Contagem de votos

Grupo de Renan quer barrar processo de impeachment na Câmara

Presidente do Senado e seus aliados estariam de fato empenhados em evitar que processo chegue à Casa, e também tentam mostrar ao PMDB que, se Dilma cair, Temer também cai

memória/ebc

Segundo lideranças ligadas a Renan, se o impeachment passar na Câmara, dificilmente o Senado vai barrá-lo

São Paulo – A contagem e monitoramento de votos do governo, para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados, e da oposição e seus apoiadores, a favor do impedimento, está extremamente acirrada. Não sem motivo. Segundo avaliações de lideranças ligadas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se o impeachment passar na Câmara, dificilmente o Senado vai barrá-lo.

O cientista político Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), relata posicionamento de um senador do grupo de Renan segundo o qual o presidente do Congresso e seus aliados estão realmente empenhados em barrar o impeachment, usando sua influência para que o processo não chegue ao Senado.

Segundo o analista, o senador peemedebista do grupo de Renan avalia a atual conjuntura baseado em três pontos: primeiro, o grupo de Renan está trabalhando pela permanência de Dilma e só não fez “barulho” na convenção do PMDB que definiu o afastamento do governo porque sua derrota era certa. O segundo ponto: esse senador, diz Barreto, está muito otimista quanto à possibilidade de Dilma barrar o impeachment na Câmara, mas, para esse parlamentar, se passar nesta Casa, passaria também no Senado, por uma simples razão: em 2018, dois terços do Senado vão ser renovados, e os senadores não querem arriscar a eleição. Ponto três: os senadores e líderes ligados a Renan acham que, se a Dilma cair, o vice-presidente da República, Michel Temer, cai também.

“Por isso existiria um esforço de Renan para Temer e o PMDB verem que, sem Dilma, Temer vai ficar também muito frágil.” Segundo a avaliação desse senador, na hipótese de Dilma ser afastada haverá uma pressão muito forte do PT e dos movimentos sociais, com greves e movimentos em todo o país. “O próprio Temer tem denúncias contra ele. Trabalha-se com a previsão de um eventual governo Temer fraquíssimo”, diz Barreto.

As avaliações, hoje, são de que o impeachment poderia chegar no máximo a 330 votos.

O papel do PP

Após o desembarque do PMDB, o governo vai tentar recompor sua base e, ao mesmo tempo, evitar o impeachment preenchendo as vagas deixadas pelo partido de Temer mirando principalmente três legendas: PSD, PR e PP.

O PP, com seus 49 deputados, é a quarta bancada na Câmara (atrás de PMDB, PT e PSDB) e é considerado o principal na estratégia do Planalto. Para Leonardo Barreto, avaliações feitas no Congresso mostram que a legenda é mais confiável do que o PSD de Gilberto Kassab. O Planalto, assim, correria mais riscos com o PSD.

“O que me intriga é se o PP vai entregar os votos que está prometendo. Porque no partido há lideranças oposicionistas muito fortes, como a senadora Ana Amélia (RS). Precisamos ver se o PP não vai gerar o problema do PMDB, que é não entregar todo o apoio que prometia. Por ironia, o governo vai descobrir isso justamente na votação mais crucial para ele, a do impeachment”, avalia.

Para o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz, o PP não foi o partido que mais aumentou sua bancada desde o início da legislatura por acaso. A agremiação recebeu dez novos deputados e perdeu dois. As razões para esse movimento são duas, diz Queiroz. “A primeira é que o partido garantiu a quem chegou autonomia em relação ao voto no impeachment. Não vai enquadrar ninguém, o deputado vota sem ser obrigado a se posicionar contra ou a favor. A segunda razão é que quem chegou garante estrutura para a eleição municipal ou a recondução do mandato.”

Também para o analista do Diap, não é possível prever como a bancada do PP vai se posicionar. “Essa investida do governo sobre o PP pode não ser bem sucedida. É uma situação emergencial, precisa de votos para não permitir à oposição atingir os 342 votos, mas, ao mesmo tempo, aposta num partido que não vai lhe trazer nenhum conforto ou segurança”, diz.

Os acenos do governo talvez tenham um efeito irresistível aos deputados do PP porque o partido sempre teve participação muito pequena no governo. “Agora, estaria assumindo um protagonismo de parceiro do governo pela primeira vez”, afirma Barreto.

Para ele, do ponto de vista ideológico, o PP é um partido que se assemelha ao PMDB, porque “não tem identidade”. “O PP faz parte de um centro conservador. Lembremos que era o partido de Jair Bolsonaro até há pouco tempo (um ano). Talvez ele tenha um nível maior de coesão do que o PMDB, talvez o processo de negociação seja mais fácil. Mas é algo que vamos ter que esperar para ver.”

Barreto avalia como intrigante fazer projeções sobre qual governo vai emergir do furacão da crise, caso Dilma barre o impedimento no Congresso Nacional. “Se passar pelo teste do impeachment, que governo será esse? Será um governo extremamente devedor dos movimentos sociais, já que a política econômica foi muito diferente do que a presidente Dilma e o PT prometeram na campanha”, lembra.

“Mas, embora chateados com o governo, os movimentos sociais, quando o governo precisou, foram e estão indo às ruas. Por outro lado, existe esse arranjo com um ‘centrão’ conservador, que talvez esteja mais à direita do que o próprio PMDB estava. Porque no PMDB ainda dá para dizer que tem uma esquerda. Já no PP, no PTB e no PSD, não se pode dizer isso.”

Dentro das enormes limitações do chamado presidencialismo de coalizão, costurar um novo governo com uma base ainda mais conservadora no Congresso, e, do outro lado, muito devedor dos movimentos sociais, vai depender de talento político. “Vai ser um governo muito tensionado por esses dois polos ideológicos. Lula vai ter que usar toda a habilidade política que ele tem para equilibrar esses dois polos na balança”, conclui Leonardo Barreto.

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