Conjuntura

Eleição na Câmara vai dar a medida da influência de Eduardo Cunha

Para Maria do Socorro Sousa Braga, viagem de Lula ao Nordeste faz parte de uma estratégia do PT de procurar se fortalecer nas pequenas cidades, onde o PMDB se mantém com grande densidade eleitoral

José Cruz/ABr

“Se o candidato de Eduardo Cunha levar, ele continua influenciando até o Executivo”, diz analista da Ufscar

São Paulo – A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, na quarta-feira (13), vai dar a medida de qual ainda é a influência do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo na semana passada. “A eleição é um dos fatores importantes na conjuntura. Cunha vai tentar influenciar ao máximo para que o candidato dele, (Rogério) Rosso, se eleja”, diz a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos.

O deputado do PSD do Distrito Federal é aparentemente a aposta do ex-presidente da Câmara. “Se o candidato de Eduardo Cunha levar, é porque ele continua influenciando até o Executivo, o Temer continua com ele de braços dados, e continuará dependendo dele no Congresso inclusive para passar as medidas impopulares.” Rosso nega que seja o candidato do peemedebista.

A estratégia de parte do PT de apoiar Rodrigo Maia (DEM-RJ), se confirmada, “é triste, mas servirá justamente para reduzir a influência de Cunha”, lembra a professora. Para ela, a força do deputado está diminuindo, apesar das avaliações de que a renúncia foi uma jogada para tentar salvar o mandato. “Eu ainda vou na tese de que ele está perdendo espaço. Os conflitos internos entre esses setores que o apoiavam estão aumentando e isso pode acabar ajudando a própria Dilma.”

O deputado José Guimarães (PT-CE) reconheceu hoje (11) que seu partido e aliados estão “trabalhando firmes e fortes para eleger um candidato que seja anti-Cunha e anti-Temer”. O petista não quis dizer se o candidato seria Rodrigo Maia.

Maria do Socorro comentou a afirmação da presidenta afastada, Dilma Rousseff, em entrevista exclusiva à RBA, que disse que “cada vez que você dá mais um passo no sentido de afastá-lo (Cunha), melhora o ambiente, cria uma perspectiva favorável ao país”. “Se ele for afastado, você vai ter uma recomposição das forças do Congresso. As práticas dele vão ter menos influência sobre os deputados. Você vai ter um Congresso mais sensível em relação às demandas sociais e de crescimento econômico”, afirmou Dilma.

Para a professora da Ufscar, ao fazer essa afirmação, a petista está pensando no tabuleiro político de maneira mais ampla do que simplesmente sobre aspectos relacionados a Cunha. “Quando ela diz isso, tenho impressão que está relacionado com essa perda de poder (de Cunha) e, ao mesmo tempo, fala do fortalecimento de possíveis cenários que podem vir a ajudá-la a ter mais chance de reverter o quadro do impeachment”.

Ela lembra que há muitas especulações sobre mudanças de alguns senadores em relação ao  impeachment. “Alguns senadores estariam mudando de opinião ou indecisos, embora não se possa dizer ao certo sobre quem de fato mudou, qual o número. Se de fato houver a confirmação dessas mudanças, a gente poderia afirmar que o quadro estaria se tornando mais propenso a Dilma”, avalia Maria do Socorro.

Em sua opinião, a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Nordeste faz parte de uma estratégia do PT de procurar se fortalecer nas pequenas cidades, nas quais o PMDB se mantém com importante densidade eleitoral. “Penso que a estratégia do PT é aumentar sua capacidade nas cidades pequenas, o que também pode ter algum reflexo sobre alguns senadores na questão do impeachment. Como o PT vai ser muito questionado nas capitais e grandes cidades, ele pretende se interiorizar cada vez mais”, diz.

Ela lembra também que os próximos 30 dias serão decisivos tanto para o impeachment como para o destino de Eduardo Cunha. “Se ele vai ser preso ou perder o mandato não sabemos, mas não tem mais como protelar isso, o que será saudável, porque o país parou.”

Eleições na agenda

Com agosto, as eleições municipais entram na agenda do país, lembra ainda Maria do Socorro, o que certamente trará consequências políticas. “É possível que as eleições venham a pressionar o Legislativo a ter maior ‘sensibilidade’ em relação à população que sofre com possíveis mudanças, a caminho, com o governo Temer. Se esse governo permanecer, as mudanças mais fortes virão entre o final deste segundo semestre e o primeiro de 2017, porque no segundo semestre de 2017 já começam as campanhas para 2018.” Para a professora, apareceriam então os conflitos entre PMDB e PSDB. “Mas até lá eles devem manter uma aliança forte.”

Com a entrada das eleições municipais na agenda, os políticos, principalmente deputados que pretendem disputar prefeituras, vão evitar aprovar pautas impopulares, acredita. “A atual conjuntura é muito adversa para a política mais tradicional e antiga. A tendência é de que se renovem muitos quadros nas eleições, pelo menos em relação a políticos que aparecem ligados à Lava Jato ou a outros escândalos. Por isso, nesse segundo semestre, essa ‘sensibilidade’ de deputados deve aumentar, porque o que fizerem de impopular vai recair sobre os principais partidos, que já vêm sendo bastante questionados.”

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