Repercussões

Aliados dizem que Lula em ministério é ato de ‘compromisso dele com o país’

Segundo parlamentares da base, iniciativa dará mais força ao governo e ajudará a acelerar medidas econômicas. Oposição reclama e considera nomeação como 'início do terceiro governo Lula'

EBC

Florence (esq): Lula vem para ajudar. Dias: é renúncia de Dilma. Alencar (dir): resta saber se Lula está em forma

Brasília – Enquanto a capital do país aguardava com expectativa o anúncio a ser feito pelo Palácio do Planalto sobre a ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil, o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), fez uma declaração enfática esta manhã (16) sobre os motivos que levaram o governo a tomar a decisão. Florence destacou a importância que terá a presença do ex-presidente no Executivo neste momento e afirmou que considera a iniciativa “de alta envergadura, de interesse nacional”.

Acentuou que a decisão não foi tomada em função de qualquer notícia relacionada ao processo que investiga Lula por suposta ocultação de patrimônio, nem por conta do segundo trecho da delação de Delcídio do Amaral, divulgada ontem. “Não houve atropelo nem se tratou de uma consequência sobre o que foi divulgado”, disse.

“As investigações da Operação Lava Jato seguirão dentro da normalidade democrática. A decisão do governo decorre da envergadura de Lula, como presidente mais bem sucedido na história do Brasil. Ele vai contribuir profundamente para nos ajudar a sair dessa crise econômica. Temos já, medidas que sabemos que vão levar o país a superar esta fase e que precisam ser tratadas dentro das matérias do ajuste fiscal. A intenção, daqui por diante, é acelerar a votação dessas medidas no Congresso e a entrada em prática das propostas que possam ser logo executadas”, acrescentou Florence.

Convocação ao entendimento

O deputado disse ainda que a indicação do ex-presidente para a Casa Civil decorre do compromisso de Lula com o país e do atendimento, por parte dele, a uma corrente de “verdadeira convocação” que vinha sendo feita de modo informal, por vários setores da sociedade civil e da base aliada, para que ele ajudasse mais o governo.

Florence disse que a questão do foro privilegiado, ao qual Lula passará a ter direito daqui por diante, “nunca foi objeto de obstacularização das investigações, sejam elas quais forem”. E afirmou que foi durante os governos de Lula e Dilma Rousseff que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal passaram a ser respeitadas e puderam passar a trabalhar com maior autonomia – postura que, a seu ver, não deverá mudar.

A ida de Lula para o ministério, apesar da declaração de Florence, foi vista de forma crítica por parlamentares de outros partidos. O senador Álvaro Dias (PV-PR), afirmou que via na nomeação o fim do segundo mandato da presidenta Dilma Roussseff e o início do terceiro mandato do ex-presidente Lula. Ele considerou “lamentável” a decisão da presidenta. O líder do Psol na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ), adotou um ponto de vista mais ponderado, mas também fez uma avaliação crítica.

Alencar afirmou que a presidenta Dilma Rousseff “foi eleita por meio de uma eleição legítima e tem o direito de nomear ministro quem ela quiser”. O problema, segundo o parlamentar, é que, a seu ver, Lula está entrando no governo “como um craque”, com a missão de aparar várias arestas. E, em sua opinião, não sabe se Lula, pelo fato de estar sendo investigado na Operação Lava Jato “continua tão em forma para ajudar o governo”.

O deputado Henrique Fontana (PT-RS), por sua vez, disse que a ida do ex-presidente para o governo, ao contrário destas declarações, reflete um compromisso que Lula sempre teve com o país e sua intenção de ajudar a melhorar as ações do Executivo. Fontana destacou que a nomeação de Lula dará mais força política ao governo, ao PT e aos integrantes da base aliada como um todo.

Movimentos sociais reunidos na Frente Brasil Popular, que programaram manifestação nesta sexta-feira (18) em dezenas de cidades, haviam confirmado a presença do ex-presidente no ato da Avenida Paulista, em São Paulo, mas não se sabe ainda se a ida de Lula ao ministério inviabiliza a sua participação. Como a posse só deve ocorrer no início da próxima semana, a expectativa dos organizadores é que a ida de Lula seja mantida.