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Vazamento atesta colaboração entre Moro e autoridades dos EUA

Conferência realizada em outubro de 2009 no Rio de Janeiro reuniu representantes do Ministério Público, Judiciário e PF com autoridades norte-americanas para treinamento de combate ao terrorismo

Vitor Teixeira

São Paulo – O “complexo de vira-lata” dos brasileiros, na célebre expressão criada pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, e a relação de colaboração do juiz Sérgio Moro com autoridades norte-americanas têm um testemunho inconteste, segundo um documento da diplomacia dos Estados Unidos vazado pelo WikiLeaks, e publicado ontem (23) pelo jornalista Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho.

Uma conferência realizada em outubro de 2009 no Rio de Janeiro reuniu membros da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário com autoridades dos Estados Unidos para treinamento no combate ao terrorismo.

Segundo o documento, a conferência contou com juízes federais e promotores de cada um dos 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, além de 50 delegados da PF e também 30 juízes, promotores e policiais de alçadas estaduais. Estiveram presentes ainda representantes do México, Costa Rica, Panamá, Argentina, Uruguai e Paraguai.

“A conferência de uma semana foi elogiada por escrito pelos participantes, com muitos deles solicitando mais treinamento, incluindo treinamento específico de combate ao terrorismo”, afirma o documento.

“Em adição, os participantes elogiaram o fato de que o treinamento foi multijurisdicional, prático e incluiu demonstrações reais (como preparar uma testemunha para depor e o exame direto das testemunhas). Treinamentos futuros devem ser elaborados em áreas como a de forças-tarefa em finanças ilícitas, o que pode revelar-se a melhor maneira de combater o terrorismo no Brasil”, diz ainda a mensagem da diplomacia.

“Essa é a primeira conferência regional construída sob o projeto ‘Pontes’ (do inglês, Bridges Project), um novo conceito introduzido em fevereiro de 2009 para consolidar o treinamento bilateral na aplicação da lei”, afirma o documento, que também destaca a participação do juiz Sérgio Moro no evento: “O juiz federal Sérgio Moro falou sobre os 15 problemas mais comuns que ele vê na lavagem de dinheiro, segundo os casos que estão nas cortes brasileiras”.

A ironia do documento fica por conta de seu pretenso afastamento de questões políticas: “Nas avaliações pós-conferência, o treinamento mais solicitado esteve relacionado com contraterrorismo, demonstrando claramente que os juízes, promotores e outros profissionais da aplicação da lei federal estavam menos preocupados com o campo minado da política em torno do termo e realmente interessados em aprender como envolver o processo judicial na luta contra o terrorismo”.