Tiro no pé

Caciques do PMDB querem expulsar rebeldes do partido

Intenção principal é marcar nova reunião da executiva nacional para fechar questão a favor do impeachment, com expulsão dos que não aceitarem. Problema é que legenda continua dividida sobre o tema

Edilson Rodrigues/Agência Senado/fotos públicas

Jucá assumiu a presidência nacional do PMDB há dois dias, em substituição a Temer

Brasília – O presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse que a próxima semana será de tomada de providências em relação aos integrantes do partido sobre o descumprimento da reunião da executiva nacional, na última semana, de desembarque do governo Dilma Rousseff.

Jucá, que assumiu a presidência nacional do PMDB há dois dias, em substituição ao vice-presidente da República, Michel Temer, anunciou hoje (7) que encaminhou à Comissão de Ética do partido dois pedidos de expulsão: dos ministros da Agricultura, Kátia Abreu, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera.

Kátia e Pansera estão na berlinda por serem os ministros mais enfáticos, dos seis peemedebistas que ocupam cargos no primeiro escalão, na defesa da presidenta Dilma Rousseff e contra o impeachment. Outros processos podem ser movidos, também, contra o ministro dos Portos, Helder Barbalho; Minas e Energia, Eduardo Braga; e Marcelo Castro, da Saúde.

A questão é que esses três chegaram a anunciar que sairiam dos cargos e tinham pedido um tempo até dia 12 deste mês para se posicionarem. Nos últimos dias, têm surgido especulações de que eles continuam na base do governo, mas não houve ainda um posicionamento efetivo por parte dos três como o que já foi formalizado por Kátia Abreu e Celso Pansera.

O ministro Mauro Lopes, da Secretaria de Aviação Civil, também está sendo objeto de um processo no Conselho de Ética do PMDB. Lopes assumiu o cargo mesmo depois da orientação do partido para que os peemedebistas ficassem impedidos de ocupar qualquer cargo no Executivo até a decisão da executiva nacional. Mas ele já declarou que pode vir a se afastar, para continuar fazendo parte da bancada peemedebista da Câmara. O mesmo acontece com Marcelo Castro, que deverá deixar a pasta da Saúde para ser substituído por algum nome a ser indicado pelo PP.

‘Pés pelas mãos’

Entre os deputados da base aliada, a repercussão sobre o caso é o fato de o PMDB ter metido os pés pelas mãos na decisão de deixar o governo, iniciativa que foi considerada “precipitada” por parte de um dos seus caciques, o senador Renan Calheiros (AL), presidente do Congresso Nacional.

Tanto que, durante discurso feito por Jucá na terça-feira, no plenário do Senado, o partido foi chamado de “oportunista” pela atitude, por senadores como Ronaldo Caiado (DEM-GO), Vanessa Graziottin (PCdoB-AM), Álvaro Dias (PV-PR) e Jorge Viana (PT-AC).

Na liderança do partido no Senado, informações de assessores são de que, em função do desgaste provocado com a decisão não cumprida pelos integrantes da legenda, a executiva nacional quer realizar uma outra reunião para fechar questão pelo impeachment. Caso isso aconteça, os peemedebistas que apoiam a presidenta Dilma Rousseff e votarem contra o processo correm o risco de terem de sair da sigla. O problema para que isso seja formalizado é a polarização do PMDB, que não é novidade e tem sido observada há décadas.

“É muito difícil falar em unificação dentro do PMDB, uma legenda que ao longo dos anos apresenta sérias fragmentações nos estados”, afirmou o deputado Jarbas Vasconcelos (PE), criticando a possibilidade desse fechamento de questão pela executiva nacional.

Também é considerado um problema a posição do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Apesar do seu pai, deputado estadual do Rio de Janeiro Jorge Picciani, ter defendido o afastamento da sigla do governo, Leonardo Picciani é tido até hoje como aliado do Palácio do Planalto. E já propagou que conseguirá garantir, entre os peemedebistas, 25 votos da bancada do partido, que é formada por 67 deputados.

“É complicada essa mudança de postura por parte do PMDB no último minuto do segundo tempo. Com perfis tão vinculados ao governo eles vão conseguir puxar e obrigar todos os integrantes do partido a acatarem a reunião da executiva nacional”, disse um senador que já foi da legenda e preferiu não se identificar.