Dia seguinte

Ordem no governo é ‘tocar o barco’ e destravar economia

Orientação é buscar aproximação com a base, combater impeachment e aprovar no Congresso agenda mais positiva para o país

memória/ebc

Para líder do PT da Câmara, Afonso Florence, pessoas foram às ruas para protestar de forma apartidarizada

Brasília – A presidenta Dilma Rousseff passou boa parte da manhã de hoje (14) reunida com nove ministros para avaliar o impacto das manifestações de ontem para o Executivo, mas contrariando muitos que esperavam que ela se pronunciasse ao final do encontro, nem Dilma nem os auxiliares fizeram qualquer comentário oficial sobre o assunto. Assessores do Planalto destacaram que a nota oficial divulgada ontem à noite já abordou o tema. “A ordem é tocar o barco. Vamos conversar, buscar mais apoios, mas sempre buscando a continuidade dos trabalhos. Queremos passar, até porque é uma asserção verdadeira, a ideia de que o trabalho prossegue”, ressaltou um dos ministros.

Nos bastidores, o que se comenta é que, enquanto ainda não é tida como encerrada a discussão sobre se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa ou não um ministério, a agenda da semana está pesada também porque, além de trabalhar para fazer correr o processo de impeachment no Congresso, é preciso buscar os rearranjos partidários de forma a garantir votos necessários e evitar surpresas.

A base aliada do Congresso e os ministros da área política não podem deixar o Executivo sair do estado de alerta, uma vez que a pauta de votações para a semana, tanto da Câmara quanto do Senado, possui matérias que podem deixar o governo em situação de saia ainda mais justa. É o caso, por exemplo, da proposta que abre brechas para a privatização das estatais (no Senado) e as chamadas pautas-bomba – como o projeto que altera a forma de indexação das dívidas dos estados e municípios (na Câmara).

Entre os líderes partidários, a avaliação feita esta manhã foi de que, apesar do número de manifestantes ter sido grande e ter fortalecido o discurso da oposição pelo processo de impeachment, está cada vez mais claro que o debate vai ser político e feito bancada por bancada. A orientação é de governo e base saírem em busca de apoios entre os peemedebistas e demais parlamentares, inclusive de outros partidos que, embora não sejam da base, também não fazem parte da proposta oposicionista de afastamento da presidenta, como deputados e senadores do Psol.

Políticos em geral

O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), destacou que um dos pontos avaliados na reunião foi o fato de a manifestação ter sido marcada por um protesto contra os políticos de uma forma geral e não especificamente contra o governo. “Houve de fato muita gente nas manifestações, mas o julgamento do pedido de impeachment será realizado com base na legislação. Vimos líderes da oposição serem bastante hostilizados também e não vejo uma mudança na situação política, propriamente, porque as pessoas foram às ruas para protestar de forma mais apartidarizada”, disse.

O vice-líder do PPS na Câmara, Arnaldo Jordy (PA), reiterou o discurso oposicionista de que o impeachment ganhou força, mas afirmou que o melhor caminho seria pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para votar o processo de cassação da chapa Dilma-Temer e decidir sobre a convocação de novas eleições – em vez de insistir no processo de impeachment.

“O Supremo Tribunal Federal, a Operação Lava Jato, o Congresso Nacional, o TSE, acho que essas instituições precisam entender o recado das ruas. O povo não foi pra rua partidariamente, o que vimos foram famílias, cidadãos de bem protestando, dizendo que não aceitam a corrupção. O melhor caminho seria marcar novas eleições, dentro do mais estrito cumprimento da legalidade, cumprimento do ordenamento jurídico. O impeachment ganhou força, não tenha dúvida. O povo deu recado. O cidadão fez o seu papel. Cabe agora às instituições fazerem o seu”, declarou.

O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), adotou um posicionamento mais duro e disse que a avaliação feita pela bancada do seu partido sobre as manifestações foi de que “a crise é sem precedentes e o governo está encurralado”. Avelino foi rebatido de pronto por outros dois deputados do PT.

Wadih Damous (RJ), vice-líder do partido na Casa, afirmou que o governo reconhece a expressividade do ato, mas o impeachment “continua sendo golpe, porque a presidente Dilma não cometeu crime de responsabilidade”. De acordo com ele, “a manifestação não foi representativa da população, por ter apresentado um perfil mais de classe média”.

“Muita gente foi para as ruas, mas todos viram que eram pessoas mais de classe média. Infelizmente, o teor da manifestação era um golpe de Estado, mais ou menos nos moldes da marcha com Deus pela liberdade em 1964. Agora, dia 18, haverá participação dos trabalhadores brasileiros, operários, professores, camponeses, o povo brasileiro. Não podemos negar que foi uma manifestação importante, contou com número significativo de pessoas e um acréscimo importante no Rio e em São Paulo, mas vamos aguardar para ver a manifestação de sexta-feira”, disse Wadih Damous.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) também disse que o que o movimento exige uma resposta política e por parte de todas as instituições. Segundo ele, tanto o Executivo como o Legislativo devem caminhar por uma resposta política a esse apelo das ruas, “fazendo andar as matérias voltadas para melhoria da situação econômica do país”.

Participaram do encontro da reunião política com Dilma, no Palácio, os ministros José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União); Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo); Edinho Silva (Comunicação Social); Jaques Wagner (Casa Civil); Gilberto Kassab (Cidades); André Figueiredo (Comunicações); Antônio Carlos Rodrigues (Transportes); Marcelo Castro (Saúde); e Carlos Vieira, ministro interino da Integração Nacional. Além deles, estiveram presentes os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (CE), e no Congresso Nacional, José Pimentel (CE).

Depois de um final de semana tão atípico, o Congresso Nacional também está tendo um início de semana diferente, com a antecipação da chegada de vários políticos. Muitos parlamentares já se encontram nos seus gabinetes desde o final da manhã – quando em geral a maioria deles chega à capital do país nas manhãs das terças-feiras. Também há previsão de que eles permaneçam até sexta-feira (18), para a votação das matérias previstas na pauta das duas Casas legislativas e, ainda, para discutirem a questão da composição das comissões técnicas e sobre os blocos partidários – a serem refeitos após o encerramento do prazo de janela partidária, na sexta-feira.

Leia também

Últimas notícias