Golpe

Para analista, Cunha age na sombra e terá influência em governo Temer

Na opinião de Maria do Socorro Sousa Braga, o ex-presidente da Câmara, com mandato suspenso pelo STF, 'é um ator que está aparentemente fora do jogo político, que não sabemos como vai atuar'

Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

“Se não mexerem com Cunha e ele se mantiver como parceiro, facilita para Temer”, diz professora

São Paulo – “Um ator que está aparentemente fora (do jogo político), que não sabemos como vai atuar, é o Eduardo Cunha. O governo de Michel Temer vai depender da intervenção de Cunha na governabilidade, na questão da relação entre Legislativo e Executivo. Se não mexerem com Cunha e ele se mantiver como parceiro, facilita para Temer. Se ele ficar na ‘oposição’, vai criar problemas. Cunha está agindo na sombra.” A opinião é da cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

“Espero muito pouco desse governo, dada a sua origem e sua relação com setores muito diferentes da proposta mais à esquerda, da tentativa de dar conta de questões no Brasil que esse setor de centro-direita não vai privilegiar, como maior inclusão social e oportunidades. Vai haver um retrocesso nesse campo”, afirma.

Mas, segundo ela, hoje não se pode afirmar “nada muito contundente, seja na linha de que vai haver um governo Temer pelo menos conseguindo governar, seja o contrário”. “A todo momento aparece um fato novo que desestabiliza uma análise que começa a ter maior consistência. Por exemplo, poderia ter mudado tudo, esta semana, se o STF decidisse a favor do governo. É de fato um golpe, que tem a junção de parte do STF, parte da mídia, parte do Legislativo.”

A cientista política, porém, acredita que se o governo Temer representa a promessa de uma gestão de claro retrocesso na agenda social, alguns fatores políticos conspiram a seu favor, além do apoio considerável no Congresso, especialmente do baixo clero na Câmara, e a influência de Eduardo Cunha agindo na sombra. O ex-presidente da Casa foi suspenso do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta-feira (5).

O governo do peemedebista terá, no Congresso, oposição forte em termos programáticos, mas numericamente frágil, avalia a professora. “E Temer vai ter uma base elástica e muito pragmática. Enquanto isso, a esquerda é pequena, com a menor bancada desde que se tornou governo. Isso a enfraquece na disputa política”, lembra Maria do Socorro. “Parece que Temer vai ter uma base razoável para passar o que eles querem. Mas, quanto maior a pressão da sociedade, menos chance ele tem de permanecer.”

Um fator da conjuntura que pode trazer fatos novos chama-se Delcídio do Amaral, cujo mandato foi cassado ontem (10) pelo Senado. “Algumas coisas vão depender do que se tem por trás dessa delação (de Delcídio)”, diz. Esses seriam elementos com potencial muito desfavorável ao PT, afirma a analista.

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