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Historiador diz a embaixador dos EUA na OEA que americanos repetem erro de 1964

Brasilianista James N. Green, da Brown University, rebate diplomata americano e questiona: 'Quantos congressistas Cunha e seus aliados compraram ou ganharam com suas promessas de um novo governo?'

Divulgação/NEV-USP

Green questiona STF e afirma que ele levou quase seis meses para julgar afastamento de Eduardo Cunha

São Paulo – Em carta aberta ao embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA), Michael Fitzpatrick, o historiador e brasilianista James Naylor Green, da Brown University, rebateu o diplomata norte-americano, o primeiro representante do governo de Barack Obama a se pronunciar sobre o impeachment de Dilma Rousseff.

Na carta aberta, James Green diz que o governo estadunidense está repetindo o mesmo erro de 52 anos atrás. “Mesmo considerando os perigos existentes na comparação histórica de eventos ocorridos em diferentes períodos, digo que o governo dos Estados Unidos está correndo o risco de repetir o trágico erro de abril de 1964, quando o presidente Lyndon B. Johnson reconheceu a ditadura militar que havia tomado o poder e que terminou governando o país por 21 anos”.

“O que está ocorrendo no Brasil foi feito seguindo o processo legal e respeitando a democracia”, disse Fitzpatrick na semana passada, em plenária da OEA. “Nós não acreditamos que isso seja um exemplo de um ‘golpe brando’ ou, para esse efeito, um golpe de qualquer tipo”, acrescentou o diplomata dos EUA.

O brasilianista deixa na carta aberta o claro paralelo que, segundo ele, se pode fazer entre os golpes de 1964 e de 2016. “Como já foi largamente documentado e revelado pelos documentos liberados do Departamento de Estados dos EUA, o embaixador Lincoln Gordon e o seu adido militar Vernon Walters ativamente apoiaram a conspiração para depor Goulart.”

Em sua carta aberta ao diplomata, o historiador da Brown University faz uma série de questionamentos. “Como pode ter havido procedimento democrático na Câmara dos Deputados quando Eduardo Cunha, que controlava totalmente essa instituição, foi afastado do seu cargo um semana após a votação de admissão do processo do impeachment?”

Green menciona a morosidade do Supremo Tribunal Federal em relação ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, responsável pela condução do impeachment. “Um pedido para seu afastamento dessa posição havia sido feito em dezembro do ano passado por desvio de finalidade e abuso de poder, mas um membro da Suprema Corte sentou sobre esse pedido até que Cunha tivesse garantido que a oposição teria os dois terços necessários para aprovar o seguimento do processo do impeachment da Presidenta Dilma”, escreveu.

“Quantos congressistas Cunha e seus aliados compraram ou ganharam com suas promessas de um novo governo? Como um processo conduzido por uma pessoa que é processada por lavagem de dinheiro e por recebimento de suborno pode ser legitimado?”

O historiador continua questionando a Suprema Corte brasileira e afirma que ela “tem sido excessivamente arbitrária em decidir quais casos analisar, levando quase seis meses para julgar o afastamento de Eduardo Cunha e proferindo uma decisão veloz contra a indicação de Lula para um cargo no governo Dilma”.

Para Green, “esses casos são exemplos, dentre tantos outros, das maneiras perversas como o Judiciário se enredou com a política, ao invés de permanecer separado dela”.