SEGREDOS

Dilma diz que Temer não consegue governar sem falar com Eduardo Cunha

Ao criticar encontro secreto realizado entre o presidente interino e o deputado afastado, no domingo (26), presidenta também destacou necessidade de se fazer 'profunda reforma política no país'

R. Stuckert – Antonio Cruz / ABr

Dilma alerta para novo ‘encontro secreto’ entre o interino Temer e o afastado Cunha

Brasília – Chamou a atenção o fato de o presidente provisório, Michel Temer (PMDB-SP), ter recebido, no último domingo (26), o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para uma reunião. O encontro, que deveria ser secreto, chegou a ser negado pelos assessores de Temer, mas foi confirmado depois. A presidenta afastada Dilma Rousseff, afirmou, em sua conta no Twiter, que o presidente interino “não consegue nem governar sem conversar com o presidente suspenso da Câmara, que já foi denunciado no STF por duas vezes”.

O encontro entre Temer e Cunha foi o segundo entre os dois realizado às escondidas mas que, depois, acaba sendo vazado para a imprensa. A reunião foi primeiramente negada, tanto por Cunha como por assessores do Palácio do Planalto. Mas um dos ministros do governo provisório disse a jornalistas que foi uma decisão estratégica ter sido realizado no próprio Palácio do Jaburu, onde reside o presidente em exercício, para mostrar que não tinha sido um encontro secreto.

O desencontro de informações sobre a reunião entre Temer e Cunha, que conforme esse ministro teve como objetivo discutir a crise política do país, provocou mal estar entre a base aliada de Temer no Congresso.

Em seu twitter, Dilma Rousseff ressaltou também que “o erro mais óbvio que cometi foi a aliança que eu fiz, para a reeleição, com o grupo político de quem teve atitude de usurpação e traição”.

“Poderíamos ter sido mais contundentes para denunciar golpe articulado pela mídia, descontentes que ‘não queriam pagar o pato’ oposição e golpistas”, disse a presidenta.

Dilma disse ainda ser necessária uma profunda reforma política e que não está em questão apenas o mandato do presidente da República, mas de todo o Legislativo. “Estamos num momento especial. É preciso recompor conquistas e abrir caminhos para que se crie uma verdadeira democracia”.

Para muitos, a declaração foi um sinal de que a presidenta apoia abertura de discussões sobre a antecipação das eleições gerais no país – assunto que tem sido debatido com representantes de movimentos sociais, centrais sindicais e parlamentares da base de apoio de Dilma, mas sem consenso firmado até agora.

Renúncia ao cargo

Na última semana, ao marcar uma entrevista coletiva para dizer que não vai aderir à delação, o deputado afastado mostrou bem a redução do seu poder. Foi acompanhado de apenas dois parlamentares ao local da entrevista, quando antes, andava cercado por um séquito de peemedebistas. Há uma articulação sendo feita para que Eduardo Cunha renuncie ao cargo de presidente da Câmara, o que permitirá que, antes mesmo da cassação, possa ser negociada uma nova eleição para substituir o interino, deputado Waldir Maranhão (PP-MA) – que já coleciona uma série de trapalhadas.

Outro assunto que tem suscitado muito debate é o verdadeiro poder de Cunha no governo Temer, uma vez que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pediu exoneração recentemente por causa de denúncias que o envolvem na operação Lava Jato, foi nomeado como uma indicação da cota de Cunha. E não se sabe se o seu substituto também será nomeado pelo presidente afastado da Câmara.

“O que se sabe e que não pode mais ser escondido de ninguém é que este senhor continua tendo poder aqui dentro do Congresso e tentando usá-lo para fazer as manobras que ainda puder”, disse, na sexta-feira (24), o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).

“Cunha é Temer”

Em entrevista concedida para jornalistas da Agência Pública, divulgada no final de semana, a presidenta Dilma afirmou que se voltar ao Planalto não fará a recomposição partidária com aliados que tinha antes, numa crítica direta aos peemedebistas. O que resta saber – e é objeto de discussão e especulação ao longo desta terça-feira, na capital do país – é: qual é, hoje, o real tamanho de Eduardo Cunha no governo de Temer e se o próximo ministro do Turismo continuará a ser alguém considerado próximo dele.

Por enquanto, todos lembram, quando tratam do assunto, a frase da presidenta, dita nos últimos dias, ao comentar as gravações de conversas gravadas por Sérgio Machado com caciques do PMDB em que, numa delas o senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirma “Cunha é Temer”. “Jucá está certo. Cunha é Temer”, disse Dilma, que já chamou o deputado afastado de “golpista-mor do país”.

Enquanto apara estas arestas, o presidente interino se reúne à noite com senadores na casa do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O objetivo oficial do encontro é conversar com os parlamentares sobre a importância das matérias sobre o ajuste fiscal que pretende fazer e que quer ver aprovadas pelo Congresso. Mas ninguém duvida mais que o interesse real do presidente afastado é dar uma de “candidato em véspera de eleição” e pedir voto aos indecisos pelo impeachment, para garantir o seu mandato até 2018.

A principal preocupação dos peemedebistas, hoje, está na situação de Eduardo Cunha que terá seu processo de cassação julgado em sessão plenária em poucas semanas e é considerado um empecilho e um desgaste para o partido. Por outro lado, pelo grande número de informações que possui, Cunha é visto como uma caixa preta contra os políticos que sempre transitaram ao seu redor e, por isso, precisa ser bem tratado, pois pode fazer, a qualquer momento, denúncias comprometedoras sobre esse grupo, em caso de aderir a alguma delação premiada.


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