Temer se diz ‘chocado’ e chama reunião ‘de emergência’. Para terça-feira
Governo que desmontou ministérios das mulheres só se manifesta quase dois dias depois de episódio que indignou o país e o mundo. Presidente e ministro da Justiça interinos descansam em São Paulo
Publicado 27/05/2016 - 13h18
Em sua posse como interino, Temer extinguiu ministério da Mulher, da Igualdade Racial e Direitos Humanos
Brasília – O governo interino de Michel Temer se manifestou, na manhã de hoje (27), sobre o caso do estupro de uma jovem no Rio de Janeiro por 30 homens. O crime que chocou o mundo foi divulgado na noite de quarta-feira (25). Temer e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, viajaram para suas residências, em São Paulo, para emendar o feriado de Corpus Christi com o final de semana e descansar ao lado das suas famílias.
Seria de estranhar que duas das autoridades máximas do país – pelo menos em exercício – não tivessem emitido palavra alguma sobre o assunto que indignou os brasileiros e causou repercussão até na ONU, entidade responsável pela divulgação, ontem, de documento de repúdio pedindo apuração rigorosa por parte das autoridades. Segundo a informação repassada pela assessoria do presidente interino, o ministro da Justiça, a pedido de Temer, conversou com o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e colocou à disposição daquele estado toda a estrutura de segurança e investigação do governo federal.
O presidente interino divulgou que ficou “totalmente chocado e indignado” com o estupro, que chamou de “barbárie”. E ressaltou que conversou com o ministro da Justiça para a realização de uma reunião, “em caráter de emergência”… na próxima terça-feira (31) em Brasília, para a qual estão sendo convidados todos os secretários de Segurança Pública do país. O intuito é estudar formas de prevenção e combate a esses tipos de crime.
O ministro da Justiça, por sua vez, divulgou nota por meio da sua equipe de imprensa destacando que “repudia veementemente o hediondo crime praticado contra uma adolescente de 16 anos”. Acrescenta que o estupro “representa a maior violência à dignidade da mulher e deve ser duramente reprimido”.
A informação distribuída pela assessoria do presidente interino ressalta que o foco da reunião não será apenas os casos de estupro, mas tudo relacionado à violência contra a mulher. Apesar da ironia de a reunião ter sido divulgada como “de emergência” e ter sua data de realização para daqui a quatro dias, foi justificada por integrantes do Ministério da Justiça, em informações reservadas, que será terça-feira porque até lá já terá sido empossada a nova secretária da mulher.
A pasta, que tinha status de ministério no governo Dilma, agora é subordinada à Justiça e ainda está sem titular.
Depois de todos
A escolhida para ocupar a secretaria, que poderá ser empossada na segunda (30) ou no próprio dia da reunião (31), é Fátima Pelaes, atual presidente do PMDB Mulher. Ela também divulgou nota sobre o caso – em nome do partido, não do governo.
Chamou a atenção que desde a posse, em 12 de maio, o governo interino agiu rapidamente para desmontar ou sinalizar o desmonte em diversas áreas, como políticas públicas de comunicação, cultura e direitos humanos. Mas não teve pressa alguma em montar um estrutura mínima para lidar com casos de intolerância e brutalidade. E só se posicionou depois ampla manifestação de pessoas e entidades ligadas à área.