Movimentação

PDT atrai novos quadros e aposta em 2018 com Ciro Gomes

Partido recebeu o ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula em setembro de 2015 e tem atraído quadros regionais como o secretário de Educação do prefeito Fernando Haddad, Gabriel Chalita

Valter Campanato/Agência Brasil

Ex-ministro de Lula, Ciro Gomes é hoje principal quadro do partido de Dilma Rousseff até 2001

São Paulo – O Partido Democrático Trabalhista, desde o ano passado, tem atraído quadros importantes para suas hostes e não está se movimentando por meras acomodações partidárias de momento. Esta semana, o PDT de São Paulo foi notícia duas vezes: o secretário municipal de Educação do prefeito paulistano Fernando Haddad, Gabriel Chalita, troca o PMDB de Michel Temer pelo PDT, e o prefeito de Osasco, Jorge Lapas, sai do PT para disputar a reeleição pela mesma legenda.

As movimentações de Chalita e Lapas estão no contexto das eleições municipais deste ano. Mas, por outro lado, no plano nacional, o partido não está pensando apenas no curto prazo. Os movimentos regionais, como em Osasco e São Paulo, em direção ao PDT, correm paralelamente ao projeto mais ambicioso do partido para 2018, considerando um cenário político sem perturbações golpistas. “O PDT está se preparando para ter uma candidatura viável para a disputa presidencial, que é o Ciro Gomes”, lembra o analista político Antonio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

O troca-troca partidário na atual legislatura não provocou grandes mudanças na bancada do PDT no Congresso. No parlamento federal, o partido se mantém fiel a si mesmo. Conta com 20 deputados e três senadores. “Os parlamentares que mudaram de partido (com a janela aberta pela Emenda Constitucional 91/2016) tinham por objetivo disputar a eleição municipal ou ir para um partido que os deixasse mais confortáveis na votação do impeachment, o que não é o caso do PDT”, diz Queiroz.

Mas as movimentações pontuais e regionais como as de Chalita e Lapas, com vistas à eleição municipal, não deixam de ter um significado importante: o PDT é hoje um partido que tem grande potencial de crescimento, porque atrai quadros progressistas descontentes ou desconfortáveis em suas legendas. Os aspectos nacionais deverão ser mais visíveis daqui a dois anos. “Como terá uma segunda janela em março de 2018, o PDT pode crescer muito no próximo período, se ficar caracterizado que a candidatura de Ciro Gomes é viável e tem densidade”, avalia o analista.

O raciocínio de muitos parlamentares que tendem a migrar para o PDT é pragmático: se a pretensão do partido é de Ciro Gomes se consolidar, eles se mudam para a legenda com boas perspectivas eleitorais. “Como não vão ser candidatos agora, não iriam correr o risco de mudar de partido neste momento, sem a certeza de que vai dar certo.”

No Nordeste, a força de Ciro Gomes e seu irmão Cid é notória, o que é cabal em seu estado. Com a abertura da janela partidária, em 18 de fevereiro, o Partido Republicano da Ordem Social (Pros), que o próprio Ciro deixou para se filiar ao PDT em setembro de 2015, simplesmente deixou de existir na Assembleia Legislativa do Ceará. Os nove deputados estaduais da legenda deixaram o Pros e passaram à bancada do PDT, informou o jornal local O Povo. A migração já era esperada desde que os ex-governadores e irmãos Cid e Ciro Gomes anteciparam o novo rumo.

Ciro Gomes é considerado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um de seus mais fiéis aliados durante seu primeiro mandato, quando foi ministro da Integração Nacional, incluindo o período de crise do “mensalão”, que explodiu em 2005.

Dilma

O PDT conta com a simpatia indisfarçável da maior autoridade do país, a presidenta Dilma Rousseff, não por acaso. Pouca gente se lembra, mas Dilma, ao lado de Leonel Brizola, foi uma das fundadoras do partido, em 1980. Brizola morreu em 1982 e a presidenta ficou no PDT até 2001, quando se transferiu ao PT.

A presidenta costuma prestigiar eventos oficiais e não oficiais do partido sempre que pode. Em 22 de janeiro deste ano, por exemplo, ela foi à convenção nacional de sua ex-legenda, em Brasília, discursou e foi saudada com palavras de ordem, como “Dilma, guerreira do povo brasileiro”, “não vai ter golpe” e “Dilma, guerreira, nossa companheira”.

Na votação do impeachment na Câmara dos Deputados, que deve ocorrer este mês, Dilma pode contar com a bancada de 20 deputados do PDT. São cerca de 4% dos votos do total de deputados na casa. Parece pouco, mas pode ser um número decisivo.

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