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Líder descarta saída do PMDB da base e diz que o partido ‘estará onde sempre esteve’

Leonardo Picciani diz que tema “nem cabe na pauta da reunião da executiva”, no sábado (12). Lideranças de outros partidos criticam tentativa de integrantes da sigla de ‘abandonar o barco’

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Negativa de Picciani da saída do PMDB do governo mostra cada vez mais a divisão do partido

Brasília – O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), afirmou que o partido seguirá “onde sempre esteve” e que ele é um dos integrantes da legenda que trabalhará para que isso aconteça. Reconduzido à liderança na Casa em fevereiro com o apoio do governo, Picciani descarta a possibilidade de ser discutida, nos próximos dias, a saída da legenda da base aliada. Ele afirmou que não sabe nem sequer se haverá condições para o assunto ser tratado na reunião da executiva nacional, programada para sábado (12), quando serão realizadas eleições para escolha dos principais cargos do partido.

A negativa de Picciani da saída do PMDB do governo mostra cada vez mais a divisão entre os peemedebistas, uma vez que ontem vários dos integrantes da legenda se encontraram com  parlamentares do PSDB, num jantar na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Ao fim do encontro, eles falaram em “parceria entre os dois partidos para ajudar o país a sair da crise”.

O líder do PMDB na Câmara não compareceu ao jantar. Nos bastidores, o que se fala é que o grupo de Picciani aguarda a indicação a ser feita, nos próximos dias, do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) como novo secretário nacional de Aviação, como forma de acalmar um pouco mais a bancada.

O cargo tinha sido prometido para Lopes como parte das articulações com o PMDB de Minas Gerais para apoio à recondução de Picciani à liderança, com o aval do Palácio do Planalto. E está sendo visto como mais uma forma de redefinir a aliança PT-PMDB, fortalecer a ala peemedebista favorável ao governo e impedir que o lado mais oposicionista da sigla leve adiante os planos de formalizar uma saída definitiva da chapa com o PT.

Mais divisão

O que mais irritou líderes partidários sobre a conduta de integrantes do PMDB foi, sobretudo, o fato de eles terem se encontrado durante a manhã de ontem com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a crise no país e a importância da votação de propostas do ajuste fiscal – em encontro no qual Lula pediu o apoio da legenda –  e à noite, terem sentado com parlamentares tucanos para definir futura parceria.

Por causa de tantas contradições, deputados e senadores de outras siglas chegaram até a usar palavrões durante conversas reservadas nos plenários da Câmara e do Senado para se referir aos peemedebistas. E eles, de acordo com a avaliação de um  líder partidário, têm sido vistos nos últimos dias no Congresso como políticos que estão seguindo entendimento destacado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), no ano passado.

Jucá, na época, fez uma metáfora dizendo que o governo parecia o Titanic, prestes a bater num iceberg e afundar, e não sabia “se era melhor estar na cabine do Titanic ou num barco inflável no meio do mar”. A metáfora foi feita pelo senador para afirmar que achava importante serem feitas mudanças nos rumos da economia, como forma de evitar que o governo afundasse como o histórico navio. Mas os senadores e deputados ouvidos ontem lembraram da frase e passaram a interpretá-la de outra forma – até mesmo pelo fato do senador ter apoiado o tucano Aécio Neves (MG), nas eleições de 2014.

“Os peemedebistas estão agindo como se o governo fosse mesmo o Titanic, como tinha lembrado Jucá, e já estão à procura dos botes infláveis. Eles tentam, como ratos, ser os primeiros a abandonar o navio, só que este navio está bem longe disto e não afundará”, chegou a reclamar um desses parlamentares ouvidos pela RBA.

Conforme repercussões de conversas entre o vice-presidente, Michel Temer, e o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, Temer já teria dito que há uma possibilidade da legenda liberar os seus integrantes para votar da forma como acharem melhor no processo de impeachment de Dilma Rousseff, o que deixou preocupado o Palácio do Planalto e causou ainda mais revolta entre os petistas.

Mesmo assim, o clima é de expectativa e de orientações a todos para evitarem confrontos. Principalmente, até o resultado das eleições da executiva nacional, já que está sendo esperada para depois deste evento a saída de vários deputados e senadores do partido, contando com a abertura na legislação eleitoral para migrações sem perda de mandatos – a chamada “janela de filiações partidárias”, a ser encerrada no dia 18.

‘Ajudar o país’

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que foi ao encontro promovido pelos tucanos, disse que a parceria não significa ruptura com o PT, nem tem o objetivo de derrubar “quem quer que seja”. Para Eunício Oliveira, longe de ter um tom oposicionista ou governista, o encontro “buscou ajudar o país”.

Na mesma linha de tentar consensos, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou, nesta manhã, que as medidas de estabilização da economia no curto prazo e as reformas propostas pelo Executivo (de longo prazo), “refletem pontos apontados pelos dois principais partidos de apoio ao governo”, em uma referência ao PMDB.

“As propostas incluem ações de curto prazo para estabilizar renda e emprego, como sugerem lideranças do PT, e envolvem a adoção de reformas estruturais para controlar despesas, como foi sugerido por várias lideranças do PMDB”, destacou Barbosa. De acordo com o ministro, “não é hora de extremismos na política econômica, mas de volta à normalidade”.

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