Crise

Para dirigente da CUT, ato de ontem foi resposta a ‘agenda atrasada’

'Não é o Brasil de 1964. Não sairemos das ruas enquanto houver essa nuvem golpista', diz presidente da CUT-SP

danilo ramos/rba

Izzo avalia que movimento social organizado deu um “recado à Fiesp e aos setores atrasados da sociedade

São Paulo – Para o presidente da CUT de São Paulo, Douglas Izzo, o ato de ontem (18) na Avenida Paulista, que ele considerou “uma manifestação histórica da esquerda brasileira”, representou uma resposta a todos os que querem promover uma agenda “do atraso” em termos políticos e de direitos sociais. “Não é o Brasil de 1964. Temos instituições consolidadas e não vamos, de forma alguma, sair das ruas enquanto houver essa nuvem golpista”, afirmou.

No ato da Paulista, dos personagens mais lembrados, o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), Paulo Skaf, foi alvo de boa parte das críticas, por defender explicitamente a renúncia de Dilma Rousseff e oferecer apoio aos manifestantes contrários ao governo. Na quinta, um dia antes da manifestação, a Fiesp promoveu um encontro em sua sede, quando Skaf decidiu apoiar o impeachment, acompanhando a votação de cada parlamentar. Para o dirigente, depois que a questão política se resolver “a economia vai se recuperar rapidamente, e as coisas entram no eixo”.

Os movimentos sociais também esperam mudanças na condução da política econômica. “A pauta econômica e social deve ser implementada imediatamente”, afirmou durante o ato um dos dirigentes nacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro.

Com um ato tranquilo na maior parte do tempo, o único conflito ocorreu justamente ao lado da Fiesp, onde um grupo de manifestantes a favor do impeachment apareceu no início da manifestação. Eram poucas pessoas, mas o suficiente para provocar discussão e um início de briga. O acesso à entidade permaneceu bloqueado pela Polícia Militar. Hoje (19) pela manhã, militantes antigoverno voltaram a se instalar na Paulista, exatamente diante da sede da federação patronal.

Izzo avalia que o movimento social organizado deu um “recado à Fiesp e aos setores atrasados da sociedade brasileira, que tentam rebaixar direitos dos trabalhadores”. Ele lembrou que participaram do ato representantes de trabalhadores urbanos e rurais, sem-terra, sem-teto e estudantes.

E destacou a importância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo “para sair desse período difícil do Brasil”. Para o dirigente, Lula tem capacidade de unir os vários setores da sociedade “e construir políticas no sentido de superar as divergências internas no país”.

Enquanto isso, o poder econômico põe peso em mudanças no governo. Defensora de uma agenda de flexibilização de direitos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota durante a semana afirmando que ninguém aguenta mais ver o “espetáculo deprimente” na política brasileira. Skaf é o 1º vice da entidade. Segundo o jornal Valor Econômico, ainda na véspera do ato dos movimentos sociais, a Fiesp ofereceu almoço a defensores do impeachment, incluindo filé mignon.