Troca de cadeiras

Ministros peemedebistas se dividem ante saída do governo

Decisão da executiva nacional do partido levou petistas a denunciarem ação do PMDB como “golpista” e a criticarem Temer. Palácio iniciou, há pouco, reunião para discutir iniciativa e deve se pronunciar a respeito

Brasília – Passadas pouco mais de três horas da reunião da executiva nacional do PMDB que decidiu pelo desembarque da legenda do governo, as especulações no Congresso agora são sobre quem vai entregar os cargos ocupados no Executivo. Segundo peemedebistas, já anunciaram que vão sair do governo e seguir a orientação da sigla os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia), Helder Barbalho (Portos) e Mauro Lopes (Aviação Civil). Mas os três pediram um tempo aos caciques do partido para definirem alguns programas para seus estados que teriam ficado de deliberar nessas pastas, até a primeira quinzena de abril.

Por outro lado, não demonstraram intenção em sair dos ministérios os titulares da Agricultura, Kátia Abreu; Ciência e Tecnologia, Celso Pansera; e Marcelo Castro, da Saúde. O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), afirmou que a base aliada pretende conversar com os deputados da legenda e buscar apoios contra o processo de impeachment, mas vai aguardar antes a movimentação dos peemedebistas a ser observada nos próximos dias.

O líder foi enfático em sua crítica ao vice-presidente Michel Temer.De acordo com ele, Temer “posava de jurista, mas fez a escolha pela guerra”. “Não dá para derrubar uma presidente eleita sem crime de responsabilidade, sem investigação por aqueles que são investigados e supor que isso estabilize a República”, acentuou. O deputado lembrou, também, que o vice-presidente da República “é investigado pela Lava Jato, enquanto a Dilma não é”.

Já a deputada Maria do Rosário Nunes (PT-RS) disse lamentar o que chamou de “papel de quem age pela via do golpismo”, ao criticar a decisão do PMDB. Maria do Rosário lembrou, durante discurso inflamado no plenário, esta tarde, que o projeto intitulado ‘Uma Ponte para o Futuro’, lançado no ano passado pelos peemedebistas, “mais parece o passado de privatizações no Brasil, mais parece o fim de políticas públicas, mais parece o corte de recursos nas áreas sociais, mais parece o flerte que agora se avoluma com o caminho do golpismo, coordenado, a partir desta mesa, de forma espúria e ilegítima, por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que, agora, de certa forma, unifica-se para uma atuação golpista”.

De acordo com a deputada, “se, em outros momentos, Itamar (Franco) e (José) Sarney chegaram ao poder sem o voto, chegaram com o apoio da Constituição”. No entanto, segundo ela, “se Michel Temer assumir a Presidência da República via um impeachment espúrio e ilegal, não chegará pela via constitucional”.

Outra a falar no mesmo tom logo após a notícia do rompimento dos peemedebistas foi a deputada Moema Gramacho (PT-BA). Para a parlamentar, a história do PMDB é “uma história de traidores”, numa referência tanto a Temer como ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tenta impor manobras regimentais para se salvar no processo que o investiga no Conselho de Ética.

“Ainda por cima usam o discurso de que querem unificar o país? Que unificação é esta? A história de traidores no mundo não é de unificação. A história de traidores no mundo é de ódio; é de quem promove as guerras, principalmente as guerras sangrentas; uma história de golpe, como esse que Michel Temer quer dar no nosso país contra a presidenta Dilma Rousseff”, criticou.

‘Desde 2014’

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, por sua vez, afirmou logo depois da reunião que o rompimento do PMDB com o governo nada tem a ver com o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e já vinha sendo observado desde 2014, nas negociações para a renovação da chapa Dilma-Temer. “O rompimento apenas foi institucionalizado porque já existia na prática desde aquele tempo. O PMDB não faz parte do projeto do governo petista nem tem responsabilidades dos erros do governo, por isso não deve arcar com os ônus do governo e deveria já ter deixado a base”, ressaltou.

Por outro lado, o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que não participou da reunião, disse que sua ausência se deu por um caráter institucional e que, pelo fato de ser a pessoa que pode presidir a sessão final do Congresso que vai decidir pelo processo de impeachment, precisa se preservar o máximo possível para continuar tendo “isenção e independência para conduzir os trabalhos”.

Apesar da declaração das bancadas oposicionistas de que a saída do PMDB do Executivo é “um sintoma de que o governo Dilma está no final”, não enviaram representantes para a reunião da legenda os diretórios regionais dos estados de Alagoas, Amazonas, Pará, Mato Grosso e Sergipe. O Palácio do Planalto iniciou há pouco uma reunião da coordenação política com líderes da base aliada para discutir a decisão dos peemedebistas e a expectativa é de que deverá ser divulgado algum comunicado por parte do ministro da chefia de gabinete da presidência, Jaques Wagner, logo após este encontro.

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