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Cientista político diz que governo de união propalado por Marta não acontecerá

Senadora defende união em torno do nome de Temer, mas ataque neoliberal à economia reforça o papel de oposição das forças progressistas, afirma professor Marcus Ianoni

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Temer e Marta: agenda neoliberal e ataque a direitos deixam sem força perspectiva de governo de união

São Paulo – A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) manifestou-se (11) hoje na tribuna por um governo de união nacional, ao defender o impeachment de Dilma Rousseff, com a chegada do vice, Michel Temer, à Presidência. “O que está em jogo nesse momento é a oportunidade de um grande pacto. A soma de forças e apoios sociais e políticos, trabalhadores e empresários em um governo de união nacional”, defendeu a senadora.

Esse comentário, no entanto, está longe de reconhecer a realidade de um país dividido e de um governo que vai se ressentir de legitimidade, segundo o professor da Universidade Federal Fluminense e cientista político Marcus Ianoni. Eu acho que essa visão dela não vai acontecer em função de que de fato o país está dividido, mesmo que os que defendem o impeachment tenham força perante algumas classes sociais e setores do eleitorado, afirma o professor.

Para ele, as forças progressistas que sustentam as organizações sociais, mesmo as de cunho liberal, os sindicatos, profissionais liberais, intelectuais das universidades públicas, enfim, há um grande contingente se mobilizando contra o que está se caracterizando cada vez mais como golpe.

Ianoni lembra que o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala em oposição a um eventual governo Temer. O PT e outros partidos, como o Psol, vão fazer oposição porque o programa do Temer é de arrocho, é neoliberal, é um golpe neoliberal que para ser realizado pisoteou as instituições democráticas, afirma Ianoni. Vamos fazer uma oposição forte com as forças organizadas da sociedade. O PT não ganhou quatro eleições à toa, diz.

O professor também considera que a coalizão golpista teve a oportunidade de trabalhar por um projeto de união nacional frente às concessões que Dilma fez em 2015, com a abordagem do ajuste fiscal sobre a economia, mas que a ganância política da oposição acabou por sobrepujar os interesses do país. Eles querem fazer sozinhos, diz Ianoni sobre o ataque neoliberal da economia que será representado pelo governo de Temer.

As perspectivas para a economia não são animadoras, segundo as medidas que constam do programa Ponte para o Futuro, que é a base do provável governo Temer. Só no que toca o salário mínimo, poderá haver um impacto grande na economia, pois além de acabar com a política de sua valorização real, Temer também pretende desindexar benefícios previdenciários do mínimo.

O assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Marcos Verlaine escreveu em seu último artigo que a agenda de Temer é mais que um aceno para o mercado para acalmá-lo, é a concepção de governo que será implantada pelo vice-presidente se for levado à cadeira presidencial no Palácio do Planalto”.

“É uma agenda regressiva porque remonta à década de 90, com políticas que levaram ao empobrecimento do povo, com um salário mínimo, por exemplo, que chegou ao final dos anos 90 e início de 2000, a míseros R$ 151 mensais, R$ 5,03 a diária e R$ 0,69 a hora”, acrescenta. “Apenas uma década e meia depois, o mínimo mais que quintuplicou, chegando ao valor atual de R$ 880, cuja diária é R$ 29,33 e a hora R$ 4. Muito longe do valor (R$ 3.736,26) estimado pelo Dieese, em março. Mas mais próximo da realidade econômica atual.