Isto não é

Delcídio não confirma delação e diz que não falou com revista

Governo reage com indignação a noticiário, diz que falta credibilidade a senador e que reportagem da “IstoÉ” não tem consistência, nem lógica e nem nexo

ebc/abr

Cardozo (dir.): “Preocupação de Delcídio era uma forma de tratar dos seus próprios interesses”

Brasília – O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) afirmou em nota que não confirma conteúdo da revista IstoÉ, a respeito de uma suposta delação premiada em que acusaria a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de tentar interferir em investigações da Operação Lava Jato. Na mensagem, Delcídio afirma que “em momento algum, nem antes, nem depois da matéria”, foi procurado pela reportagem da revista.

Antes, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia negado a jornalistas durante evento no Palácio do Planalto, que o senador tenha firmado acordo de delação premiada. “Não sei nem se ele fez delação… Ele vai fazer?”, ironizou Janot.

Janot disse que não discute “ato jornalístico, que não é jurídico” e enfatizou que, em caso de vir a ser celebrado acordo de delação, caberá à Procuradoria-Geral da República tomar o depoimento de Delcídio, que tem foro privilegiado.

A nota divulgada por Delcídio, em coautoria com seu advogado, emprega o termo “não confirma”, em vez de negar. E foi recebida com reservas.

Depois de uma reunião de mais de quatro horas, entre a presidenta Dilma Rousseff e vários ministros, sobre as informações sobre a suposta delação, o ex-ministro da Justiça e agora advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, se pronunciou pelo Executivo. Cardozo afirmou que a presidenta demonstrou indignação e que, embora não haja comprovação, as denúncias consistem em “imoralidade absoluta”.

Cardozo ressaltou que “o governo não interfere nas investigações da Lava Jato nem nos julgamentos dos presos pela operação”. Acrescentou que não haveria credibilidade nas informações de Delcídio, caso elas tivessem realmente sido vazadas à revista, e que muitas fatos relatados “não batem com os fatos”, e “não demonstram lógica, nem nexo”.

“São informações fora de propósito, sem o menor cabimento, inconsistentes. Basta uma avaliação serena e coerente para comprovar isso”, acentuou Cardozo. O ministro afirmou que o senador (e líder do governo no Congresso, até ser preso) comparecia cotidianamente ao seu gabinete para tratar de questões do Senado, problemas dos seus estados e outros temas, mas nos últimos tempos sempre apelava para que fosse feito algo sobre a Lava Jato, dizia que os réus estavam sendo pressionados a fazer delação.

“Eu sempre respondia a ele que se os presos achassem isso, representassem por meio dos seus advogados. E achava que era uma preocupação republicana. Infelizmente, depois da prisão dele e da divulgação daquela fita (na qual o senador foi flagrado tramando a fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró do país, para não fazer a delação) descobri que a preocupação de Delcídio era uma forma de ele tratar dos seus próprios interesses, salvar a própria pele. E fiquei profundamente decepcionado com isso”, acusou.

Cardozo já havia dito, antes da reunião, que faltaria credibilidade para Delcídio fazer alguma acusação – e que estaria “inconformado” por não ter recebido ajuda do governo para sair da prisão. Mesmo depois de saber da divulgação da nota pelo senador, o ministro manteve as declarações. Mas reiterou que as informações e acusações divulgadas pela revista, sendo referentes da delação premiada ou não, e feitas por Delcídio ou não, não procedem.

Nem seriedade, nem isenção

Cardozo avaliou que a reportagem da Isto É não demonstra seriedade. “A denúncia de que o governo teria negociado previamente nomeações para os indicados aos tribunais superiores, como forma de articular com os indicados votos que pudessem liberar empresários, não tem fundamento. A presidenta nunca teve conversa com o senador nos jardins do Palácio da Alvorada, nunca tratou com ele sobre esse assunto e, pior, não houve qualquer discussão sobre os nomes indicados para os tribunais que mencionasse essa possibilidade de negociação”, frisou.

Em outra denúncia, de que Dilma e o próprio Cardozo teriam tentado pedir ajuda nos julgamentos da Operação Lava-Jato e o próprio Cardozo junto ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, numa reunião na cidade de Porto, em Portugal, o ex-ministro da Justiça respondeu que o objetivo do encontro foi totalmente diferente. “Já reiterei várias vezes que esse encontro foi uma questão de conciliação de agendas, já que nós três estávamos fora do país e em Portugal. E o assunto foi o aumento dos servidores do Judiciário, que se fosse aprovado provocaria um grande impacto nas contas públicas”, acentuou.

Já em relação a negociações para a indicação do ministro Marcelo Navarro, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para que ele desse parecer favorável à soltura de empresários presos na Lava Jato e até de colaboração do presidente do tribunal, Francisco Falcão, Cardozo acrescentou que, se fossem verdadeiras, “um dos dois poderia ter dado decisão monocrática liberando estes empresários, o que não aconteceu”.

Inclusive, lembrou que embora o ministro Navarro tenha dado parecer favorável num julgamento do STJ sobre a soltura de Marcelo Odebrecht, ele foi voto vencido por dois outros ministros “que foram igualmente indicados pela presidenta Dilma Rousseff”. “Se estivéssemos fazendo este tipo de articulação, é óbvio que não procuraríamos somente um ministro, mas vários outros”, disse.

José Eduardo Cardozo pontuou item por item as citações da revista Isto Éatribuídas à delação de Delcídio do Amaral. Desmentiu que tenha ido a Santa Catarina para conversar com desembargadores sobre a Lava Jato. Afirmou também que não há lógica na denúncia de que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos teria sido encerrada rapidamente para evitar denúncias de pagamentos de caixa dois feitos para a campanha da presidenta Dilma Rousseff. Até porque a campanha foi realizada em 2010 e a CPI “funcionou de junho de 2005 até o início de 2006”.

Por fim, explicou ainda que a ata do conselho administrativo da Petrobras sobre a compra da refinaria de Pasadena destaca que nem todos os integrantes do conselho participaram da reunião e tiveram acesso a todos os detalhes que homologaram tal compra, incluindo nessa lista dos que não tiveram acesso aos detalhes a então ministra Dilma Rousseff. “Como o senador pode dizer que a presidenta Dilma sabia disso na época, se temos a própria ata confirmando quem estava e quem não estava ciente?”

José Eduardo Cardozo afirmou que o senador Delcídio Amaral “era uma pessoa muito querida por vários integrantes do governo”, inclusive por ele. Mas ficou comprovado, depois da sua prisão, que é uma pessoa dada a bravatas, pelas gravações em que foi flagrado dizendo ter conversado, inclusive, com ministros do STF – o que depois negou ter acontecido.

“Fomos informados, desde a sua prisão, pela imprensa, de que ele estava inconformado por ter sido preso e ameaçando cometer atos de vingança, que ficaram no terreno da especulação. O que quero dizer aqui é que, tendo sido ou não feita esta delação premiada, as informações narradas não passam de bravatas e não podemos dizer que o senador tenha credibilidade para sustentá-las”.


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