerra (PT-RN) assinalaram que é “Dilma quem está sendo julgada amanhã” – sem que nenhuma denûncia de recebimentos ilícitos recaiam sobre ela – enquanto “é Temer quem está sendo denunciado por delatores”. Os senadores José Medeiros (PSD-MT), Magno Malta e Ricardo Ferraço (PSDB-ES) saíram em defesa do interino.

Vanessa afirmou que “é preciso barrar o golpe dando uma alternativa dentro da democracia para os brasileiros”. Segundo a parlamentar, essa alternativa passa por uma consulta popular, para que a população brasileira possa se manifestar e dizer se quer ou não antecipar as eleições presidenciais. A senadora destacou, ainda que “os oposicionistas ao governo Dilma a sabotaram durante todo o tempo e o país inteiro sabe disso”.

Fátima Bezerra disse que, como se não bastasse, “acharam pouco e se juntaram ao capitão do golpe, o senhor Eduardo Cunha”. Ela qualificou o processo contra a presidenta afastada como “infâmia”. “Juntaram-se, também, ao vice-presidente conspirador, traidor e oportunista com as pautas bombas, ao longo do ano passado até o início deste ano”, acrescentou. “Amanhã, muitos desses parlamentares golpistas estarão aqui desfilando cinismo e dizendo para o povo brasileiro que a única alternativa que resta é afastar uma presidenta eleita e honesta. Amanhã as ruas se movimentarão de novo.

Viciado até o fim

Vanessa aproveitou para lembrar que já existe um pedido para abertura de processo de impeachment contra Michel Temer, que também assinou os mesmos decretos pelos quais Dilma é processada.

Esse processo de impeachment foi viciado do início ao fim. Primeiro porque o relator do processo contra a presidenta Dilma foi Antonio Anastasia (PSDB-MG), que é do partido que pagou à jurista Janaína Paschoal para elaborar parecer sobre o impeachment. Depois vieram os erros na própria denúncia. Não sei até hoje o que a presidenta tem a ver com o Plano Safra e dizem que a operacionalização do plano tem a ver com pedaladas fiscais. Faltou (para os que acusam Dilma), honestidade para retirar esse item do processo, uma vez que o próprio comitê de perícia formado no Senado disse que de forma cabal que não houve participação dela na operacionalização do plano safra”, afirmou, destacando que “o tempo é o senhor da razão e muitas vezes o tempo chega até antes do que imaginávamos”.

Para Fátima Bezerra e Vanessa Grazziotin, as denúncias divulgadas nos últimos dias praticamente “escancaram” os motivos pelos quais o presidente em exercício e seus ministros, mais precisamente José Serra, das Relações Exteriores, “querem acelerar o processo golpista”.

De acordo com Fátima Bezerra, “o verdadeiro motivo é o medo” de que as revelações da lava jato exponham cada vez mais o “esgoto” no qual todos estão envolvidos. “Em contrapartida temos uma presidenta que estão querendo afastar por conta de decreto de suplementação orçamentária, quando até hoje nenhuma destas delações aponta o nome da presidenta nem o recebimento de qualquer recurso em benefício próprio”, disse, dizendo estar indignada.

Os senadores José Medeiros (PSD-MT) e Ricardo Ferraço (PSDB-PR) discursaram em defesa de Temer. Medeiros comparou a situação do país a “um barco desgovernado” que, antes de o presidente provisório assumir, “estava caindo na cachoeira”. Segundo ele, Temer não deixou isso acontecer. Ricardo Ferraço, por sua vez, disse que as falas proferidas pelas petistas são “tendenciosas e parciais” e que mesmo o conteúdo de delações premiadas precisa ser, antes provado para ser tido como certo.

A sessão continua e o clima é de tensão. Estão inscritos para falar o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), o líder do PT, Humberto Costa (PT-PE) e o líder das minorias, Lindbergh Farias (PT-RJ).

No início da tarde, o Palácio do Planalto respondeu a pedido de esclarecimentos da RBA que não vai se pronunciar sobre a revista Veja, que divulgou a denúncia feita por executivos da Odebrecht sobre Michel Temer e seus ministros. A explicação do Palácio é que a notícia não corresponde à verdade e a matéria foi elaborada sem provas, motivo pelo qual, além de responder apenas ao veículo responsável pela denúncia, a Secretaria de Comunicação do governo provisório não vai divulgar qualquer nota ou comunicado oficial a respeito.

As denúncias sobre o presidente em exercício feitas pelo presidente da Odebrecht foram de que Temer teria recebido, durante reunião no Palácio do Jaburu – residência oficial da presidência da República – propina da Odebrecht no valor de R$ 10 milhões, que teriam sido acertados durante reunião com um executivo e pago ao hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Já em relação ao ministro José Serra (PSDB), as informações divulgadas são de que teria recebido, em 2010, R$ 23 milhões da empreiteira via caixa dois, além dos R$ 2,4 milhões declarados pelo tucano ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – os valores atualizados pela inflação somariam hoje R$ 34,5 milhões. As informações foram repassadas por executivos da Odebrecht aos investigadores da Operação Lava Jato durante delação premiada, vazada no último final de semana. E foi encaminhada à Procuradoria-Geral da República.

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