Operação Turbulência

Empresário investigado em esquema ligado ao PSB foi morto por envenenamento

Caso apura fraude relacionada a recursos ilegais para campanhas eleitorais do PSB, e foi deflagrado na última semana pela Polícia Federal. Suspeita é de movimentação irregular de R$ 600 milhões

divulgação/pf

Material encontrado com o empresário morto inclui pen drives, celulares e cadernos com anotações

Brasília – O Instituto Médico Legal (IML) de Pernambuco apresentou hoje (30) novos dados sobre o laudo da morte do empresário Paulo César de Barros Morato, morto na semana passada em situação suspeita, em Olinda. Ele vinha sendo procurado pela polícia por envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro que pode estar ligado a campanhas eleitorais do PSB, descoberto após investigação sobre os donos do avião Cessna onde se encontrava o ex-governador Eduardo Campos, durante o acidente aéreo que o vitimou, ao lado de outras cinco pessoas, em agosto de 2014. Conforme reportagem divulgada pela Folha de Pernambuco, ficou constatado que a causa da morte foi envenenamento, provocado por um pesticida.

A conclusão do IML foi obtida após o resultado de um segundo estudo, mais detalhado, das vísceras do empresário, realizado pelo IML da Paraíba. A partir de agora, caberá à polícia apurar se Morato se suicidou ingerindo o veneno ou se foi assassinado. O corpo dele foi liberado na tarde de hoje e está sendo aguardada a chegada da sua família para realizar o velório e sepultamento.

As primeiras investigações da Operação Turbulência, da Polícia Federal, que apura o esquema de lavagem de dinheiro, apontam que Morato atuava como uma espécie de “testa de ferro” de uma organização criminosa que agia por meio de empresas fantasmas. Ele era o único foragido da operação Turbulência, deflagrada na última terça (21), e o real proprietário da empresa Câmara & Vasconcelos, envolvida na compra do avião Cessna Citation PR-AFA.

Sua empresa teria sido contratada pela OAS por R$ 18,8 milhões para prestar serviços de terraplanagem durante as obras da transposição do Rio São Francisco – e teria movimentado a maior quantia de dinheiro dentro do esquema. O inquérito aponta, ainda, que o empresário ainda mantinha R$ 24,5 milhões em sua conta.

Dúvidas sobre a perícia

A morte de Morato suscitou divergências entre técnicos e peritos de Pernambuco, pelo mistério que está sendo feito em torno das investigações do caso. Pelo fato de ter sido desautorizada a realização de perícia no quarto de motel onde o empresário foi encontrado morto sem um motivo plausível, o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE) e a Associação dos Peritos de Pernambuco (Asppape) protocolaram esta semana um pedido de informações na Secretaria de Defesa Social (SDS) sobre os procedimentos tomados no caso da morte de Paulo César Morato.

A secretaria explicou que a delegada Gleide Ângelo solicitou a realização do exame quando o corpo foi encontrado, na noite da quarta-feira (22), mas como os papiloscopistas não conseguiram iniciar o procedimento, não houve mais necessidade de o trabalho ser realizado no dia seguinte. Segundo a reportagem da Folha de Pernambuco, a informação contradiz a declaração da gerente geral de Polícia Científica, Sandra Santos que afirmou, durante entrevista, que o procedimento foi realizado.

Relatório da PF

Um relatório da Polícia Federal divulgado recentemente apontou que a aeronave Cessna Citation 560 foi adquirida por uma espécie de consórcio envolvendo pelo menos três empresas que lavavam dinheiro de obras públicas para campanhas eleitorais. Segundo a PF, o esquema teria movimentado cerca de R$ 600 milhões, com o envolvimento de pelo menos 30 pessoas físicas e 40 jurídicas dos estados de Pernambuco e Goiás.

Segundo a investigação, somente uma das empresas, a Geovane Pescados, com um capital social de apenas R$ 80 mil, teria movimentado mais de R$ 20,9 milhões entre 1º de janeiro e 27 de agosto de 2014. O espaço de tempo coincide com o período eleitoral. A empresa de Paulo César de Barros Morato também movimentou os recursos da construtora OAS entre 1º de janeiro e 27 de agosto de 2014.

Logo após a deflagração da operação, o diretório nacional do PSB divulgou nota dizendo que confia na idoneidade de Campos (que também era presidente nacional do partido), e destacou que vai aguardar o final das investigações para se manifestar.

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