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Palco dos discursos finais, Câmara tem sessão marcada por ressentimento e otimismo

Destaques até agora foram justificativas de que não há golpe, pela oposição, e acusações de falso clima vitorioso, pelos governistas

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

Sessão começou na manhã de hoje e deve seguir sem interrupção até domingo de manhã

Brasília – A sessão para discussão, pelos deputados, do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff deve seguir ininterruptamente até a manhã de domingo (17). O que exigirá esforço e revezamento por parte dos parlamentares, líderes e integrantes da mesa diretora na condução do rito de tramitação. As atividades da Câmara nesta sexta-feira (15) foram iniciadas às 8h50, mas às 7h muitos deputados já estavam no plenário, para se inscrever para seus pronunciamentos.

Pelo número de mais de 300 parlamentares inscritos até agora e considerando-se o tempo exigido para as falas de deputados e lideranças, alguns têm previsão de fazer seus discursos somente às 4h de amanhã. Mas ninguém acena no sentido de abrir mão de falar sobre o processo. É o caso, por exemplo, do líder da Rede Sustentabilidade, Alessandro Molon (RJ), que está inscrito para falar amanhã, nas primeiras horas. “Ficarei aqui até lá e permanecerei para acompanhar os discursos dos colegas. O momento é de esforço por parte de todos”, disse.

Vários líderes da base aliada, como Afonso Florence (PT-BA) e Paulo Teixeira (PT-SP), enfatizaram em seus discursos que as pessoas não se deixem levar pela manipulação que a oposição, segundo eles, tenta fazer para dar a entender que possui os votos suficientes para aprovar o impeachment, números estes que contestam.

Florence aproveitou para dar explicações sobre o documento lançado ontem, intitulado como manifesto de apoio à democracia, assinado por 186 parlamentares e que depois chegou a ser contestado no plenário da Câmara, à noite, por deputados que disseram que isso não significaria que iriam votar contrários ao impeachment.

“Esses gestos observados na noite de ontem foram fruto da ampla pressão que os deputados indecisos estão sofrendo por parte dos seus partidos e de outros colegas da oposição, que estão desesperados. Tenho certeza de que estes indecisos estão refletindo e vão tomar a opção pelo povo brasileiro e pela manutenção da democracia, dizendo não às pressões”, acrescentou o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE).

A oposição diz que o governo demonstra desespero ao afirmar que há um golpe em curso. Insistem que houve crime de responsabilidade e enfatizam que o impeachment está previsto na Constituição Federal.

“Vamos todos votar pelo impeachment porque a presidente Dilma cometeu crime de responsabilidade sim, e afundou a economia. E, por esses crimes, ela vai ter que pagar com o seu mandato”, afirmou o deputado Mendonça Filho (DEM-PE).

Picciani

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), cuja posição tem sido considerada dúbia desde o início de todo o processo, orientou o voto do PMDB favorável ao impeachment – em razão da decisão de reunião realizada ontem, que definiu por este posicionamento.

Embora venha a votar dessa forma – até por ter tido uma forte ligação com o Palácio do Planalto até o início do ano – o deputado destacou que o momento é de seriedade e que é preciso haver mais diálogo e compreensão por ambos os lados. Por parte do governo, segundo salientou, porque considera que não houve um diálogo maior do Executivo com os parlamentares que perderam a eleição em 2014. E por parte dos oposicionistas porque, a seu ver, “está claro que não souberam perder a eleição”.

Picciani destacou ainda que os dias que virão depois de domingo, seja qual for o resultado, “terão de ser de maior união pelo país e para ajudar a combater a crise”.

Segundo informações de bastidores, esse discurso do deputado teria sido discutido ontem com o próprio vice-presidente da República, Michel Temer, durante jantar realizado na casa do deputado Heráclito Fortes (PSD-PI).

‘Momentos de angústia’

Outros dois momentos que chamaram a atenção dos parlamentares foram as falas do deputado Júlio Cesar (PSD-PI) e Benedita da Silva (PT-RJ). Júlio Cesar anunciou que decidiu votar favorável ao impeachment, mas depois de “passar por grandes momentos de angústia”.

Ele estava indefinido até fazer o anúncio e contou que ontem, para chegar a esta posição, leu vários relatórios do governo e o parecer do relator Jovair Arantes. “Acho que decidi pelo melhor para o país e para o meu Piauí”, disse. O PSD, partido de Júlio Cesar, decidiu na última quarta-feira votar pelo impeachment, mas tema vários deputados divergindo desta posição e prometendo votar em apoio ao governo. “A fala foi patética”, comentaram, logo após, deputados da base aliada.

Benedita da Silva fez um discurso emocionado em que lembrou das sua situação econômica e social desde a infância e o sonho de uma filha sua, que queria ser odontóloga, mas não conseguiu por falta de condições.

“Hoje eu vejo esta realidade sendo possível para vários estudantes pobres e negros como são meus filhos. Uma realidade que eles, meus filhos, nesta idade não puderam ter. É pela continuidade desses programas sociais que levaram à inclusão social no país, é pela manutenção das conquistas que duramente conquistamos que vamos derrubar o impeachment neste domingo”, afirmou.

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