Em cima do muro

Em dúvida sobre permanência no governo, PMDB elege nova executiva no sábado

Dia foi de aparar arestas por meio de reunião de Lula com senadores peemedebistas, mas possibilidade de afastamento é cada vez mais cogitada. Vice tem se mantido calado desde a última semana

Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Reunião de Lula com senadores na casa de Calheiros foi vista como tentativa de aproximação com peemedebistas

Brasília – O PMDB programou a eleição para escolha dos novos integrantes da sua executiva nacional para sábado (12), quando definirá também como ficará a posição dos principais caciques da sigla, fechará acordos nacionais com vistas às próximas eleições e dará sinais se pretende deixar o governo ou se ficará na base aliada. A presidenta Dilma Rousseff, segundo alguns líderes partidários, já deixou clara esta preocupação na última reunião de coordenação política. Mas o clima tem sido de expectativa e suspense hoje (9), e os peemedebistas evitam o tema. “A decisão de deixar o governo não é certa, nem sairá agora, apesar dos muitos pedidos”, afirmou um deputado.

Apesar da avaliação de muitos líderes partidários de que os peemedebistas só desembarcarão do governo no último momento, até por conta dos seis cargos que ocupam nos ministérios, um aceno de que o tema preocupa o Executivo é o fato de ser considerada pelos oposicionistas a possibilidade de contar com votos de parlamentares da sigla na votação do processo de impeachment.

Nesta manhã, a reunião realizada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e senadores na casa do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), foi vista como mais uma tentativa de aproximação do PT com os peemedebistas. A princípio, a reunião tinha sido programada entre Lula e apenas os senadores do partido, mas como o encontro vazou, parlamentares de outras siglas foram igualmente convidados.

Segundo um líder da base aliada, a orientação que tem sido dada pelo Planalto é aguardar o andamento da reunião de sábado e evitar, ao máximo, atritos com os integrantes da atual maior bancada parlamentar do Congresso até que surja uma definição sobre que caminho que esses parlamentares vão tomar.

Viaja, não viaja

Um outro sinal de que a situação de permanecer ou não na base do governo tem sido mais discutida entre os peemedebistas tem sido observado pelo próprio comportamento do vice-presidente Michel Temer nos últimos dias. Temer tinha desistido de viajar pelo país com o argumento de buscar apoios para sua recondução à presidência nacional do partido. Foi aconselhado por aliados, no mês passado, a deixar a ideia de lado para não parecer que estaria usando isso como pretexto para se apresentar com um vice pronto para assumir o governo, no caso do afastamento da presidenta.

Mesmo tendo afirmado que não mais viajaria, o vice-presidente não deixou de se locomover para algumas reuniões em diretórios do Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

E, para completar, passou os últimos cinco dias recluso, sem dar declarações públicas sobre a 24ª quarta fase da Operação Lava Jato, que fez a condução coercitiva do ex-presidente Lula para prestar depoimentos. Ficou totalmente de fora do assunto e não fez nem sequer um comentário sobre a situação de Lula. Essa postura pegou mal, de acordo com senadores do próprio partido do vice, sobretudo, pelo fato de ele ser considerado um constitucionalista renomado no país.

Em fevereiro, o Planalto comemorou, embora de forma discreta, a recondução do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que é opositor do presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ), e tem atuado cada vez mais próximo do governo, como aliado. Picciani é uma das esperanças para ajudar a manter os peemedebistas na base.

Mas continua grande o número de parlamentares que falam em deixar a legenda até o final da janela partidária aberta pela legislação, que acaba no próximo dia dia 18 (e que permite a troca de partidos sem que esses deputados e senadores percam o cargo por infidelidade partidária). E, maior ainda, o número de declarações de peemedebistas criticando o Executivo.

“Ficaram de indicar o novo ministro da Secretaria de Aviação Civil, em substituição ao Padilha (Eliseu Padilha, ligado a Michel Temer, que pediu demissão do cargo), mas até agora isso não saiu. Falam em aproximação, mas tudo que diz respeito ao PMDB deixa os ministros e a presidenta Dilma de cabelo em pé e só quando precisam pedem nosso apoio. A parceria tem de ser desde sempre e não só nos momentos bons para eles”, reclamou um deputado baiano.

Constituição para Lula

Um ponto de suposta trégua aconteceu quando durante a reunião com Lula, o senador Renan Calheiros entregou ao ex-presidente uma cópia atualizada da última edição da Constituição Federal. Renan disse que a Carta Magna é uma prova de que “as investigações da Lava Jato estão extrapolando as regras de respeito à ampla defesa e ao devido processo legal”.

A iniciativa soou como um simbolismo simpático para o relacionamento PT-PMDB, não fosse o fato de o próprio Renan Calheiros ser um dos parlamentares investigados pela Lava Jato – e ter parecido que atuava em causa própria. Conforme especulações feitas nos últimos dias, o presidente do Senado foi alvo de novas denúncias feitas na suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Afirmando que não sabe de qualquer acusação feita contra ele por Delcídio e reiterando que nada tem a temer, Renan Calheiros afirmou, ao final do encontro com os demais colegas e com Lula, que existe “uma Constituição do Estado democrático de direito que precisa ser respeitada”.

“Ninguém pode ser contra investigação. A diferença da investigação é daqueles que têm o que dizer e os que não têm o que dizer. Entreguei a Constituição para simbolizar este momento importante, em que precisamos garantir a liberdade de expressão, a presunção de inocência e o devido processo legal”, disse.

Para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), o momento não é de se falar em divisão do partido e sim de conversas entre a base aliada, até por conta de tudo o que está acontecendo no país.

Questões internas

“Na reunião nós ouvimos esclarecimentos do presidente sobre o sítio em Atibaia, sobre o apartamento no Guarujá, que não são propriedades dele, foi um encontro no qual ele (Lula) explicou tudo o que está acontecendo e reclamou do tratamento que tem recebido por parte de órgãos como Ministério Público e Polícia Federal. A situação do PMDB é assunto da executiva nacional e o que será discutido lá tem a ver com a questão dos cargos dentro do partido em si. Ninguém falou em afastamento ou reaproximação da base aliada até porque o PMDB faz parte do governo”, disse Oliveira.

Conforme acerto feito no início do ano, um acordo feito entre o grupo de Renan Calheiros – que a princípio queria disputar a presidência da executiva com Temer – e o grupo do ex-presidente permitiu a formação de uma chapa única. Por meio desta chapa, Michel Temer será reconduzido à presidência e o vice-presidente passará a ser o senador Renan Calheiros. Eunício Oliveira permanecerá à frente da primeira secretaria do partido.

Já em relação ao afastamento de Temer nos últimos dias, assessores da vice-presidência informaram que o isolamento do vice se deu para que ele evitasse se expor até a realização da convenção do sábado. E também, para que não dê declarações que desagradem o Palácio do Planalto e soem como provocações, uma vez que Temer se comprometeu em ter um relacionamento institucional com a presidenta Dilma, em dezembro.

Leia também

Últimas notícias