Dias contados

Conselho de Ética aprova relatório pela cassação de Delcídio

Reunião aconteceu no mesmo horário da sessão da comissão especial que avalia afastamento de Dilma Rousseff. Por 13 votos favoráveis, documento foi aprovado e segue agora para apreciação da CCJ

Jefferson Rudy/Agência Senado

Denúncia contra Delcídio se baseia em supostas tentativas de obstruir as investigações da operação lava jato

Brasília – Mesmo em meio à turbulência das discussões sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o Conselho de Ética do Senado mostrou que tem sofrido menos manobras protelatórias do que o da Câmara dos Deputados. Os integrantes do colegiado aprovaram, na tarde de ontem (3), por 13 votos favoráveis e a abstenção do presidente, João Alberto de Souza (PMDB-MA), o relatório que recomenda a cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) por quebra de decoro parlamentar.

A denúncia tem como base o fato de Delcídio, então líder do governo na Casa, ter se envolvido em tentativas de obstruir as investigações da operação lava jato, além das acusações de que participou no escândalo de corrupção da Petrobras.

De acordo com o relator, o senador Telmário Mota (PDT-RR), que deu parecer pela perda definitiva do mandato de Delcídio, o senador “abusou de sua prerrogativa constitucional” e “colocou seus interesses em primeiro lugar” ao negociar com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, uma possível fuga de seu pai, no ano passado.

A defesa do senador, por sua vez, os advogados Antônio Figueiredo Basto e Adriano Sérgio Nunes Bretãs, pediram a absolvição do ex-líder do governo e destacaram que  consideram a denúncia contra ele “vazia de provas consistentes”, principalmente em relação à gravação em que o senador conversa com Bernardo Cerveró. “Aqui tem uma acusação de ‘ouvir dizer pelos jornais’. Não havia flagrante nenhum para se prender um senador da República”, argumentou Figueiredo Basto.

O relatório, conforme os trâmites regimentais segue agora para apreciação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que tem prazo de cinco sessões para aprovar ou rejeitar a matéria. De lá, caso seja aprovada, segue para o plenário da Casa.

A previsão, conforme informações dos próprios senadores do Conselho de Ética, é de que a votação da cassação de Delcídio aconteça no final do mês. Apesar de o resultado ter sido quase unânime na votação de ontem, muitos senadores declararam constrangimento com a decisão de cassar um colega, mas deixaram claro que não veem outra alternativa em relação ao caso.

“Foi um constrangimento muito grande quando ele foi preso. Não faço isso com nenhum sentimento de alegria e prazer. Pelo contrário, me dói muito ter que votar pela cassação do senador. É um momento que desgasta a imagem do Senado”, afirmou Otto Alencar (PSD-BA) – traduzindo um pouco do pensamento de vários parlamentares presentes à sessão.