Conflito de interesses

Comunidade acadêmica é contra indicação de nome ligado ao mercado para presidir IBGE

Para acadêmicos e pesquisadores, há conflito de interesses; Paulo Rabello de Castro é consultor empresarial, diretor presidente de empresa de classificação de risco – SR Rating – e amigo de Temer

Arquivo/ABr

Para pesquisadores, gestão do IBGE por nome ligado ao meio empresarial coloca em risco a credibilidade do órgão

São Paulo – A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisadores ligados à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a universidades federais e estaduais de vários estados brasileiros divulgaram hoje (20) carta em que se posicionam contra a indicação de Paulo Rabello de Castro para a presidência do IBGE. Para os signatários do manifesto, trata-se de uma medida “extremamente preocupante”, fruto de uma escolha arbitrária do governo interino de Michel Temer que influencia diretamente os setores da saúde e educação.

De acordo com a direção do ASSIBGE – Sindicato Nacional, que representa os trabalhadores do principal instituto de dados, Rabello está em conflito de interesses com o cargo a ser ocupado não só por ser amigo de Michel Temer, mas por ser também próximo do mercado financeiro. Diretor-presidente da SR Rating, empresa de classificação de riscos, ele é também fundador da RC Consultores, empresas de consultoria financeira que elaboram projeções que são vendidas no mercado, utilizando, dentre outros, dados do IBGE. Ele consta também como especialista do Instituto Millenium.

“O acesso privilegiado aos dados do IBGE será concedido a uma pessoa ligada diretamente à iniciativa privada. Se a indicação e a nomeação se concretizarem, é o fim da credibilidade da instituição”, disse o diretor da ASSIBGE João Machado.

Machado destacou que as informações produzidas e distribuídas pelo IBGE são utilizadas em pesquisas no Brasil e no exterior por sua qualidade e excelência. “As pesquisas do IBGE sempre nos colocaram em igualdade de condições de qualidade ao de pesquisadores dos países centrais”, disse.

Todo ano, o IBGE produz mais de 220 pesquisas econômicas, sociais, demográficas, políticas e geocientíficas, cujos dados são utilizados na formulação de políticas macroeconômicas e para o cálculo do fator previdenciário, por exemplo, ou para a distribuição de recursos dos royalties do petróleo.

“Dessa maneira, o instituto não pode ser apropriado por grupos com interesses específicos. Em vez disso, tem de ser autônomo, imparcial, sem qualquer influência ou submissão a interesses de governos ou do mercado para produzir dados confiáveis”, disse.

Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, os presidentes do IBGE foram indicados pelo Planalto. Porém, eram servidores públicos de carreira.

O anúncio da escolha de Castro para presidir o IBGE veio a público no final de maio. Porém, o instituto segue presidido por Wasmália Socorro Barata Bivar, nomeada em setembro de 2011 pela presidenta Dilma Rousseff até Castro se descompatibilizar do cargo que ocupa no SR Rating.

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