mais democracia

Se derrotar impeachment, governo precisa de ‘mudança forte’, diz ex-ministro

Gilberto Carvalho afirma que mobilização das ruas desafia políticos a criar um novo conceito de atuação. Ele também lamenta as articulações do vice Michel Temer. 'Essa conspiração não eclodiu ontem'

José Cruz / ABr

Carvalho: “A quem nos atira pedras vamos estender as mãos, porque para nós não interessa o país dividido”

São Paulo – O ex-ministro da Secretaria-geral da Presidência da República Gilberto Carvalho  diz aguardar uma intensa mobilização no país no domingo (17) em defesa da democracia, quando será votado no plenário da Câmara o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Mas afirma que, caso derrote o impeachment, o governo terá de apresentar imediatamente um plano de recuperação.

“É um movimento novo que tem na rua, porque reúne gente que nem gosta do PT, nem gosta da Dilma, ou do nosso governo, mas preza a democracia. Acabei de conversar com o Lula agora (ontem) e disse pra ele: nós temos de ter a inteligência política e ética, e a percepção, para compreender esse movimento e transformar esse movimento com seus atores, que são os mais diversos – muita gente da juventude, da cultura, da luta sindical, de tudo quanto é tipo de luta por direitos – em uma nova energia capaz de proporcionar um novo padrão de governo”, afirmou.

Carvalho acredita que se o campo progressista derrubar o impeachment, já na segunda-feira o governo poderá indicar mudanças nos rumos da condução do país. “Se Deus quiser que a gente ganhe por dois ou por dez votos no domingo e já na segunda-feira não apresentarmos uma proposta de mudança forte, vai haver uma enorme frustração. Não podemos permitir que essa frustração ocorra”, disse.

O ex-ministro credita seu otimismo à manifestação de segunda-feira (11) na Lapa, no Rio de Janeiro, quando cerca de 60 mil pessoas se reuniram, demarcando a maior manifestação já ocorrida na história do bairro, para defender a democracia e ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Lula ficou encantado com o ato, que não pode acabar agora”, afirmou. Segundo Carvalho, a mobilização do campo progressista deve ser canalizada para o que ele chama de “um novo padrão de ação política”. Ele diz também que cabe à classe política “ter sensibilidade e conseguir entender essa nova dinâmica na rua, maravilhosa, e fazer dela de fato um novo movimento político e cultural no Brasil”.

Raposas velhas

Carvalho acha difícil medir o impacto dos fatos políticos desta semana sobre o resultado da votação, como o vazamento intencional do áudio em que o vice-presidente, Michel Temer, fala como o impeachment já estivesse aprovado. “Estamos lidando com raposas velhas, que sabem muito bem o que fazem. De um lado, desmascara o Temer, desmoraliza ainda mais, mas pode dentro do Congresso significar também uma espécie de garantia para aqueles que estão indecisos a ir com ele e serem acolhidos por ele. Então, é muito difícil qualquer analista dizer, vai ser isso, ou vai ser aquilo, eu não arriscaria.”

“Acho que daqui para domingo vai ser uma coisa muito nervosa, cada voto buscado com total ardor, e o que eu peço para as pessoas é que a gente tem de se manter muito mobilizado, demonstrar força, e dar conforto para aqueles que estão indecisos, que venham para o nosso lado”, diz. Carvalho também defende que a militância não caia em provocação. “A quem nos atira pedras vamos estender as mãos, porque para nós não interessa o país dividido, interessa o país unido. É fundamental que a nossa militância tenha compreensão e que nós de sexta para domingo façamos um crescente de mobilização fundamental para a nossa vitória”, defendeu.

Indagado sobre a participação do vice-presidente na articulação do impeachment, Carvalho diz que “o comportamento do Temer é a complementação de um processo que estava em fermentação, em preparação há muito tempo”. “Essa conspiração não eclodiu ontem, quer dizer, ela se torna mais explícita, mas ela vinha desde aquele afastamento dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. No processo de trama que se fazia com o Serra (senador José Serra, do PSDB-SP), há mais de ano, eu já alertava as pessoas de que o plano deles era o plano de Serra ministro da Fazenda, para depois tirar um Fernando Henrique do Temer. O plano deles não era o plano Alckmin, muito menos o bobalhão do Aécio, era o plano Serra. A Ponte para o Futuro já mostrava isso”, afirmou, referindo-se a um plano elaborado pelo PMDB com propostas para o país.

Carvalho considera “o desfecho final desse processo” o vazamento do áudio. “Eu não tenho nada pessoalmente contra o Temer, tenho respeito por ele, mas evidentemente agora ficou claro que ele participou dessa conspiração e articulou intensamente nos bastidores contra nós. De alguma forma, procurando também sabotar qualquer iniciativa que pudesse nos dar uma retomada do desenvolvimento, de uma nova política dentro do governo”, afirmou.


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