'Constituição atropelada'

Vannuchi diz que ação do MP já nasce ‘nula’ e volta a criticar operação

Analista político ressaltou iniciativas promovidas pelo instituto, que estimula a cooperação com a África e a integração latino-americana. E lembrou que a PF ainda mantém os e-mails do órgão

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Memorial da Democracia é uma das iniciativas do Instituto Lula, que também promove cooperação com a África e AL

São Paulo – O analista político da Rádio Brasil Atual, Paulo Vannuchi, voltou a criticar a operação realizada na última sexta-feira (4), que levou à condução forçada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento. Em seu comentário de hoje (10), ele também atacou a denúncia contra Lula apresentada ontem pelo Ministério Público paulista, lembrando que o promotor Cássio Conserino já havia procurado a revista Veja para adiantar que faria a acusação. “Ele procura a mídia, procura o enfrentamento, antes de tomar o seu procedimento judicial, que já nasce eivado de nulidade”, afirmou.

Vannuchi observou que o MP paulista não toma qualquer atitude em relação a escândalos envolvendo o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Também criticou o papel da mídia, que nada publica a respeito de vazamentos envolvendo o senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Alguém já viu algum trecho que foi vazado sobre Aécio? Não sai uma linha sobre o conteúdo.”

Segundo ele, o que aconteceu sexta-feira foi algo “desastrado, mas, mais grave ainda, foi ilegal, inconstitucional”. Diretor do Instituto Lula, Vannuchi também contestou a alegação de que a entidade não promove atividades, citando seminários, viagens e programas de cooperação, em relação, principalmente, à África e à América Latina. Destacou ainda o Memorial da Democracia, outra iniciativa do instituto.

Ao mesmo tempo, o analista acredita que a operação de sexta-feira representou um “tiro no pé” na onda golpista e ajudou a quebrar uma “quase unanimidade” em relação ao juiz Sérgio Moro, com críticas de vários juristas e autoridades ligadas aos direitos humanos, inclusive ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso, além do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello e do ex-ministro Ayres Britto. Para ele, as ações contra Lula ajudaram a “turbinar” a reação popular.

Vannuchi disse que a Polícia Federal mantém ainda o controle sobre os e-mails do Instituto Lula, inclusive o seu endereço de correspondência eletrônica. “Não sei o que vão fazer, se alguém vai vazar e pegar esse e-mail para começar a botar em meu nome coisas que eu não disse”, comentou. Se seria exagero comparar com a rotina de tortura, mortes e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura, é comparável quanto ao desrespeito às regras do direitos e aos direitos individuais, que “estão sendo igualmente ofendidos e desrespeitados”, diz o analista.

Ele afirma ainda que é preciso lançar uma campanha para recuperar o estatuto do habeas corpus, instrumento jurídico que dá garantia individual contra o abuso do poder, que “na prática, vem desaparecendo, no Brasil”. Vannuchi avalia que a Constituição “está sendo atropelada, desrespeitada, violada”. E lembrou que o ex-presidente esteve ontem em Brasília, conversando com a presidenta Dilma Rousseff e visitando o Senado, onde recebeu do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), um exemplar da Constituição de 1988.

A hora é de trabalhar pela unidade de todos os que querem que a Constituição e os direitos humanos sejam respeitados. Com essa força, podemos ter mudanças de governo, trocas de partido, mas sem golpismo, sem a regressão aos tempos de um regime ditatorial que ainda deixa profundas marcas no Brasil”, conclui Vannuchi.

Ouça a entrevista à Rádio Brasil Atual: