Mujica diz que juízo antecipado do impeachment não faz bem à imagem do Brasil
Ao participar do seminário 'Democracia na América Latina', ex-presidente uruguaio disse acreditar que conquistas sociais permanecerão como legado e não serão totalmente desfeitas
Publicado 28/07/2016 - 11h24
“Não podemos nos conformar com a miserável democracia contemporânea”, disse o ex-presidente uruguaio
São Paulo – O ex-presidente e atual senador uruguaio José Pepe Mujica criticou ontem (27), para mais de 4 mil pessoas, em Curitiba, o juízo antecipado que se faz sobre o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.“Fala-se publicamente como se essa decisão já tivesse sido tomada, e esse gesto antecipa a decisão do Senado brasileiro. Isso não faz bem à imagem do Brasil. Espero que, com o tempo, isso possa ser superado”, afirmou, lembrando que o processo ainda depende de votação final. A plateia reagiu aos gritos de “Fora, Temer”.
O seminário Democracia na América, promovido pelo Laboratório de Cultura Digital da Universidade Federal do Paraná (UFPR), também contou com a participação do senador Roberto Requião (PMDB-PR), do professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Gilberto Maringoni e docentes da UFPR.
Mujica lembrou que a democracia também está em constante construção, que não é estática, e que depende da ação daqueles que não se conformam com os seus limites, e que é papel da política sonhar e lutar por um mundo melhor. “A democracia nunca está terminada, nunca está perfeita. Não podemos nos conformar com a miserável democracia contemporânea”.
Para o ex-presidente uruguaio, a democracia não pode se orientar apenas por valores econômicos e a busca pelo crescimento. “Temos que lutar é por uma sociedade diferente, por transformar a civilização, em que a prioridade seja viver e não trabalhar.”
Mujica destacou que a “sociedade fria” está transformando os indivíduos em compradores, pagadores de contas, compradores de felicidade e que a sociedade de mercado quer transformar nosso tempo de vida em uma mercadoria.
Sobre os avanços da direita na América Latina, disse acreditar que conquistas sociais permanecerão como legado e não serão totalmente desfeitas e que, para que a democracia avance no continente, é preciso resolver as profundas desigualdades existentes na região.
“O homem tem os recursos para varrer a miséria de todo o mundo. Basta que esta seja a prioridade. Já tem os recursos. Não há problema ecológico, há problema político”, afirmou Mujica. Para ele, a necessidade de transformação não é apenas material, como “acreditou a esquerda por muito tempo”, mas cultural.