Petrobras

‘Quem manda nessa empresa?’, questiona representante dos petroleiros

Para integrante do Conselho de Administração da Petrobras, consequências da aprovação do projeto do pré-sal seriam 'devastadoras'. Ele critica falta de articulação do governo

Ricardo Stuckert/PR – ABr

Batismo de plataforma da Petrobras, em 2006. Estratégica para o desenvolvimento do país, estatal sofre nova ofensiva entreguista

São Paulo – O plenário do Senado deve retomar na tarde de hoje (24) a discussão do Projeto de Lei do Senado (PLS) 131, de José Serra (PSDB-SP), após a derrubada, ontem, de requerimento que pedia a retirada do regime de urgência para a tramitação. Representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Deyvid Bacelar vê consequências “devastadoras” no caso de aprovação do PLS e critica o que considera falta de articulação do governo federal – e de comando.

A votação de ontem foi exemplo disso, afirma o petroleiro. “O Serra tentou, tentou e conseguiu. Foi absurdo. Não há nenhuma articulação da governo para que sua base votasse. Há um risco, infelizmente, de o PLS ser aprovado”, diz Deyvid. Falta de articulação ou de interesse? “Não quero acreditar nisso”, afirma o representante dos trabalhadores no conselho. Mas ele critica dois representantes da bancada baiana no Senado, Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB), que se ausentaram. “Estão devendo explicações ao povo baiano e ao povo brasileiro.”

Ele também lamenta a postura, ou falta de postura, do governo em relação à política da direção da Petrobras de venda de ativos. “Infelizmente, o governo federal se afastou dos espaços decisórios da Petrobras, para sinalizar que não tem o ‘controle’. É um grande desmonte da empresa integrada de energia. Todas essas questões demandam uma ação do governo, que em algum momento deveria assumir seu papel de acionista controlador.” “Caso isso não aconteça, será um caso de “traição à sociedade brasileira e às futuras gerações”, complementa Deyvid.

O também dirigente sindical – é coordenador do Sindicato dos Petroleiros da Bahia – e funcionário concursado da Refinaria Landulpho Alves recorda uma declaração da presidenta Dilma Rousseff sinalizando um possível aporte financeiro na Petrobras. No mesmo dia, acrescenta, dois diretores da companhia (Ivan de Souza Monteiro,  diretor da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores, e Solange da Silva Guedes, de Exploração e Produção) deram entrevista para contestar essa medida, afirmando que havia geração de caixa suficiente, além da venda de ativos. “Esperamos uma reação do governo federal, porque ficamos sem entender quem manda nessa empresa.”

Para ele, impedir que a Petrobras seja a operadora única do pré-sal, como propõe o projeto de Serra, “é o primeiro passo para desmontar todo o sistema de partilha”. Deyvid lista vários motivos para defender a manutenção da empresa como única operadora, como maior possibilidade de controle das taxas de produção – evitando a exploração predatória –, evitar fraudes na medição do petróleo e dos custos (“A Petrobras tem demonstrado, nos campos do pré-sal, que tem o menor custo de extração do mundo”) e estímulo a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

O conselheiro acredita que a Operação Lava Jato fragilizou a companhia, em certa medida, e deu brecha para o avanço de outros interesses, ligados a multinacionais. “A relação há para quem tem interesse em abocanhar o pré-sal brasileiro. A empresa detém tecnologia e tem capacidade operacional e financeira”, afirma Deyvid.

Em sua conta no Twitter, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse estar “estarrecido com o vezo entreguista” de parte do Senado. “Teria o Brasil perdido a maioria no plenário do Senado para as multinacionais do petróleo? Ainda espero que não”, acrescentou.


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