Desorganização

Esquerda precisa de ‘palavra de ordem’ para enfrentar Temer, diz Fornazieri

'Se não tiver palavra de ordem aglutinadora, que seja por exemplo 'Fora Temer, eleições diretas já', não há articulação”, afirma professor

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Fornazieri: resistir por resistir não é uma coisa capaz de criar força ativa, é preciso ter algum objetivo

São Paulo – O professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) Aldo Fornazieri afirmou hoje (11) que o campo progressista precisará de uma palavra de ordem aglutinadora para enfrentar o golpe institucional que deve ser aprovado no Senado, com a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que culminará com seu afastamento. “A grande tarefa agora, em primeiro lugar, é não reconhecer o Temer, um governo ilegítimo”, diz Fornazieri, que vê as forças de esquerda e o PT, particularmente, perdidos.

“Qual a palavra de ordem? Se não tiver uma palavra de ordem aglutinadora, que seja por exemplo ‘Fora Temer, eleições diretas já’, não há capacidade de articulação”, defende. “E não vejo o PT e as força sociais falando nisso. A tendência é se aprofundar a derrota em face da incapacidade de propor uma palavra de ordem que seja capaz de unificar os movimentos, a sociedade e assim por diante.”

Fornazieri reconhece que há uma unidade das forças progressistas neste momento, mas é uma unidade em torno da resistência ao provável governo de Temer, o que não é suficiente para manter a coesão. “Unificada ela (a esquerda) está, mas em torno do quê? Essa é a questão. Resistir por resistir não é uma coisa que seja capaz de criar força ativa. Tem de ter uma palavra de ordem, um comando rumo a algum objetivo. Qual é o objetivo agora? Amanhã se consuma o golpe, o Temer assume e qual é o objetivo? Essa é a questão que a esquerda tem de responder, e não está respondendo. Eu vejo o PT completamente falido, completamente desnorteado, sem rumo”, critica.

Condomínio de corruptos

“Do meu ponto de vista teria de se levantar a palavra ‘Fora Temer, eleições diretas já’. O Temer tem um alto índice de impopularidade, e ninguém está propondo alguma coisa para enfrentar, quer dizer, é um condomínio de corruptos que assume o governo e não se vê uma reação. Isso já deveria estar preparado diante da situação que está ai. Tudo indicava que esse processo se consumaria no Senado. E nada foi preparado, nada foi feito.”

O professor acredita que a defesa de eleições diretas não implicaria em reconhecer que faltou legitimidade no segundo mandato para Dilma, porque o golpe está se consumando. “Esse é o problema. A Dilma é derrubada, o processo consumado, você vai fazer o quê? Essa é a questão, falta uma palavra de ordem capaz de unificar a sociedade, os movimentos.”

Para Fornazieri, Dilma não terá condições de reassumir o comando do país, mesmo que seja inocentada ao fim do processo no Senado. “Isso é um processo que está dado, até porque quais seriam as condições para ela voltar? Ela tem condição ainda de continuar o governo? Aparentemente não”, afirma o professor. Para ele, a questão do impeachment foi decidida no dia 17 de abril, com a votação na Câmara dos Deputados, que aprovou a admissibilidade. “Lá de fato se consumou o golpe e agora o que vem, o que está acontecendo hoje e amanhã, é rescaldo do dia 17. Ou o governo conseguiria ter barrado no dia 17 ou era evidente que o processo caminharia com toda a força no sentido da aprovação do impeachment, o Senado não seguraria essa situação.”

Ele também diz que o momento representa uma “derrota histórica da esquerda, que mais uma vez se mostrou completamente desorganizada, e sem força em face da ofensiva das forças conservadoras”. “A esquerda não aprendeu com a história, não aprendeu com 1964, quando o golpe estava anunciado e não houve reação, não houve resistência”, avalia. “A situação é muito pior do que em 1964, porque agora não tem tanques e baionetas. É um golpe parlamentar e jurídico. E mesmo assim a esquerda se mostrou completamente inerte, sem capacidade de reação.”