Ironia

Collor se manifesta com discurso em tom de vingança e ressentimento

O alagoano foi o único presidente da República afastado por um processo de impeachment, em 1992, quando renunciou antes do fim da tramitação no Senado

Jefferson Rudy/Agência Senado

Com retórica vingativa, Collor acusou: “É crime de responsabilidade a mera irresponsabilidade”

São Paulo – Único presidente da República, no Brasil, afastado por um processo de impeachment, o ex-presidente da República e senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL) se manifestou na sessão do Senado na noite de ontem (11) com um tom de vingança e ressentimento. Collor, que renunciou antes do fim do processo no Senado, em 29 de dezembro de 1992, disse que “jamais o Brasil passou por crise tão aguda na moral e na institucionalidade. Chegamos às ruínas de um governo, as ruínas de um país”, discursou, citando Ruy Barbosa.

O ex-presidente relembrou o processo contra si próprio para dizer: “fui instado a negociar na suposição de que as acusações contra mim fossem verdadeiras. Fui absolvido pelo STF. Diante da mais alta corte do país não houve crime. Mesmo assim perdi meu mandato”.

Num discurso retórico, ele não revelou seu voto, mas acusou o governo Dilma de “irresponsabilidade pelos destinos de um país”. “É crime de responsabilidade a mera irresponsabilidade”, afirmou, citando a crise econômica. “O maior crime de responsabilidade está na irresponsabilidade pelo desleixo com a política, na irresponsabilidade pela deterioração econômica do país, pelo aparelhamento desenfreado do Estado”, discursou.

Porém, enveredou para a ambiguidade quanto ao voto: “O atual processo de impeachment nada mais é do que a tentativa de, a partir do passado, aplainar o presente e decantar o futuro”, disse.

Afirmou ainda que, em 1992, não coagiu o Supremo Tribunal Federal em benefício próprio e respeitou a Constituição “no meio do maior bombardeio midiático da história”. Afirmou também que a história fez justiça a ele, que acabou absolvido pelo STF. Segundo Collor, o impeachment que o levou à renúncia “não passou de ampla e complexa rearticulação das elites”.

Ele criticou o presidencialismo, regime que seria, em sua opinião, responsável pelas crises do país. “Sob o presidencialismo usufruímos tão somente de espasmos da democracia. Não há mais como sustentar um sistema anacrônico, contaminado e deteriorado em sua essência”, disse.

Logo depois do discurso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi líder do governo Collor na Câmara, cumprimentou o ex-presidente efusivamente. “Cumprimento ao ex-presidente Collor pelo grande registro histórico”, disse Renan. “Cumprimento pelo histórico depoimento”, acrescentou.