Impeachment

Sessão tem 17 discursos em seis horas e deve entrar pela madrugada

Oposição quer fazer acordo para reduzir número de oradores, mas base aliada diz que isto seria “golpe do golpe”. Embora em tom ameno, Senado repete cenas observadas durante votação da Câmara

Pedro França/Agência Senado

Apesar dos senadores terem dito que não repetiriam espetáculo da Câmara, sessão lembra dia 17 de abril

Brasília – Passadas mais de seis horas de duração da sessão que aprecia a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff, já perto do final da tarde de hoje (11), com apenas 17 parlamentares se manifestando e cerca de 50 ainda inscritos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), discute dois requerimentos para encurtar os trabalhos. Um para reduzir o tempo de cada orador de 15 para cinco minutos. Outro para que depois seja estipulado um teto – quem não se pronunciou, abre mão para que seja aberta a fase de votação. A oposição está pressionando por esta segunda opção, enquanto os integrantes da base aliada protestam ressaltando que, caso isso aconteça, será “o golpe do golpe”.

“Já cercearam o direito à defesa em boa parte deste processo e agora vão cercear o direito dos parlamentares da base de falarem nesta sessão? Não podemos admitir”, reclamou Lindbergh Farias (PT-RJ). “Não concordo que a regra mude no meio do jogo. Acordo é acordo e qualquer quebra de regimento tem de ser feito mediante acordo. Isso não foi acordado. Não temos como aceitar a mudança”, destacou o líder do PT, Humberto Costa (PT-PE). Costa sugeriu que a sessão seja encerrada até certo horário, para ter continuidade amanhã (12).

“Acho importante chegarmos a uma solução hoje mesmo. Não quero nem adiantar nem atrasar o relógio da história, mas garanto que se não houver acordo entre os senhores senadores, será garantido a todos o direito de se manifestar no tempo que foi determinado para cada um”, disse Renan, em tom conciliador – mas sem dar por encerrada a questão. Por enquanto, a sessão prossegue sem que se fale sobre algum tipo de negociação, que ainda pode vir a acontecer.

Lembranças da Câmara

Na segunda parte de realização da sessão, retomada às 14h15, os discursos foram marcados por críticas ao governo, repúdio aos argumentos de que está em curso um golpe no país, cobranças ao provável futuro presidente Michel Temer “para que faça uma boa gestão” e “preocupações com o futuro”. Mas, apesar de os senadores terem repetido diversas vezes que não iriam repetir o espetáculo observado na sessão da Câmara dos Deputados, a tarde teve momentos que lembraram a votação de 17 de abril.

A senadora Simone Tebet (PMDB-MS) terminou seu pronunciamento fazendo uma oração, pela votação, pelo país e, conforme afirmou, “pelo nosso futuro”. Em outro momento, o senador Magno Malta (PR-ES) homenageou em sua fala “duas tias diabéticas”, ao criticar o governo e fazer uma metáfora dizendo que “há problemas que, como doenças, são crônicos”.

O senador Romário (PSB-RJ), que leu o seu discurso do começo ao fim, enfatizou que “estudou muito” o processo do impeachment e chegou à conclusão de que “têm fundamentos os argumentos apresentados”. Motivo pelo qual justificou seu voto favorável à admissibilidade. Mas acrescentou que ao mesmo tempo em que votará pelo afastamento de Dilma, não apoiará “medidas que retirem direitos sociais dos trabalhadores”.

‘Oportunistas e traidores’

Telmário Mota (PDT-RR) afirmou que o prejuízo maior do impeachment da presidenta será observado entre a população, “que sofrerá com a redução de diversos programas hoje em execução”. Mota lembrou que o processo, segundo ele, “começou sobre a ótica do revanchismo por parte do PSDB, que perdeu a eleição de 2014, passou pelo ódio do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teve planos de chantagem barrados pelo governo e, por fim, está sendo concluído por muitos oportunistas e traidores”.

A preocupação com a palavra golpe tem sido reiterada durante vários discursos pronunciados pelos oposicionistas. Num deles, Cristóvam Buarque (PPS-DF) disse que seu voto é “técnico, moral e jurídico”. “É técnico porque voto contra a gestão que foi mal administrada, é político pelos anos anteriores do governo da presidenta e é moral e jurídico, para que o Brasil saia da marcha da decadência em que entrou com os crimes cometidos.”

A maior parte dos deputados da base aliada ainda não falou durante a sessão, porque os pronunciamentos seguem a ordem dos inscritos. Dentre os senadores que não estão presentes, comunicaram a ausência com a justificativa de que estão com problemas de saúde Jáder Barbalho (PMDB-PA), Eduardo Braga (PMDB-AM) e Rose de Freitas (PMDB-ES). Os dois primeiros participaram amplamente do governo Dilma. Barbalho teve o filho Hélder como titular do Ministério dos Portos, enquanto Braga foi ministro de Minas e Energia. Também não votará o substituto do senador Delcídio do Amaral, Pedro Chaves (PSC-MS), que ainda não assumiu o cargo.

Além desses ausentes, o presidente da Casa, Renan Calheiros, conforme estabelece o regimento interno do Senado e o regimento comum do Congresso Nacional, só dará seu voto em caso de empate.