Presidenta grampeada

Grampo telefônico causa perplexidade e brigas no Congresso

Parlamentares discutem e causam tumulto. Base demonstra indignação com 'ruptura do Estado democrático de direito pelo juiz Sérgio Moro'. Oposição pede renúncia de Dilma

memória ebc

Sérgio Moro divulgou a gravação do Paraná e liberou o sigilo das investigações da 24ª fase da Operação Lava Jato

Brasília – O líder do Governo no Congresso, o senador José Pimentel (PT-CE), acaba de pedir que o Congresso Nacional encerre seus trabalhos do dia – tanto o Senado como a Câmara dos Deputados – para a realização de uma reunião do colégio de líderes partidários em caráter emergencial ainda na noite de hoje (16). O objetivo é discutir a gravação feita no início da tarde de um telefonema interceptado entre a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No telefonema, Dilma estaria supostamente avisando a Lula que mandaria para ele o termo de posse para que o tivesse guardado, sugerindo que poderia ser utilizado antes, “em caso de necessidade”.

O juiz Sérgio Moro, que divulgou a gravação no Paraná e liberou o sigilo das investigações da 24ª fase da Operação Lava Jato, afirmou que o telefonema sugere uma tentativa da presidenta e de Lula de obstruir os trabalhos da Justiça e usar sua posse, na Casa Civil, como pretexto para que ele passe a ter foro privilegiado. No Congresso, onde paira agora um clima de tumulto e de perplexidade, as especulações são de que Moro pode pedir a prisão do ex-presidente Lula a qualquer  momento.

Na Câmara, deputados ameaçaram trocar tapas, criticaram o governo, foram rebatidos por integrantes da base aliada e, por fim, impediram a sequência dos trabalhos gritando para que a presidenta renunciasse, o que levou ao encerramento da sessão. No Senado, Pimentel afirmou que é muito grave o que aconteceu nesta tarde, que configura um estado de exceção vigente no país.

“Isso não pode acontecer. O grampeamento de uma gravação da presidenta da República é uma ofensa ao Estado democrático de direito. Este país não pode ser contrário ao que diz a nossa Constituição. Vivemos um período de ditadura brasileira e sabemos como as coisas aconteciam. Não podemos permitir que métodos tão arbitrários retornem. O juiz Sérgio Moro é um magistrado que não respeita a legislação”, ressaltou Pimentel.

Mínimo de respeito

De acordo ainda com o senador, “se houver um mínimo de respeito ao Estado democrático de direito, os parlamentares não podem ficar calados”. “Esse tipo de gravação da própria presidenta, num processo que não compete mais a esse juiz é absurdo”, acrescentou, criticando o juiz federal, responsável pelas investigações da Lava Jato na primeira instância, no Paraná.

“Outros que foram vítimas da ditadura como nós fomos, sabem que não temos o direito de rasgar a Constituição. Se hoje acontece com Dilma Rousseff, que é a presidenta da República vítima de um juiz irresponsável, amanhã seremos todos vítimas desse tipo de procedimento”, acusou o líder.

O senador Telmário Mota (PDT-RR), que falou em seguida, disse que o momento é de “perigo democrático”. De acordo com o parlamentar, “da forma como andam as coisas e as afrontas à Constituição, não estão mais assegurados os direitos de ninguém no país”. “Estamos à beira da anarquia e o Congresso tem obrigação de adotar uma providência.”

Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que em sua avaliação os dois lados têm razão e que, apesar de considerar graves os indicativos de que houve tentativa de obstrução da Justiça, não concorda com “os procedimentos que levaram uma conversa da presidenta da República a ser grampeada”.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), encerrou a sessão do Senado e ainda não se manifestou sobre se haverá ou não a reunião do colégio de líderes. Ele pede calma aos senadores e diz que sua opinião é de aguardar um pouco para que a situação fique mais serena e, só então, seja realizada qualquer reunião.

O ex-presidente Lula, que esteve em Brasília nesta quarta-feira, se encontra agora em São Paulo. A presidenta acabou de sair do Palácio do Planalto para o Palácio da Alvorada, de helicóptero, segundo informações de assessores.

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