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‘Defender Estado de direito não é bandeira abstrata, representa avanços sociais’

À Rádio Brasil Atual, cientista político Renato Martins afirma que a sociedade precisa se mobilizar para evitar a 'pior ditadura que existe: a judiciária'

Danilo Ramos/RBA

Renato: ‘Movimentos sociais que deram vida a democracia brasileira participam da luta contra da ditadura militar’

São Paulo – O Brasil de 1964 e o de 2016 são países diferentes, o contexto de globalização e a democracia pós-Constituição de 1988 diferem do período pré-golpe de 52 anos atrás. E, principalmente, o país mudou nos últimos 15 anos. A análise é do cientista político José Renato Vieira Martins à repórter Marilu Cabañas na edição de hoje (22) do Jornal Brasil Atual. “O contexto internacional porém, apesar da grande distância história, é um ponto em comum”, destaca o professor da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila) e presidente do Fórum Universitário Mercosul (Fomerco). “O Brasil, por ser um país com muitas riquezas naturais, é bastante cobiçado por empresas multinacionais que estiveram presente no período que antecedeu o golpe militar e estão hoje também.”

“Uma das tendências que a gente tem observado nesse processo político recente é uma resistência ao rumo que o país tomou de uma interação mais autônoma e soberana junto à América Latina e as mesmas forças que, no pré-64, atuavam no sentido de maior alinhamento com os Estados Unidos me parecem que hoje estão presentes no sentido de restringir esse espaço soberano nacional”, afirma Renato Martins.

A classe média, um dos atores do golpe militar no Brasil, é um fenômeno também presente nos países vizinhos nos movimentos que antecederam os golpes de Estado, explica Renato. O professor recorda que foi muito forte no Chile atos como panelaços contra o governo Allende, as sabotagens econômicas e o desabastecimento. “Estratégias que estão presentes atualmente, por exemplo, na Venezuela e no Brasil. Esse fato remete a outro fato comum, o pré-golpe de 64 e hoje”, compara o professor da Unila.

“É preciso suspeitar se não há por de trás de todos esses movimentos no Brasil uma certa participação, uma ingerência de potência estrangeiras, como agências de inteligência, que nós sabemos que já atuavam e permanecem atuando. O país mudou economicamente, acho que a democracia atual é distinta da ‘democracia populista’ do período de 1945. Hoje, temos entidades da sociedade civil muito mais organizadas, mais independentes e ativas, temos partidos políticos de esquerda, como o PT, presentes nacionalmente, o que dá outra configuração na organização dos setores populares”, afirma.

Ao analisar a participação de partidos e movimentos sociais de esquerda na manifestação na última sexta-feira (18), Renato Martins vê diferenças e semelhanças com o período pré-golpe militar de 1964. “A polarização da sociedade estava lá também, os movimentos sociais que deram vida à democracia brasileira participaram da luta contra a ditadura militar, e as atuais gerações que vão às ruas apoiar o antigo regime não se dão conta do que representou a ditadura para todos nós.”

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José Renato Vieira Martins é professor da Unila e presidente do Fomerco

“Em contrapartida, os movimentos sociais, os partidos de esquerda, as pastorais, essa imensa variedade da sociedade brasileira tem um fortíssimo compromisso com a democracia e o Estado de Direito, que sabe que isso não é apenas uma palavra escrita na Constituição, nós vimos na prática recente que a democracia tem desdobramentos práticos para a sociedade. Elas significam a oportunidade de mais emprego, desenvolvimento, distribuição da renda, em favor dos setores populares. Então não estamos tratando de uma bandeira abstrata ao defender o Estado de Direito, os movimentos que estão indo às ruas mostrando que o governo ainda tem uma base social mobilizada, ele é muito vigoroso.”

O Fomerco se posicionou a favor da democracia e do Estado de Direito e expôs a preocupação com o processo de polarização que a sociedade brasileira passa hoje. O presidente do Fórum explica que a entidade trabalha há 15 anos pela integração latino-americana e vai além dos acordos entre Estado e empresas, além de lutar por uma integração ampliada e profunda, já que no contexto da globalização pode-se tornar uma alternativa. “O Fomerco se posiciona contra as tentativas de golpe e o atropelo dos setores do Judiciário, é a favor do combate à corrupção e apoia o Estado de Direito.”

“Temos que nos manifestar, porque a sociedade brasileira está passando por um momento muito difícil e se não encontrarmos rapidamente uma solução democrática que respeite as leis, podemos cair na pior das ditaduras, pois não há ditadura pior do que a do Judiciário e temos que estar preparados para isso”, afirma.

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