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Em São Paulo, clima é de otimismo: ‘Golpe será vencido’

Movimentos garantem que, caso o impeachment passe na Câmara, haverá bastante energia para seguir a luta pela legalidade democrática

Danilo Ramos / RBA

Manifestantes defendem mandato presidencial de Dilma Rousseff e legalidade democrática, em São Paulo

São Paulo – Na capital paulista, o Vale do Anhangabaú apresenta um clima de festa e esperança de vitória contra a tentativa de impeachment que ameaça a presidenta Dilma Rousseff e que será votado logo mais na Câmara. O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues acredita que “o golpe vai ser vencido”. “Já ganhamos a batalha nas ruas, tanto entre formadores de opinião como a sociedade em geral. Essa mobilização vai atingir os deputados indecisos e vamos vencer o golpe”, afirmou.

Segundo Rodrigues, a mobilização dos trabalhadores tem sido muito forte e, mesmo que o impeachment vença entre os deputados federais, “a direita vai conhecer a verdadeira força do povo brasileiro”. Para ele, um possível governo do Vice-Presidente, Michel Temer (PMDB) não vai completar nem um mês. “Vamos fazer um processo de pressão muito forte e se o governo Temer assumir não vai durar mais que 15 dias. Vamos viver uma situação nunca vista no Brasil”, afirmou.

No Anhangabaú, mais uma vez a diversidade é a regra. Botijões de gás hélio para encher bexigas, barraquinhas com bandeiras, lambe-lambes e adesivos, grupos tocando música em vários pontos, espetáculos teatrais e shows no caminhão de som central. Painéis e caixas de som foram espalhados no local, que está lotado de manifestantes, que já seriam mais de 100 mil, segundo o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo.

“Vamos derrotar o golpismo no Congresso Nacional e encerrar esse ato com uma grande festa da democracia. Já somos 150 mil pessoas e a tendência é que não pare de chegar gente aqui no Vale. É o que temos visto não só aqui, mas em Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro. O povo tá na rua e essa pressãota fazendo diferença”, afirmou Izzo.

O presidente da CUT estadual garantiu que a postura da entidade vai ser de continuar nas ruas, “porque o golpe representa retrocesso para os trabalhadores e nós não vamos aceitar nenhum direito à menos”. Ele acredita que as ações de diálogo com a população organizadas pela Frente Brasil Popular em várias cidades brasileiras conseguiu esclarecer a população das reais intenções do impeachment. “O povo, a periferia, os setores médios da sociedade, estando organizado em entidade ou não, são hoje uma grande marcha vermelha contra o retrocesso em defesa da democracia”, completou.

Já o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) defende o não reconhecimento do vice-presidente como governante do país. As manifestações ao longo do país mostram que a mobilização do povo na rua contra o golpe é muito maior. É impossível admitir um governo ilegítimo, que é fruto de um golpe capitaneado por um presidente da Câmara corrupto como Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A partir de amanhã, se o golpe for vencedor hoje, vai ter resistência,vai ter luta, paralisações, manifestações e novas ocupações em todo o país”, disse.

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Juninho, do movimento negro: golpe em curso

O presidente do Psol paulista, Joselício Júnior, o Juninho, militante do movimento negro, avaliou que, apesar de ser uma ferramenta constitucional, o impeachment vem sendo articulado como um golpe, “conduzido de forma autoritária por um presidente ilegítimo da Câmara, que é o Eduardo Cunha”.

Para ele, a população pobre, preta e periférica vai ser a mais afetada pelo rompimento da democracia. “São 500 anos de história, 30 anos de democracia, o maior período democrático que a gente já viveu. Para nós, pretos pobres e moradores da periferia, para quem a democracia sequer foi conquistada integralmente, vai ser um duro golpe e seremos os primeiros atingidos por uma agenda retrógrada que vai destruir programas sociais, implementar ajuste fiscal e reforma da previdência, ampliar a violência contra a juventude pobre e preta”, afirmou.

Entre a população o setimento de esperança também é muito forte. E trouxe jovens, adultos, crianças, idosos, LGBTs, negros, mulheres, professores, metalúrgicos e militantes sociais de várias regiões da capital e do estado paulista. A estudante Erika Pires Rocha veio do Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo, para protestar contra o impeachment. E acredita que vem ocorrendo mudança de postura dos parlamentares.

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Erica Pires Souza, estudante

“Não acho aceitável o que está ocorrendo. Por mais que eu tenha muitas divergências, não se pode simplesmente derrubar a presidente. Se houvesse crime estou certa que não haveria tanta divisão no povo. Grande parte está sendo manipulada por parte da imprensa”, afirmou. “Votei nela e quero que termine o mandato. Desde 2011 estão atacando ela e agora vieram com toda força”, completou.

Militante feminista, pequena agricultora assentada da reforma agrária, filha de santo e, agora, engenheira agrônoma. A história de Adélia Faria se confunde com o governo petista, como ela faz questão de ressaltar. “Eu estudei agronomia na Universidade Federal de São Carlos tendo feito Telecurso para completar o ensino médio e sido uma camponesa sem terra. Antes do governo Lula eu não teria a menor chance”, afirmou.

Para ela é questão de honra lutar até o último minuto e também se o golpe vencer na Câmara. “O governo mesmo não perde nada. Quem vai perder somos nós, nos programas sociais, no aceso à universidade”, afirmou.

Danilo Ramos/RBAanhangabau4.jpg
Jovens namorados, pela democracia e porque a presidenta não é acusada de crime

O estudante Luiz Dantas veio com o namorado “lutar pela democracia”. Para ele não há base para o impeachment, porque a presidenta não é acusada de crime. “Já pediram recontagem de votos, anulação da eleição, acusaram de ter fraudado urna, quiseram que ela renunciasse, agora querem impeachment. Isso mostra o desespero de quem não tem base para depôr a Dilma”, afirmou.

Dantas avaliou que a imprensa vem forçando a impressão de que o governo está derrotado, para desestimular a luta. “Nós queremos reformas, mais direitos, sobretudo para a população LGBT que vem sendo muito atacada. Não precisamos de um golpe”, concluiu.

Menos esperançoso, o professor Rodrigo Oliveira Pinto teme que o impeachment passe pelo Congresso. “E se não passar hoje vão continuar tentando, porque a sanha de fazer reformas neoliberais é muito forte. E isso vai acabar com direitos sociais, com direitos trabalhistas e os avanços que tivemos nos últimos anos”, afirmou ele, que estava acompanhado da esposa, Priscila Campanholo, e dos filhos Henrique e Francisco.

Para ele, os 15 anos de governo petista não representaram uma revolução, mas teve avanços importantes que são opostos ao que propõem as políticas neoliberais defendidas por Temer e os que o apoiam. “As ações sociais, a criação de oportunidades no ensino superior a partir da abertura de universidades federais. Eu não acredito que esses outros tenham interesse em desenvolver mais essas políticas. Vamos ter retrocessos, não avanços”, concluiu.

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