Exoneração

Saída de Castro da Saúde sinaliza busca do PMDB por união em suposto governo Temer

Deputado disse que pediu para deixar pasta por sentir “desconforto” no PMDB. Mas decisão foi pedido do líder Leonardo Picciani, para quem sua indicação tinha sido feita pela bancada e não em caráter pessoal

José Cruz/Agência Brasil

Marcelo Castro tomou posse em outubro de 2015, durante a reforma ministerial de Dilma

Brasília – O anúncio feito pelo ministro da Saúde, Marcelo Castro, de que pediu exoneração do cargo à presidenta Dilma Rousseff na tarde de hoje (27), teve três componentes, segundo avaliação feita no Congresso por deputados e senadores da base aliada. Primeiro, porque Castro – que tinha saído da pasta para votar contra o impeachment e retornou em seguida, era um peemedebista favorável ao Executivo. E tomou a decisão justamente no dia em que foi anunciada a 18ª Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe, num ano em que o país sofre as consequências de uma verdadeira epidemia do zika vírus. Depois, porque o anúncio foi feito, na Câmara, pelo líder do partido de Castro, Leonardo Picciani (RJ), que aproveitou para pregar “maior união por parte do PMDB”.

Por fim, o gesto de Castro mostrou um aceno cada vez maior por parte dos peemedebistas no sentido de convencerem os integrantes da sigla que ainda demonstram um fio de apoio ao Palácio do Planalto para que sigam o comando da executiva nacional da legenda, formando, assim, a base de um eventual governo do vice Michel Temer.

“Era mais do que esperada esta iniciativa. E só foi prejudicial politicamente para ele próprio, pelo fato de ter anunciado a saída justo no dia do anúncio da campanha”, comentou um deputado da base aliada que evitou se identificar para não acirrar ainda mais os ânimos entre os parlamentares, neste clima de impeachment que vive o Congresso Nacional.

Marcelo Castro, deputado pelo Piauí, foi indicado para o ministério por Picciani, líder  tido como desafeto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que atuou na Casa para conseguir aprovar matérias de interesse do governo. O ministro que está de saída disse que tomou tal posição porque estava “se sentindo desconfortável com sua presença na pasta”.

Bancada peemedebista

Nos bastidores, o que se comenta é que ele teve uma longa conversa com Picciani, que argumentou que o seu cargo foi indicado pela bancada da sigla, motivo pelo qual não ficaria bem ele permanecer, tomando a pasta como uma função de caráter meramente pessoal – e não de representação dos demais peemedebistas.

“Ficamos só eu e a Kátia Abreu (ministra da Agricultura) no governo, dentre os peemedebistas e terminou ficando ruim para mim continuar descumprindo decisão do meu partido, pois parecia que estava confrontando o PMDB”, enfatizou Castro, ao citar a decisão da executiva nacional de romper com o governo, em maio passado.

Castro, que é médico, tomou posse em outubro de 2015, durante a reforma ministerial do governo Dilma Rousseff. Por conta de declarações consideradas inapropriadas sobre o combate ao mosquito Aedes aegypti, como a de que “o Brasil está perdendo a guerra contra o mosquito”, ele ganhou antipatia por parte de profissionais do setor de saúde e do próprio ministério, tendo sido cogitada pelo Palácio do Planalto, inclusive, sua exoneração.

Logo depois, houve uma espécie de adaptação dele ao cargo e o assunto deixou de ser mencionado até fevereiro passado, tendo sido, inclusive, descartada pela presidenta Dilma a substituição do ministro. Com os rearranjos políticos feitos com vistas à negociação de votos para derrubada do impeachment na Câmara, o governo voltou a discutir a possibilidade de tirar o deputado da pasta.

Desta vez, para dar vez a um representante do PP, caso o partido tivesse acertado negociação com o Executivo para votar contra o processo de afastamento da presidenta, o que terminou não acontecendo.

Acolhimento a acordos

Ao anunciar a saída do ministro, Leonardo Picciani acenou com apoio por parte dos deputados peemedebistas em uníssono a Michel Temer e, inclusive, com o acolhimento, por parte dele, de qualquer acordo a ser feito nos próximos dias para indicação, num provável governo Temer, da nova presidência e liderança da sigla na Câmara.

Picciani tinha posição considerada ambígua pelo governo nesse sentido, uma vez que apesar de votar contra o impeachment, seu pai, o deputado estadual fluminense Jorge Picciani, foi um dos políticos que mais defenderam o rompimento do PMDB com o governo e o afastamento da presidenta, nos últimos meses.

Já no Ministério da Saúde, informações de técnicos próximos do gabinete são de que o ministro deixa o cargo sem ações fortes de sua iniciativa que possa citar em sua biografia. Foram quase seis meses de execução de programas já existentes e visitas aos estados nos trabalhos de prevenção e combate ao zika vírus.

Já em relação à ministra Kátia Abreu, que passou a ser a única peemedebista a ocupar ainda um ministério (Agricultura), os comentários feitos no Senado são de que, apesar de integrar a legenda, ela pode trocar de partido a qualquer momento. Explica-se: Kátia é considerada muito ligada a Dilma e sua nomeação para a Agricultura foi tida, desde o início, como escolha da cota pessoal da presidenta e não do PMDB.