Lula no governo

Sindicalistas oscilam entre otimismo, cautela e irritação

Metalúrgico diz aumentar expectativas em relação à retomada da economia, enquanto líder da CTB vê chance de transição. Presidente da Força ataca medida

smabc/reprodução

Rafael Marques disse que a diretoria executiva do sindicato já havia manifestado apoio à medida

São Paulo – A confirmação da ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo não teve unanimidade entre sindicalistas, cujas reações variaram do otimismo à irritação, conforme o ponto de vista político. A CUT não se manifestou oficialmente, mas o presidente de uma de suas principais entidades, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, disse ter aumentado suas expectativas “em relação à retomada da economia e do desenvolvimento, inclusive em relação a medidas como a renovação da frota de veículos”.

O dirigente recebeu ligação de Lula na manhã de hoje (16), pouco depois de ele ter aceitado integrar o governo Dilma Rousseff, como ministro-chefe da Casa Civil. Rafael contou que ainda na segunda-feira (14) ele disse ao ex-presidente que o conselho da direção executiva do sindicato havia apoiado a medida de forma unânime. O sindicalista informou ainda que Lula confirmou participação no ato de sexta-feira (18) na Avenida Paulista, contra o impeachment e pela democracia.

Já o presidente da CTB, Adilson Araújo, acredita em reviravolta na situação política e econômica. “Estamos vivendo um quadro de profunda instabilidade. Precisamos admitir que o Brasil precisa de respostas urgentes. Nesse sentido, a ida do Lula representa uma conquista importante para a classe trabalhadora, pelo que ele representa. Neste momento em que a onda conservadora se volta contra a democracia, a ida dele fortalece essa aliança pela democracia e contra o golpe”, afirmou. “Lula será um alicerce importante para a transição que todos nós conclamamos.”

Para Adilson, o ex-presidente é a pessoa certa para discutir e encaminhar a pauta do Compromisso pelo Desenvolvimento, entregue à presidenta Dilma, e representa uma chance de saída da crise – e para evitar perda de direitos sociais. “A direita apostou todas as fichas no tudo ou nada. Os mercados, as forças da direita, os conservadores advogam a tese da flexibilização e da precarização do trabalho. Quem é menos beneficiado não pode continuar sendo explorado”, acrescentou.

As manifestações de sexta-feira pelo país também têm caráter de defesa de uma agenda progressiva no continente, segundo o presidente da CTB. “A bandeira que nos une é defender a democracia contra esse intento golpista”, disse o dirigente, lembrando que a perseguição a um partido, no PT, atinge a todos. “A sepultura do PT é a sepultura da esquerda brasileira e do sonho de milhões de brasileiros.”

A UGT também não se manifestou formalmente. O presidente da central, Ricardo Patah, ainda avalia o cenário político com outros dirigentes.

Defensor do impeachment de Dilma, o presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), criticou a medida. Segundo afirmou no Facebook, Dilma “entrega de bandeja o governo para Lula”. Para ele, o ex-presidente, por sua vez, estaria “fugindo das investigações da Lava Jato”.

O Solidariedade, cujo presidente nacional é Paulinho, divulgou nota manifestando “estranheza” pela nomeação. “Perante a sociedade, o que parece é que o Palácio do Planalto está se transformando em uma fortaleza para abrigar pessoas que se encontram na condição de investigadas pela Justiça”, diz a legenda. “No nosso entendimento, a presidente Dilma, com esta atitude desesperada, almeja blindar o seu antecessor na Presidência da mira da Polícia e do juiz da esfera federal Sergio Moro, responsável pelo comando dos julgamentos dos crimes identificados na Operação Lava Jato, fazendo com que as investigações em pauta voltem a ser realizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde Lula, na qualidade de ministro, passa a ter foro privilegiado, mesmo que represente o esvaziamento de sua força presidencial, tornando-a uma governante meramente figurativa, um arremedo presidencial.”


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